Energia limpa, energia renovável ou alternativa? Quais as diferenças?


Muito se fala em energia renovável, outros preferem o termo “energia limpa”, alguns usam ainda a palavra “energia alternativa”. Qual a diferença entre elas? Vamos descobrir!

Quando se começou a falar de alimentos orgânicos, algum amigo mais preciosista (para não dizer “o chato de plantão”) observou que todos os alimentos são orgânicos (provêm de seres vivos, têm carbono em sua composição). Soja transgênica regada a agrotóxicos desde pequenininha também seria “orgânica” sob esse ponto de vista. Mas o nome pegou, convencionou-se chamar de orgânicos os produtos de origem agropecuária que não utilizam agrotóxicos, transgênicos, antibióticos, e que portanto são mais “naturais”.

Pois bem: se quisermos ser os chatões de plantão, podemos dizer que praticamente todas as fontes de energia são renováveis. Até o petróleo. Se deixarmos a matéria orgânica se decompondo por milhões e milhões de anos, eventualmente (se não formos extintos antes) poderemos renovar os estoques, certo?

Mas convencionamos chamar de renováveis as fontes de energia que não demoram eras geológicas para ser se renovarem, ou seja, as que se renovam em tempo hábil de consumo.

Não querendo ser chatos, para simplificar, usamos a forma curta (e tecnicamente menos correta) “energias” ao invés de “fontes de energia”. E falamos em energias alternativas, ou melhor ainda, energias limpas.

À parte a imprecisão científica de alguns desses termos, às vezes optamos pelas convenções mais aceitas. Porque consideramos que o que importa mesmo não é o nome que damos aos bois. O importante é que nossos bois não sejam poluentes, nem intensifiquem o processo de aquecimento global. Aliás, pensando nisso, não vamos nem criar bois, ok?

Mas mesmo assim, precisamos por os pingos nos is. Então vamos entender as diferenças entre esses termos.

Uma questão de ponto de vista

Energia limpa também pode depender do ponto de vista. Vejamos alguns exemplos:

Energia hidrelétrica

Energia hidrelétrica, gás de xisto obtido por fracking e até mesmo energia nuclear estão entre as estratégias recomendadas em um relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU, na sigla em inglês) para reduzir as emissões de GEE (gases causadores de efeito estufa).

Chato ou não, não é preciso aceitar qualquer fonte de energia como sendo limpa. Esperamos que você também não, caro leitor.

Houve um tempo em que a energia hidrelétrica era a nossa melhor aposta em sustentabilidade. Ainda não é uma má opção. Contudo, a construção de grandes centrais hidrelétricas, com inundação de enormes áreas de floresta, ameaçando fauna, flora, populações tradicionais, frequentemente com suspeitas de que seus licenciamentos ambientais não foram corretamente realizados, não pode ser considerada exatamente uma opção com baixo impacto ambiental, nem social.

Já as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), são outra história. Sem a necessidade de realizar grandes inundações para seu funcionamento, a tecnologia é uma alternativa a ser considerada, por ter menores impactos ambientais.

Gás natural

E o gás natural, é uma boa alternativa, não é? Polui menos que o petróleo… Pois é. Depende. Ou melhor, pondo os pingos nos is, não.

O gás natural encontrado no subsolo não é um recurso renovável, por assim dizer. Demorou eras para ser produzido, mas até aí, tudo bem. O que pega é que, apesar de realmente a queima do gás natural, composto principalmente de metano, emitir menos CO2 que a de derivados de petróleo, os vazamentos de metano na atmosfera quando da extração, transporte e uso do gás natural fazem com que ele não seja o mocinho das energias limpas. Está mais para vilão, pois em quantidades iguais, o metano contribui mais de 20 vezes para o aquecimento global em comparação ao dióxido de carbono. E estima-se que os vazamentos do gás extraído sejam da ordem de 3%.

Fracking

E o fracking? Ah, o fracking… suspeito de causar terremotos, a tecnologia consiste em injetar água em alta pressão, rochas, areia e outras substâncias (aparentemente, ninguém sabe exatamente todas – por vezes, nem mesmo as empresas que as usam), muitas das quais são tóxicas ou cancerígenas, para extrair o gás de xisto.

E é sujeita a alguns outros efeitos colaterais, como por exemplo quando o gás contamina aquíferos ou lençóis freáticos: torneiras flamejantes!

Energia nuclear

É capaz de ter gente que inclua energia nuclear na lista das energias limpas. Bem, supondo que um dia consigam projetar e construir uma usina de fissão nuclear à prova de acidentes, falhas humanas, levada a cabo por empresas sérias, acima de qualquer suspeita, poderiam produzir energia praticamente sem emitir GEEs e de forma segura.

Restaria “apenas” o problema do que fazer com os resíduos radioativos – que tal lançá-los no espaço sideral?

A verdade é que sim, a energia nuclear  de hoje não é a mesma de ontem e esta é uma das fontes de energia renovável mais promissoras no quesito sustentabilidade, por incrível que te possa parecer.

Conheça mais sobre a energia nuclear no canal Irradiação feito por alunos da UFRJ:

Energias eólica, solar ou fotovoltaica

Muito resumidamente esclarecemos: a energia eólica transforma vento em energia, a solar térmica usa o sol para aquecer fluidos, mas não transforma raios solares em energia elétrica através de células fotovoltaicas (o termo vem do grego foto = luz e volt = unidade que mede o potencial elétrico).

Estas são energias limpas? Podem ser mas até mesmo a energia eólica, por exemplo, tem suas desvantagens:

Ademais, como é de se imaginar, as energias solar térmica e fotovoltaica seriam inúteis em lugares de baixa incidência solar. Portanto, não basta ser eólica, solar ou hidrelétrica para ser ecologicamente correta, certo?

O x da questão

O que tiramos dessa história toda?

Os cientistas do IPCC, provavelmente diante de tantos interesses econômicos e políticos difusos, tiveram que focar especificamente na emissão de gases causadores de efeito estufa para classificar o que é energia limpa, tentando conciliar todos esses interesses, provavelmente alguns bem questionáveis.

Portanto, nem tudo que é renovável é limpo.

Cada caso é um caso, cada país tem suas características. Os termos limpo, renovável, alternativo podem dizer muito e dizer nada.

Se energia hidrelétrica é renovável porque que se produz em tempo mais rápido do que se consome, não se pode dizer energia limpa se para construir usinas hidrelétricas é preciso desviar rios, desabrigar povos nativos, causar danos ambientais, etc.

O mesmo para energia alternativa se a “alternativa” não for limpa. Tudo depende da situação.

Calcular a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera é muito mais complexo do que se imagina. Um carro elétrico, por exemplo, não emite gases na atmosfera, mas seu processo produtivo pode ser tão ou mais prejudicial à natureza dependendo de como é feito e de qual energia é usada para abastecê-lo.

Resumindo, é preciso ter cuidado com os termos sustentável, renovável, limpo, ecologicamente correto, porque em tudo pode haver um lado obscuro que nem sempre vem à tona.

Será que ficou claro? Comenta aí com a gente!

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Fonte foto: freeimages.com




Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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