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Um projeto de estudantes criou a solução, barata, sustentável e adequada ao terreno, para resolver o problema do tratamento de esgoto na comunidade do Vale Encantado que fica dentro da Floresta da Tijuca – RJ.
O biossistema – um sistema de tratamento que usa um biodigestor de pequeno porte que, como resíduo do processo, produz gás de cozinha.
A solução sustentável e barata que saneará a comunidade, protegendo o ambiente do entorno e, ainda mais, garantindo fogo para cozinhar.
A comunidade do Vale Encantado, no Alto da Boa Vista, é um enclave residencial dentro da Floresta da Tijuca – lá existem 27 casas de baixa renda: é uma favela, claro e, cujos moradores estão interessados em sanear sua comunidade já que o Poder Público não chega para tanto (é o que parece!).
Esta situação real foi encaminhada pelo líder comunitário, Otávio Barros, aos pesquisadores da PUC-Rio, Leonardo Adler e Tito Cals que, há sete anos estudavam o potencial do biodigestor em tratar esgotos em poucas residências.
E assim, a solicitação da comunidade se tornou o teste prático da pesquisa!
“Para a construção do projeto na comunidade do Vale Encantado, celebrou-se acordo de transferência de tecnologia entre a PUC-Rio e a organização não-governamental Viva Rio, que contratou um dos fundadores do OIA, Valmir Fachini, para construir biossistemas no Haiti. Naquele país já foram construídos aproximadamente 100 biossistemas. Parte da mão de obra utilizada é de moradores da própria região”, diz o coordenador Tácio de Campos, da PUC-Rio
“Biossistema é a integração das etapas anaeróbica e aeróbica do tratamento de esgoto. A biodigestão é a primeira etapa. Nela, os resíduos passam pelo biodigestor, uma câmara inteiramente fechada, onde não há entrada de oxigênio, o que favorece a proliferação de bactérias anaeróbicas que digerem aquela matéria orgânica presente nos esgotos domésticos, gerando, em contrapartida, biogás, que nada mais é do que uma combinação dos gases metano, carbônico e sulfídrico. Com a vantagem que o biogás gerado pode ser muito bem aproveitado, alimentando, por exemplo, um fogão, ou mesmo um aquecedor. “Em escalas maiores é possível gerar energia elétrica ou até combustível automotivo”, anima-se Adler.
Os resíduos sólidos devem ser retirados, uma vez ao ano e, juntados à compostagem ou mesmo, introduzidos na terra, como se faz com o esterco animal.
Os efluentes líquidos vão para a segunda fase do tratamento, a zona de raízes, para filtragem e depuração através de plantas diversas de terreno brejoso (falamos dessa técnica com o uso de bananeiras e outros, uma solução de permacultura) que se beneficiarão dos nutrientes (nitrogênio, fósforo e potássio) e transferrirão oxigênio para esses efluentes. “Também há oxigenação do material a partir do preenchimento e do transbordamento dos tanques que compõe a zona de raízes. No final, o que resta é água limpa, livre de contaminantes ou tratamento químico, que pode ser descartada sem maiores problemas”, afirma Adler.
Foto: faperj
No Vale Encantado, o biossistema está dimensionado para 150 pessoas e tem 3,40 metros de diâmetro x 1,70 de altura com uma zona de raízes proporcional (1 m2 por pessoa, no mínimo). Na falta de espaço, claro, usa-se o que se tiver disponível e, o biodigestor (um globo feito de tijolos), poderá ser enterrado no solo, sem nenhum prejuizo ao processo.
“A grande questão é que um biossistema depende de espaço. O biodigestor do Vale Encantado, dimensionado para 150 pessoas, possuiA zona de raízes pode ser dimensionada considerando 1m2 por pessoa ou usando todo o espaço disponível caso não seja possível utilizar o dimensionamento proposto pela literatura. Faltando espaço, o biodigestor pode ser completamente enterrado, o que também ajuda a manter a temperatura ideal no interior do tanque. Não há quaisquer riscos de explosões ou coisa semelhante, já que não há oxigênio e nem faíscas que possam se inflamar”, explica Adler. Na pior das hipóteses, em caso de vazamento, como o biogás é mais leve do que o ar, ele acaba se dispersando naturalmente. “Nós já fizemos testes neste sentido”, garante Adler.
Na comunidade do Vale Encantado os moradores estão aderindo ao processo – cinco casas já estão conectadas e produzindo o biogás – e está prevista uma rede que conecte mais casas ao circuito.
A produção de gás, um dos resíduos do processo, é pouca e não é determinante – 27 casas conectadas produzirão gás suficiente para 3 a 4 famílias, somente. O maior benefício é mesmo o ambiental (proteção da mata) e o socioambiental (saneamento da comunidade).
“Com o esgoto de cinco casas, conseguimos gerar uma hora de gás por dia. Quando ligarmos as 27 casas da comunidade ao sistema, acreditamos que poderemos abastecer integralmente três ou quatro famílias. Se isso não parece tanto em termos de geração de gás, temos que pensar que estamos evitando a poluição dessa região da Floresta da Tijuca. E isso, por si só, já é um ganho e tanto”, afirmam os pesquisadores.
Este modelo experimental de biossistema no Vale Encantado vem interessando a comunidade cientìfica e o projeto já foi visitado por uma delegação da Columbia University, de Nova York. “Tudo isso mostra que, com a implantação do biossistema no Vale Encantado, o que era um grande problema pode se transformar numa ótima solução”, finaliza Adler.
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Fonte: Faperj.br
Fonte foto capa: OGLOBO
Categorias: Cidades, Informar-se
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