Uma charada ao leitor: qual lugar da Terra abriga menos de 3% dos habitantes, mas conta com 12% do volume de água – 18% se considerarmos águas subterrâneas? Onde estão concentrados 11 entre os 50 rios mais caudalosos do mundo? A resposta é uma só: no Brasil.
Após essa charadinha, não tem como não pararmos para refletir em uma charada mais séria; na verdade, um mistério: como pode um país com tamanhas riquezas hídricas, estar à beira do colapso hídrico em suas maiores cidades?
Além disso, o Brasil, que detém a maior parte da bacia do Rio Amazonas – Brasil (63%), Peru (17%), Bolívia (11%), Colômbia (5,8%), Equador (2,2%), Venezuela (0,7%) e Guiana (0,2%) – conta com as maiores reservas de água doce do planeta, ou seja, como pode faltar água?
Bem a resposta é bem triste: se há uma coisa que, no Brasil, é mais abundante que água é a irresponsabilidade de políticos em lidar com a sustentabilidade, por um lado, e a ignorância de grande parte da população, para lidar com um recurso natural finito, por outro. Isso tudo se transforma em um oceano… de problemas, que explica boa parte do que estamos passando hoje, e que não deve melhorar em um futuro próximo.
30% dos municípios brasileiros não recebe água potável, sobretudo em regiões que não têm proximidade com nascentes e rios. Até 2015, apenas 29% de domicílios no Brasil contarão com saneamento básico, segundo a Agência Nacional de Águas. Tudo isso pode ajudar a lançar dejetos diretamente em rios, o que faz com que a qualidade da água, em 44% dos domicílios seja tuim ou péssima, segundo a ANA – por contaminação do próprio esgoto das casas.
Essa contaminação afeta boa parte da água subterrânea que detemos – muito mais bem distribuída que a água superficial, diga-se de passagem. Esse é um outro problema, regiões menos populosas, como a Norte, concentram mais água, que outras com maior concentração de habitantes, como o Nordeste. Isso gera um desafio adicional, que é além da captação da água, o transporte da mesma.
A falta da preservação da vegetação que cerca reservatórios e represas, leva esses pontos, que seriam de reserva estratégica de água, ao assoreamento e perda de qualidade de água.
Outro problema é a estiagem, gerada pelo agudo de diversas florestas, sobretudo a Amazônica, o que altera o regime de chuvas, em todo o território, trazendo seca ao sudeste – a pior em décadas.
A outra questão é a incapacidade do poder público em promover segurança no abastecimento da população e às atividades econômicas – como indústria e agronegócio – que também dependem de água.
E se no Sudeste a situação é ruim, no Norte e Nordeste é ainda pior, pois 4 a cada 5 pessoas precisam de melhor atendimento relacionado à água, em seu dia a dia.
Um membro da base governista no congresso, senador Jorge Viana (PT) apresenta uma indignação bastante precisa: “Parece que o Brasil foi pego de surpresa com a crise de São Paulo. A ANA tem sistemas de previsão. Ela não é capaz de mudar o curso da natureza, mas tem bases capazes de prever se vai haver uma situação mais grave de abastecimento, inclusive por conta do regime de chuva”.
E o diretor da ANA, Andreu Guillo, acrescenta, sobre a responsabilidade da população a respeito do problema: “Para a vontade política existir, é necessário o envolvimento da sociedade. Não há uma intensa mobilização social em relação a esse tema, proporcional ao risco que ele representa. Se a água não entrar na agenda política da sociedade, isso não vai virar realidade”.
A solução? Nem é nada tão complexo de se pensar: investimento em estrutura de armazenamento, distribuição e tratamento, bem como campanhas de conscientização da população já teriam ótimos efeitos.
Fonte foto: freeimages.com
Vejamos o desenrolar dessa história.
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