E se o óleo chegar em Abrolhos?


Foi divulgado, recentemente, um mapa mostrando os pontos onde o óleo de origem, ainda, desconhecida, atingiu a costa nordestina. A abrangência das manchas preocupa, sobretudo, porque o óleo já chegou a muitos locais de preservação ambiental. E o alerta, agora, é a região de Abrolhos.

A origem do petróleo e a origem do vazamento

A Petrobrás informou, na semana passada, que o óleo encontrado nas praias brasileiras é originário da Venezuela. A afirmação estaria baseada numa análise feita em cerca de 30 amostras que indicaram tratar-se de um brent (petróleo cru) oriundo de três campos venezuelanos, de acordo com o diretor de Assuntos Corporativos da Petrobras, Eberaldo Neto.

Embora o petróleo seja venezuelano, segundo a Petrobrás, a origem do vazamento é brasileira. É preciso fazer uma distinção entre a origem do petróleo e a origem do vazamento, para que não se trate o problema ambiental por um viés ideológico.

A Petrobrás admitiu não conseguir fazer a limpeza das praias brasileiras a contento.

“Fica praticamente impossível você pegar esse óleo e segurar com barreiras e outros instrumentos que a gente tem. Então, o mecanismo de captura tem sido quando a maré e a corrente jogam para a praia. Infelizmente tem sido desse jeito porque os mecanismos que a gente detém são agulha no palheiro para pegar, por conta da característica do óleo”, constatou o diretor.

Neto acredita que o óleo tenha vazado de uma área distante do continente, onde há uma bifurcação de correntes marítimas. Um navio poderia ter passado próximo à costa brasileira ou afundado, o que vem sendo investigado pela Marinha.

A Marinha diz que o volume do óleo diminuiu

O comandante de Operações Navais da Marinha, o almirante de esquadra Leonardo Puntel, disse nesse sábado que o óleo está diminuindo nas praias do Brasil, já que não estão sendo encontradas grandes manchas, mas apenas pingos de óleo, cuja retirada é mais fácil, como informou a Folha de S. Paulo.

Entretanto, Puntel admite que é necessário observar se essa tendência persistirá nos próximos dias, pois o óleo pode mover-se de forma submersa através das correntes oceânicas, dificultando a sua detecção.

A coordenadora-geral de Emergências Ambientais do Ibama, Fernanda Pirillo, confirma que a presença de óleo, no momento, é residual e que não está sendo detectada a chegada de óleo novo às praias. A especialista salienta, ainda, que a população deve manter-se afastada do produto.

Mas para os banhistas as manchas estão atingindo mais praias

Entretanto, os banhistas não corroboram a fala do almirante da Marinha. Segundo eles, novas manchas surgiram nas praias do Nordeste nesse sábado (26), segundo o Jornal Nacional.

Nas praias pernambucanas de Muro Alto, Paiva e Itapuama, o óleo fez com que os banhistas trocassem um dia de desfrute por um mutirão de limpeza.

Força-tarefa

Em Paiva, estudantes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) fizeram uma caravana para limpar a praia, utilizando boias e mantas de polipropileno para absorver o óleo que está na água. A analista em gestão ambiental Elaine Braz explica que: “Essa manta absorvente consegue retirar da lâmina d´água aproximadamente 90% do material”. Os pesquisadores recolheram, ainda, algas marinhas para análise. 

Já no Ceará, mergulhadores foram para o fundo do mar buscar o óleo, mas não encontraram vestígio dele. Em Alagoas, dois municípios declaram estado de emergência: Coruripe e Japaratinga. Na Bahia, 18 cidades foram afetadas pelo óleo.

O professor de engenharia ambiental da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Ícaro Moreira, adverte que, mesmo que não sejam visíveis as manchas de óleo nas praias, as pessoas devem evitar entrar no mar, pois os hidrocarbonetos do óleo acarretam um enorme dano à saúde humana.

E se o óleo chegar a Abrolhos?

A professora do Instituto de Geociências da UFBA Zelinda Leão lamenta por tudo o que está acontecendo e acrescenta que, se o óleo chegar a Abrolhos, no sul da Bahia, a situação será ainda pior.

Leão pesquisa os corais de Abrolhos desde a década de 1970, onde há a mais extensa bancada de corais do Atlântico Sul, o que significa que aí encontra-se a maior biodiversidade marinha dessa região oceânica, abrigando cerca de 1.300 espécies entre fauna e flora, de acordo com a BBC News Brasil.

Em Abrolhos está a principal produção pesqueira da Bahia, atividade que movimenta aproximadamente R$ 100 milhões por ano e envolve mais de 20 mil famílias.

O Parque Nacional Marinho de Abrolhos é a primeira unidade de conservação marinha do país. Foi criado em 1983 para garantir a proteção do arco de recifes costeiros.

No dia 25, o óleo chegou em grande volume a 400 km de Abrolhos, por isso o receio de que se estenda ao Parque Nacional está preocupando especialistas. 

“Estamos rezando pra não chegar lá. Toda essa riqueza, essa diversidade, só existe por causa dos corais. Alguns ali são únicos no mundo, têm muitas características particulares, que chamam a atenção desde 1832, quando Charles Darwin esteve em Abrolhos”, conta Leão.

Se o óleo chegar a Abrolhos, os corais não resistirão e isso provocará um efeito cascata no desequilíbrio do ecossistema. A pesquisadora explica que moluscos, crustáceos e peixes que se alimentam dos corais irão, também, morrer. Na ponta da cadeia estão as baleias jubarte, que, anualmente, chegam a Abrolhos para se reproduzir.

Uma rede de proteção

A ineficiência do governo federal em todas as etapas do processo de combate ao vazamento de óleo fez com que a própria população tentasse evitar que ele se espalhasse ainda mais.

Pescadores da Bahia, junto com o governo estadual, estão tentando uma solução alternativa para que o óleo não chegue até Abrolhos, informa o UOL.

Pesquisadores da UFBA resolveram se unir aos pescadores para fazerem um teste em Canavieiras, no sul da Bahia. O professor Miguel Accioly, da UFBA, explica que: “Fizemos hoje o ensaio com um certo grau de improviso, com material apreendido que estava aqui no depósito. Com as limitações que tínhamos de material, e também pela embarcação dos pescadores, o resultado nos trouxe uma situação promissora“.

A técnica empreendida pelo grupo consiste em “pescar” o óleo. Foram usadas redes para capturar as pelotas de óleo encontradas no mar.

Accioly acredita que o teste pode ajudar a evitar danos no Parque Nacional Marinho de Abrolhos, já que as redes serão usadas na superfície e em meia água, se necessário. Embora não seja possível proteger 100% da região, a pesca ajudaria bastante a reduzir o volume de óleo em mar aberto.

Não podemos deixar mais esse crime impune. Vidas inocentes pagando… É muita tristeza! (O vídeo abaixo tem cenas fortes, não assistam se tiver grande sensibilidade. Ele serve para sensibilizar as autoridades sobre a gravidade do problema).

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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