A WWF, Fundo Mundial para a Natureza, publicou recentemente a primeira avaliação global da biodiversidade florestal. O relatório, intitulado “Bellow the Canopy” (“Abaixo da Copa das Árvores”, em português), alerta para a drástica redução do número habitantes das florestas. De acordo com o chamado Índice Específico de Florestas, as populações monitoradas de aves, mamíferos, anfíbios e répteis apresentaram um declínio médio de 53% desde a década de 1970.
Nos últimos dias, as imagens dos biomas brasileiros em chamas ganharam a atenção internacional. O mundo, aliás, vem acompanhando cada episódio do nosso drama particular, que afeta o planeta inteiro e envolve: povos tradicionais ameaçados, líderes indígenas assassinados, políticas que privilegiam grupos madeireiros, um governo que nega a realidade questionando dados científicos e, agora, cidades tomadas por fumaça, inclusive, São Paulo, a mais importante metrópole da América Latina.
E o pior: esse cenário para lá de grave pode estar subdimensionado.
Se o número de animais das florestas vem sendo reduzido, imagine o colapso após o recorde de queimadas que estamos vinvenciando este ano.
O estudo da WWF aponta que a redução nas populações dos animais ocorreu mesmo nas áreas ainda preservadas, um fenômeno que os especialistas denominam de “síndrome das florestas vazias”. Assim, a avaliação da saúde da vida selvagem tradicionalmente aceita, feita a partir da medição da cobertura florestal, não seria suficiente para a leitura geral do cenário atual, quando outros fatores pressionam as espécies, tais como caça ilegal, doenças e mudança climática, além do desmatamento em si.
“Para reverter o declínio da vida selvagem e a saúde de nossas florestas, é crucial abordar as múltiplas pressões sobre as espécies florestais, incluindo desmatamento, comércio ilegal de animais selvagens, caça insustentável, espécies invasoras, mudanças climáticas e doenças”, diz Will Baldwin-Cantello, líder global em florestas da WWF. “Futuras estruturas globais e todas as futuras avaliações florestais globais devem incluir medidas diretas de biodiversidade florestal e mudança na cobertura florestal. Se não abordarmos ameaças abaixo da copa das árvores, corremos o risco de cair ainda mais na síndrome das “florestas vazias”, onde as árvores permanecem, mas grande parte da vida selvagem é perdida”.
Segundo nota publicada pela WWF Brasil, o projeto de lei 3.729 de 2004, que tramita em regime de urgência na Câmara dos Deputados, pode agravar a situação. Se aprovada, a PL modificará toda a legislação de licenciamento ambiental, permitindo a realização de obras de infraestrutura sem levar em conta estudos em relação ao impacto indireto no meio ambiente.
“Essa legislação faz o Brasil retroceder aos anos 1970, quando o governo militar abriu estradas e construiu hidrelétricas na Amazônia sem tomar qualquer cuidado socioambiental, o que levou à dizimação de povos indígenas, ao desmatamento acelerado e a muita violência “, avalia o diretor de Justiça Socioambiental do WWF-Brasil, Raul Valle. “Em função do desastre ocorrido, passamos a exigir, inclusive por pressão de financiadores internacionais, a elaboração de estudos e adoção de medidas de controle antes da aprovação de obras com grande impacto ambiental. Estamos voltando quarenta anos no tempo”, alertou.
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Categorias: Biodiversidade, Informar-se
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