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O que perfumes famosos como o Chanel n° 5 têm a ver com a nossa biodiversidade? Muita coisa! Pois agora você vai conhecer uma árvore que é tão usada pela indústria de perfume, que está em sério risco de extinção por isso.
O pau-rosa, Aniba rosaeodora Ducke, é uma árvore de grande porte, podendo atingir até 30 m de altura por 2 m de diâmetro, com tronco de casca pardo-amarelada ou avermelhada, que se desprende em grandes placas. Suas folhas, grandes e largas, podem chegar a 25cm de comprimento por até 10 cm de largura. As flores são amarelo-ferruginosas e o fruto é uma baga de coloração violáceo-escura, contendo uma semente dentro.
No Brasil, o pau-rosa é nativo da região amazônica, onde está concentrado principalmente a sua maior ocorrência.
A planta possui um notável valor econômico e foi muito explorada para a produção de óleo, do qual é extraído o linalol, uma essência largamente empregada na indústria cosmética como fixador de perfumes.
O pau-rosa certamente é a planta aromática amazônica mais conhecida e importante no comércio por causa de seus óleos essenciais, que podem ser obtidos por destilação das folhas, galhos, madeira e raízes. Porém, para a indústria de perfumes, a essência é extraída principalmente do tronco.
Tal exploração é uma das formas mais predatórias, porque é preciso cortar milhares de árvores para obtenção de pequenas quantidades de óleo, o que colocou a planta em risco de extinção.
No Brasil, o pau-rosa apresenta três grupos definidos pela coloração do tronco:
O pau-rosa tem maior ocorrência na Amazônia, nas Guianas e na bacia do Orinoco, geralmente em florestas pluviais altas, esporadicamente nas caatingas do rio Negro e raramente em matas de igapó.
Por volta dos anos 30, teve início a extração do óleo essencial de pau-rosa na Amazônia, concentrando-se na fronteira com os estados do Amazonas e Pará, estendendo-se até a década 70 para as regiões de Itacoatiara, Maués, Parintins, Santarém e nos rios Tapajós, Madeira, Negro e Solimões, até chegar em Iquitos, no Peru.
Para se ter uma ideia da exploração predatória do pau-rosa, considerando o período de 1930 a 2002, foram exportadas quase 13 mil toneladas de óleo essencial de pau-rosa.
Segundo o pesquisador da Embrapa, o engenheiro agrônomo Alfredo Ningo Oyania Homma, é necessário uma tonelada de tora para produzir cerca de 10 kg de óleo essencial de pau-rosa, o que pode significar que, estimando-se a distribuição média de uma árvore para cada cinco hectares e que, no mínimo, 825 mil árvores foram abatidas, pode-se concluir que mais de 4 milhões de hectares de matas foram explorados.
Por causa do uso indiscriminado e falta de manejo adequado, o pau-rosa vem sofrendo uma erosão genética e destruição de suas populações naturais, por isso foi incluído pelo IBAMA na Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção.
Também é classificada pela RedList/IUCN na categoria Ameaçada, critério “em perigo”.
Atualmente, há risco de desaparecimento total da espécie na região amazônica.
O pau-rosa foi amplamente explorado, de forma predatória, desde o início do século e, como consequência, teve uma redução drástica de sua população.
E com isso, o óleo linalol, essencial na indústria de perfumaria de âmbitos nacional e internacional, tornou-se um produto de grande procura e baixa oferta.
Até a década de 1960, a utilização do óleo essencial de pau-rosa foi distribuído essencialmente para a indústria de sabonetes e de perfumaria, como fixadora de perfumes.
Porém, a escassez da matéria-prima devido à exploração desordenada, fez com que seu uso ficasse restrito à quem pudesse pagar, ou seja, grandes perfumarias de destaque internacional, como por exemplo, o perfume Chanel n° 5, criado na década de 1920 pela estilista Gabrielle Chanel, cuja fama contribuiu para a escassez do óleo linalol.
Atualmente, uma grande parcela da indústria de perfumaria precisou se adaptar e fazer uso de outras alternativas, como fixadores sintéticos ou derivados de outras plantas.
Infelizmente a exploração predatória colocou o pau-rosa na lista de espécies nativas em extinção, trazendo enorme prejuízo para o bioma e também para a economia rural da região.
Para um melhor aproveitamento econômico para o setor produtivo e de cultivo, seria necessário, primeiro, a promoção da recuperação de áreas desmatadas na Amazônia, investindo numa retaguarda apropriada através de um eficiente plano de manejo que permitisse o retorno da exploração das espécies na região que, economicamente, é extremamente vantajosa para a população local.
Entre as sugestões, pesquisadores da Embrapa mencionam:
Outros desafios apontados pelos pesquisadores são a utilização de ferramentas avançadas da engenharia genética para aumentar produtividade, acelerar o crescimento da planta, reduzir custos de plantio e até, quem sabe, produzir uma espécie de pau-rosa de baixo porte somente para coleta de folhas e ramos.
Essa seria uma excelente alternativa, onde não seja preciso cortar a árvore inteira, mas somente galhos e folhas.
Investimentos financeiros e assistências técnica e científica aos produtores rurais também foram apontados como boas alternativas para o desenvolvimento dos plantios de pau-rosa na Amazônia, como fonte geradora de renda e emprego para a população local.
Somente a partir da década de 90, o óleo essencial obtido do pau-rosa e a sua presença em perfumes finos passa a ser questionada pelo seu aspecto ambiental, principalmente quanto à forma de extração, absolutamente predatória.
Esse processo de esgotamento da planta, fez com que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama – editasse a Portaria 1198/1998 que regulamentou exploração, industrialização e comercialização do pau-rosa no estado do Amazonas, indicando quantidade de abate de árvores por metro cúbico e impondo às empresas que industrializam pau-rosa a implementar plantios equivalentes ao consumo anual.
Atualmente, apesar da grande procura de óleo essencial de pau-rosa, existem apenas 7 destilarias em funcionamento no estado do Amazonas, e a extração é efetuada em terras públicas deste estado, sobretudo na bacia dos rios Jatapu e Nhamundá, e do alto rio Trombetas, no estado do Pará. Entre os anos 60 a 80, havia mais de 50 indústrias de beneficiamento do óleo.
Como alternativa para a preservação da espécie, pesquisadores recomendam o uso e o desenvolvimento de materiais sintéticos, vez que a redução na intensidade de extração pode ajudar na regeneração parcial da espécie.
Outra alternativa vem da sacaca, planta medicinal e aromática, típica da Amazônia, hoje produzida em larga escala e que poderá vir a substituir o pau-rosa na produção do linalol. A pesquisa está sendo desenvolvida pela Embrapa Amazônia Ocidental.
No caso da sacaca o óleo é retirado das folhas, alternativa considerada ecologicamente correta.
Segundo o pesquisador Antônio Franco, da Embrapa Amazônia Ocidental em Manaus, responsável pelo estudo, outra vantagem é que o óleo da sacaca possui princípios ativos, também em estudo, contra a malária, hepatite, cirrose e colesterol alto, servindo ainda em dietas de emagrecimento.
Outra alternativa buscada para preservação da espécie é a cultura in vitro. Dada a dificuldade de germinação, a Embrapa e várias Universidades vêm desenvolvendo técnicas de germinação in vitro para garantia do plantio e sustentabilidade da recuperação das matas e da espécie.
Da China, vem outra alternativa na busca de substituto para o pau-rosa, através de imensos plantios de árvores de cânfora (Cinnamomum camphora), na província de Xiamen. Destas árvores, os chineses vêm conseguindo grandes resultados, visando um mercado atual de 30.000 toneladas de óleo linalol.
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Fonte foto: Universo Donna
Categorias: Biodiversidade
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