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Os insetos vêm desaparecendo em um ritmo vertiginoso. O maior estudo global sobre essas criaturas mostrou acentuada redução no número de insetos, sendo que na Europa isto tem ocorrido de forma mais acelerada.
Nos últimos anos, foram publicados vários estudos mostrando declínios dramáticos no número de insetos ao longo do tempo. A redução mais proeminente diz respeito às reservas naturais da Alemanha Ocidental, com declínios notáveis de insetos voadores (queda > de 75% ao longo de 27 anos). Isso foi publicado em 2017 e provocou um alarde na mídia, sendo anunciado como um “apocalipse de insetos”. Desde então, houve várias publicações em diferentes lugares do mundo, mas nenhum estudo havia feito uma combinação dos dados disponíveis para avaliar a gravidade da situação.
Os números de redução dos insetos pesquisados pelos cientistas são realmente preocupantes. Um desses estudos foi publicado na revista Science, trazendo uma análise que aponta que desde 1990, perdemos um quarto dos insetos. As únicas exceções são os locais de água doce, onde houve um aumento de 11% a cada década, após a remediação de rios e lagos poluídos (recuperação ambiental). No entanto, este grupo representa apenas cerca de 10% das espécies e não diz respeito aos insetos polinizadores.
Esta pesquisa foi conduzida pelos Centro Alemão de Pesquisa Integrada em Biodiversidade (iDiv), Universidade de Leipzig (UL) e Universidade Martin Luther de Halle-Wittenberg (MLU) e esclarece algumas dúvidas sobre o declínio dos insetos.
A equipe internacional de cientistas colaborou na compilação de dados de 166 pesquisas de longo prazo, realizadas em 1.676 locais em todo o mundo, entre 1925 e 2018, para estudar as tendências no aumento de insetos (número de indivíduos, não espécies). A análise revelou uma alta variação nas tendências, mesmo entre áreas próximas.
As áreas menos afetadas pela ação humana mostram menos prejuízos à vida dos insetos. Em países onde muitas investigações de insetos foram conduzidas, como Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos, em algumas regiões houve redução de insetos, enquanto outros locais até próximos, indicaram que não ocorreram nem diminuição nem aumento.
As tendências apontadas nessa compilação mostrou que o número de insetos está em grande declínio. Em média, há uma queda global de 0,92% ao ano, o que se traduz em aproximadamente 24% em 30 anos. Por isso, esses resultados são considerados preocupantes.
“0,92% pode não parecer muito, mas, na realidade, significa 24% menos insetos em 30 anos e 50% menos em 75 anos de forma silenciosa, não percebemos isso de ano para ano. É como voltar ao lugar em que você cresceu, é apenas porque você não está lá há anos que, de repente, percebe o quanto mudou, e muitas vezes não para melhor”- disse o autor da pesquisa, dr. Roel van Klink, iDiv e cientista da UL.
O declínio de insetos tem sido mais forte em partes dos Estados Unidos (Oeste e Centro-Oeste) e na Europa, particularmente na Alemanha. Para a Europa em geral, as tendências se tornaram em média, mais negativas ao longo do tempo, com as quedas mais acentuadas desde 2005.
Nesse estudo, os pesquisadores descobriram que mais do que nunca há menos insetos vivendo na grama e no solo. Em contrapartida, o número de insetos que vivem em árvores permaneceu substancialmente inalterado.
Ultimamente, fala-se em “fenômeno do para-brisa“, na percepção do fato de que há menos insetos nos para-brisas de automóveis do que algumas décadas atrás. O novo estudo confirma essa observação, conforme explicado por um dos co-autores, Jonathan Chase, professor de iDiv e MLU:
“Muitos insetos podem voar, e são eles que aparecem mortos pelos pára-brisas dos carros. Nossa análise mostra que os insetos voadores realmente diminuíram em média. No entanto, a maioria deles é menos visível porque vive no solo, na folhagem das árvores ou na água”.
O resultado dessa pesquisa mostrou-se mais positivo para insetos que vivem parte da vida na água, como mosquitos que tiveram um aumento médio anual de 1,08%, equivalente a 38% em 30 anos. Essa tendência positiva tem sido particularmente forte no norte da Europa, no oeste dos Estados Unidos e desde o início dos anos 90 na Rússia. Para Jonathan Chase, este é um bom sinal:
“Esses números mostram que podemos reverter essas tendências negativas. Nos últimos 50 anos, várias medidas foram tomadas para limpar nossos rios e lagos poluídos em muitos lugares do mundo. Isso pode ter permitido a recuperação de muitas populações de insetos de água doce”.
Não é fácil identificar todas as causas da redução de insetos, mas certamente a destruição dos habitats naturais deles, em particular através da urbanização, é um dos fatores relacionados ao declínio desses seres. O mesmo se dá por conta da devastação de áreas florestais para a criação de pastos e o uso de agrotóxicos na agricultura.
Que essas constatações possam ser direcionadas para medidas de preservação das áreas onde ocorrem a diminuição das populações de insetos. Afinal, cada criatura tem o seu papel e sua função na natureza. Preservá-los, sem distinção, é contribuir para o equilíbrio da biodiversidade.
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Categorias: Biodiversidade, Informar-se
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