Um guia, com fotos e dados sobre as serpentes do bioma Cerrado foi editado recentemente. E qual a importância disso? Para quê você, ou eu, queremos saber quais são as serpentes (ahg, cobras!) que habitam nesse ecossistema tão longe de nós?
Pois é, o cerrado é o segundo maior bioma brasileiro e também, o segundo da América do Sul. Já foi imenso de grande mas, de uns tempos para cá, com o avanço da soja e outras culturas do tipo, vem diminuindo a olhos vistos. Espalhava-se por toda a porção interior do nosso Brasil, exceptuando-se as áreas de Mata Atlântica, mais litorâneas, da Floresta Amazônica, lá para o norte, dos Campos do Sul ou Pampas e, da Caatinga nordestina.
Atualmente, o cerrado brasileiro ainda cobre 23% do território nacional, distribuído assim: Distrito Federal (100%) e boa parte de Goiás (97%), de Tocantins (91%), do Maranhão (65%), do Mato Grosso do Sul (61%) e de Minas Gerais (57%), além de cobrir áreas menores de outros seis Estados. E, importantíssimo é saber que estão no cerrado, seco e que pega fogo sozinho, a nascente das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata).
Então, você pode concluir porquê, e não só por isso, o cerrado é tão importante: tem um elevado potencial aquífero, se ele desaparecer a água também desaparecerá e, uma enorme biodiversidade – do cerrado são mais de 6,5 mil espécies de plantas já catalogadas.
Interessante também é que o cerrado, seco e afogueado, tem duas características climáticas predominantes, com vegetações distintas, claro: a savana, parte seca, de árvores retorcidas, baixas, e que precisa do fogo para rebrotar e as áreas de floresta em clima tropical quente, sub-úmido.
O bioma cerrado tem duas estações climáticas definidas, uma seca (inverno) e outra chuvosa (verão) e temperaturas médias anuais que variam entre os 22º e os 27ºC.
Geograficamente, no cerrado existem:
O guia Serpentes do Cerrado tem 185 fotos sobre 135 serpentes que habitam aquele bioma. Muitas destas vivem debaixo da terra, em galerias, assim como lagartos e outros que tais, pois, como animais de sangue frio, que não regulam sua temperatura, sofrem muito na superfície que, ora está quentíssima, ora gelada. E viver numa galeria dentro da terra equivale a estar em um ambiente com temperatura agradavelmente constante, e baixa.
E, num lamento verdadeiro, o biólogo Cristiano de Campos Nogueira, um dos pesquisadores que organizou o guia ilustrado, diz:
“Infelizmente, estamos conhecendo esse bioma à medida em que o destruímos.
A ciência está chegando atrasada. Precisamos fazer isso agora.
Alguns lugares onde recolhemos amostras já estão devastados e é difícil resgatar informação sobre a fauna de áreas assim.”
Esta é a triste realidade de um bioma tão ameaçado pela agricultura intensiva.
Algumas das serpentes encontradas no guia de Serpentes do Cerrado, estão na lista das espécies ameaçadas de extinção, como o caso da “corre-campo” (Philodryas livida), registrada no Parque Nacional da Emas, em Goiás.
Este guia ilustrado foi realizado em trabalho de campo, árduo, para recolha de fotos das espécies, busca de outras de difícil localização, como as que vivem em galerias e áreas de fogo, e identificação dos seus hábitos e características. O objetivo, mais do que simplesmente científico, foi o de criar um manual acessível para que a população e os visitantes possam usar para reconhecimento dos animais com os quais cruzam e, preferencialmente, não atentarem contra sua vida (das cobras, claro).
“Nos trabalhos de campo eu percebia que as pessoas sabiam muito pouco sobre cobras. Mesmo quem mora na região, que vive no meio do mato, pesca, colhe frutas, há um desconhecimento muito grande, um preconceito”, explica Nogueira.
“Precisamos conhecer o Brasil. A diversidade biológica é muito grande e só estamos conhecendo à medida que estamos perdendo, é uma corrida contra o tempo. Temos que fazer a população conhecer isso antes que desapareça“, diz Cristiano Nogueira.
O guia ilustrado foi publicado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a WWF-Brasil.
Ah, e porquê você, eu, todos nós, devemos nos interessar pelo cerrado? Bem, porque se o cerrado morrer, ou as serpentes que lá habitam deixarem de existir, seremos alvos, nós, os humanos, de uma perda significativa em riqueza natural, fonte da nossa água abundante no continente sul americano e numa imensidão de plantas medicinais. Também sofreremos com o incremento das agruras climáticas. E, lembre-se, a soja lá plantada não é para alimentação humana – é para engordar animais, vaca, porco, etc, que vão engordar (entenda, enriquecer) também os mercados de carne para benefício de poucos.
A agricultura intensiva no cerrado não produz alimentos, só grãos para ração, que depois virarão carne gorda, pouco saudável e uma quantidade enorme de metano para a atmosfera. Essa é uma boa razão para você se interessar pelo cerrado, eu acho!
Leia mais:
Neste link, O ECO, você poderá ver algumas fotos com as descrições de algumas espécies presentes no guia Serpentes do Cerrado.
E neste link, da Holos Editora, você poderá comprar o guia.
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