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Talvez seja um sonho da maioria ser imortal, ou melhor, a-mortal. O Homo deus (sucessor do Homo sapiens) vem trabalhando há tempos no intuito de controlar a natureza de todas as maneiras, assim, no limiar entre ciência e ficção científica surge a possibilidade de congelar corpos até que a ciência um dia encontre uma forma de dar-lhes vida novamente. Estamos falando da criopreservação.
A criopreservação é uma técnica que preserva células, tecidos e órgãos a temperaturas muito baixas, utilizando nitrogênio líquido para manter as amostras a cerca de -196°C, interrompendo todos os processos biológicos e mantendo a viabilidade das células por longos períodos. É usada na medicina reprodutiva, bancos de sangue, pesquisa científica e conservação de espécies.
Mantendo um organismo intacto mas dormente, a técnica promete dar uma nova chance de vida, uma vida eterna ou, pelo menos, a esperança de reviver no futuro.
Para o Homo deus, é como se a morte tivesse se tornado apenas um problema técnico, o qual a ciência um dia poderia resolver. Por isso, não é de se surpreender que 400 pessoas estejam na lista de espera para terem seus corpos imersos em nitrogênio líquido, na esperança de um dia serem reanimadas. É isso o que acontece na pequena aldeia de Rafz, no cantão de Zurique, Suíça, onde a start-up Tomorrow Biostasis se empenha em “construir um mundo onde as pessoas possam escolher quanto tempo viver, independentemente de sua localização, identidade ou situação financeira”. Em outras palavras, a empresa oferece serviços de criopreservação.
A ideia da criopreservação remonta à década de 1960, quando Robert Ettinger, um professor de Michigan, popularizou o conceito com seu livro “The Prospect of Immortality”. Ettinger acreditava que a morte poderia ser um processo reversível, desde que os corpos fossem preservados adequadamente até que a ciência médica alcançasse avanços significativos. Ele fundou o Cryonics Institute em Michigan, onde ele, sua mãe e suas duas esposas estão atualmente preservadas em tanques de metal a -196°C.
A técnica de criopreservação envolve várias etapas delicadas e complexas. Após a morte clínica e legal, o corpo é rapidamente embalado em gelo e transportado para as instalações de criopreservação. Lá, o sangue é drenado e substituído por uma mistura de anticongelante e produtos químicos para preservação de órgãos, um processo conhecido como vitrificação. O objetivo é evitar a formação de cristais de gelo que possam danificar os tecidos. Em seguida, o corpo é imerso em nitrogênio líquido a -196°C, onde permanecerá até que a reanimação seja tecnicamente viável.
A empresa Tomorrow Biostasis, localizada na Suíça, é uma das principais entidades na Europa a oferecer serviços de criopreservação, mas apesar das promessas de vida eterna, a criopreservação enfrenta inúmeros desafios científicos. A vitrificação, por exemplo, pode causar fraturas nos tecidos, e a infiltração de anticongelante no cérebro, um tecido extremamente denso, é um processo repleto de dificuldades. Clive Coen, professor de neurociência do King’s College London, critica a ideia:
“O principal problema é que o cérebro é um tecido extremamente denso. A ideia de poder infiltrar algum tipo de anticongelante e proteger os tecidos é ridícula. A vitrificação corre o risco de quebrar membranas e danificar conexões neuronais”.
Os custos para a criopreservação variam de 28.000 a 200.000 dólares, normalmente financiados por seguros de vida. A Tomorrow Biostasis oferece pacotes que incluem a preservação do corpo inteiro ou apenas do cérebro, com preços diferentes.
Além dos desafios técnicos e financeiros, a criopreservação levanta sobretudo questões éticas. A incerteza sobre se um corpo congelado pode um dia ser reanimado e a qualidade de vida que um indivíduo poderia ter após a reanimação são as principais preocupações.
Enquanto a criopreservação é vista por muitos como uma aposta de ficção científica, para outros, representa uma oportunidade de desafiar os limites da vida e da morte. Emil Kendziorra, fundador da Tomorrow Biostasis, reconhece que pode levar séculos até que a reanimação e o rejuvenescimento humanos sejam possíveis, mas considera isso um risco que vale a pena. No entanto, até que a ciência alcance um ponto em que a reanimação seja viável, a criopreservação já é um mercado que capitaliza a vida após a morte.
Embora toda essa ideia pareça uma grande novidade para alguns, na verdade ela é bem conhecida para quem leu a trilogia de Yuval Noah Harari, onde com muita propriedade o historiador denomina o sapiens de hoje como Homo deus, aquele cujos limites de vida e de morte se colocam como questão de tempo, restando aguardar se, de fato, um dia seremos a-mortais e viveremos nesse corpo o quanto quisermos. O futuro é hoje e está sendo capitalizado por sonhos de soberba humana: o homem-deus!
Fonte e foto: Fanpage
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Categorias: Sociedade
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