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Você já parou pra pensar que os aviões podem colidir com as aves quando estão no céu? Pois é, isso infelizmente acontece. E não é pouco.
Somente no Brasil, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) registra mais de 2 mil casos por ano.
O risco que esses eventos significam tanto para o impacto sobre a flora quanto para a segurança dos voos é preocupante. Mas, na prática, só um lado importa. É o que afirma a bióloga e diretora da World Birdstrike Association (WBA), Mariane Biz:
“Vejo que as pesquisas são bem mais voltadas para a segurança das operações. Poucas citam o impacto sobre a fauna ou citam apenas marginalmente.
Infelizmente, o setor se preocupa com esses casos principalmente por causa da segurança de voo e dos prejuízos financeiros que causam”.
Esse e outros impactos negativos do tráfego de aviões sobre a fauna silvestre são pouco estudados. As espécies atingidas em colisões com aviões não são de “relevante interesse ecológico” por serem consideradas “comuns“.
O último Anuário de Risco de Fauna, publicado em 2021 com dados do Sistema de Gerenciamento de Risco Aviário (Sigra), indicou que em 2020 foram reportadas 2.145 colisões entre aeronaves e animais no Brasil.
O Sigra é um banco de dados gerenciado pelo Cenipa (órgão do Comando da Aeronáutica) que é abastecido por informações técnicas sobre avistamentos de fauna, quase colisões e colisões entre aeronaves e animais (essas informações podem ser fornecidas por qualquer pessoa).
Mas a realidade é alarmante: além das subnotificações de colisões com animais (nem todas as colisões são presenciadas ou têm dados enviados ao sistema), 47% dos registros no Sigra do Cenipa não apontam a identificação da espécie do animal envolvido.
Biz alerta:
“Será que na situação atual do mundo, à beira do precipício em relação aos seus limites planetários, podemos ignorar as chamadas ‘espécies comuns‘?”.
Segundo a bióloga, quando o índice de morte da fauna é altíssimo, pode-se considerar que para cada evento registrado há um espécime morto.
O histórico de dados do Sigra indica um expressivo aumento de colisões.
Em 1996 (primeira contagem divulgada no Anuário), registrou-se 127 colisões com animais para uma frota nacional de 9.768 aeronaves.
A maior quantidade já registrada foi a de 2019, 2.851 casos para uma frota de 16.554 veículos.
De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), além do crescimento do número de aeronaves, a maior quantidade de colisões com animais pode ser explicada pela:
No Brasil, de acordo com o Anuário de Risco de Fauna
Segundo a Anac, o Regulamento Brasileiro da Aviação Civil – RBAC 153 possui uma parte específica que trata da questão de colisões entre aeronaves e animais, chamada Gerenciamento do Risco da Fauna.
O documento lista uma série de medidas para reduzir a possibilidade de acidentes envolvendo animais silvestres, visando, primariamente, a segurança das operações aéreas e deixando claro que a fauna é o elemento gerador de risco.
De acordo com os dados do Sigra, entre 2011 e 2020, mais de 90% das espécies identificadas e com registro no envolvimento em colisões são aves.
Para Biz, as pesquisas acadêmicas no Brasil sobre esse tema são escassas.
As aves mais comuns são:
Um dos principais impactos negativos promovidos pela aviação sobre os animais silvestres é a poluição sonora. O alto nível de emissão de ruídos emitido pelos aviões gera consequências nas aves que vivem perto de aeroportos.
Segundo uma pesquisa feita pela bióloga Renata Alquezar em três aeroportos do Brasil, muitos ficam localizados próximo e até mesmo dentro de Unidades de Conservação.
Nessas áreas, há a presença de animais de espécies de médio e grande porte, como:
O impacto dessa poluição sonora (por falta de pesquisas na área) nesses animais é desconhecido.
A bióloga afirma:
“O Brasil não tem nada na legislação que seja específico sobre ruído, fauna e aeroportos (relativo à conservação). Seria muito necessário estabelecer esses valores, como níveis de ruído aceitáveis para unidades de conservação, por exemplo”.
Leia mais:
Além disso, Alquezar fez comparações entre aves que vivem nos aeroportos (ambientes perturbados) e as que habitam áreas com ecossistemas conservados a distâncias de 8 a 17 quilômetros (ambientes não perturbados) da movimentação das aeronaves.
Renata constata:
“Nossos dados mostraram perdas de diversidade nos locais afetados pelos aeroportos”.
Outra alteração percebida por Alquezar envolveu o canto de cinco espécies de pássaros.
A pesquisadora analisou a vocalização de 15 espécies e descobriu que:
Por fim, Alquezar também analisou a quantidade do hormônio corticosterona nas asas de 821 aves de 19 espécies que vivem na região dos 3 aeroportos estudados (DF, SP, BA).
A concentração dessa substância serve para verificar o nível de estresse em aves.
Em quatro das espécies trabalhadas na pesquisa houve alterações:
O aumento do nível de corticosterona pode gerar uma facilitação na ocorrência de infecções parasitárias e na diminuição do tempo de vida na natureza. Já a redução do hormônio pode levar a problemas reprodutivos.
Em ambos os casos, os animais estão expostos a estresse crônico.
Comprovadamente, o tráfego de aeronaves prejudica e muito a flora. Pedimos que os gestores desse meio de transporte no país planejem e executem projetos para salvar nossas aves silvestres, com enfoque na conservação e bem-estar dos animais.
Leia AQUI a reportagem completa de Dimas Marques para o Mongabay.
Quando o que conta são os prejuízos financeiros, percebemos que a maior pandemia é o dinheiro.
Quanto vale uma vida?
Fonte: mongabay
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Categorias: Animais
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