Félicette: a triste história da gata lançada no espaço


Em outubro, temos um triste aniversário. Já ouviu falar de Félicette, a primeira gata lançada ao espaço?

Neste conteúdo será contado como foi este cruel experimento e seu triste desfecho. Infelizmente, a experimentação com animais tem sido usada até para investigar o universo e para avançar na corrida espacial.

Saiba mais, com as informações a seguir.

Como Félicette foi parar no espaço

Antes de ser usada neste experimento, Félicette vivia nas ruas de Paris.

Essa gata frajola (preta e branca) foi retirada das ruas e submetida a uma seleção junto com outros 13 gatos que passaram por treinamentos e vários testes, durante 2 meses, para escolherem quais deles seriam usados no experimento espacial.

Teste

Um dos testes consistiu em colocar os gatos para girar em uma centrífuga, simulando as Forças-g (aceleração gravitacional) de decolagem e reentrada.

Seleção

Em 17 de outubro de 1963, 6 finalistas felinos foram selecionados como candidatos para o voo.

Dos 6, Félicette foi a que teve o azar de ser escolhida como a melhor, devido ao seu temperamento dócil, comportamento calmo e peso adequado para caber na gaiola do lançamento.

A gata Félicette foi a escolhida para fazer parte do programa espacial da França, que lançou o primeiro gato em um foguete para o espaço.

Para essa missão ela foi designada como C341 (o nome Félicette foi dado posteriormente)

Para prepará-la para essa viagem espacial, foram implantados eletrodos em seu cérebro e ela foi submetida a um treinamento específico para gatos, que incluía confinamento em contêiner, a fim de experimentar e suportar o plano de contenção.

Eletrodos foram anexados a sua perna dianteira esquerda e traseira direita para monitorar a atividade cardíaca.

Dois eletrodos foram colados a uma perna dianteira para que os impulsos elétricos pudessem ser controlados durante o voo.

Nove eletrodos foram implantados em seu crânio: dois no seio frontal, um na área somática, dois no hipocampo ventral, dois na área reticular e dois no córtex de associação

Dois microfones, um no peito e outro no nariz, monitoravam sua respiração, dentro do foguete.

Lançamento do foguete

Em 18 de outubro de 1963, a gata subiu ao espaço a bordo de um foguete Véronique, a partir de um campo argelino do deserto do Saara.

Como foi o voo

O voo durou 15 minutos e alcançou 160 quilômetros de altitude.

Antes do lançamento do pára-quedas, o giro e a vibração no cone da cápsula da aeronave causaram 7g de aceleração.

Durante o voo, o motor do foguete queimou por 42 segundos na subida e Félicette experimentou 9,5g de aceleração.

O Retorno de Félicette

Treze minutos após a decolagem, a cápsula em forma de cone pousou, deixando Félicette pendurada de cabeça para baixo com o traseiro para cima, até que um helicóptero chegou e ela foi resgatada.

Com Félicette de volta à Terra, a França informou ao mundo sobre seu voo e, então, a gata se tornou conhecida.

Após esse acontecimento, ela começou a ser referida como Félix por parecer com o famoso gato de desenho animado com esse nome.

Como se tratava de uma gata, foi dado o nome de Félicette.

Dados coletados durante o voo espacial

Foto de Felicette (autor não mencionado)/Wikipedia

Foto de Felicette (autor não mencionado)/Wikipedia

Durante a trajetória espacial de Félicette, foram coletados e registrados dados desde o lançamento da nave até o retorno de Félicette à Terra,

Choques elétricos foram administrados nela a uma taxa maior do que a pretendida.

Ela ficou vigilante durante a fase de subida.

Durante a fase de microgravidade, sua frequência cardíaca diminuiu e sua respiração tornou-se normal.

A reentrada turbulenta fez com que sua frequência cardíaca aumentasse.

Cobaia de laboratório

Félicette retornou com vida desta missão espacial, porém, depois de seu retorno, os cientistas realizaram pesquisas e experimentos em laboratório para estudar os efeitos da falta de gravidade do espaço, à qual a gata fora submetida.

Sacrificada para autópsia

Durante 3 meses, ela foi estudada até ser sacrificada para que os pesquisadores removessem os eletrodos e investigassem também os efeitos da falta de gravidade em seu cérebro.

Foi feita uma autópsia para ver como seu cérebro e corpo haviam sido afetados pelo voo orbital.

Mais tarde, os cientistas admitiram que não aprenderam nada de útil com a autópsia.

Homenagem In Memorian a Félicette

Em 2017, o publicitário inglês e apaixonado por gatos, Matthew Serge Guy, lançou uma campanha de arrecadação para fazer uma estátua in memorian à  Félicette.

Na ocasião, ele escreveu na plataforma de financiamento coletivo, Kickstarter:

“Outros animais como Laika, cachorro, e Ham, chimpanzé, têm monumentos, enquanto o primeiro e único gato a ir ao espaço foi esquecido.

Ela merece um memorial adequado.”

Dois anos depois do início da campanha e US$ 57 mil arrecadados, foi inaugurada a estátua de Félicette: uma escultura em bronze de 1,5m, feita pela artista plástica britânica Gill Parker.

A inauguração contou com a presença dos astronautas da Agência Espacial Europeia (ESA) Helen Sharman, Paolo Nespoli e Reinhold Ewald.

A quem beneficiou esse experimento insano?

Foto: Collect Space

Foto: Collect Space

De acordo com um artigo publicado no Space em 8 de novembro de 2017, a participação de Félicette na corrida espacial foi um marco para a França, que acabava de estabelecer a terceira agência espacial civil do mundo (depois da União Soviética e dos EUA).

A missão involuntária de Félicette (pois, foi forçada a isso) foi uma ação da França para buscar destaque na corrida espacial (disputa do espaço liderada pelas potências imperialistas URSS e EUA, durante a Guerra Fria).

Os cientistas espaciais dessas potências usavam os animais a fim de entender o efeito da falta de gravidade e usar essas descobertas para os astronautas sobreviverem no espaço e avançarem na pesquisa espacial.

Outros tristes experimentos espaciais com animais

Antes e depois de Félicette ter sido lançada no espaço, outros cruéis experimentos espaciais com animais aconteceram:

Macaco Albert II, 14 de junho de 1949

Nessa data, um voo suborbital dos EUA levou o primeiro mamífero ao espaço, um macaco-rhesus chamado Albert II.

Este macaco foi lançado em espaçonave que subiu a uma altitude que alcançou o espaço, sem ter velocidade suficiente para entrar em órbita e com isso acabou morrendo no impacto do retorno à Terra.

Cadela Laika, 3 de novembro de 1957

A União Soviética lançou Laika, uma cadela que antes vivia nas ruas, ao espaço na nave Sputnik 2.

Ela passou por muitas privações, antes e durante o voo e acabou morrendo no espaço, mas foi o primeiro animal a orbitar a Terra.

Como homenagem, a cadela soviética Laika tem um monumento de bronze no Centro de Treinamento de Cosmonautas.

Gato Flamengo, 1º de janeiro de 1959 – Voo cancelado

O coronel do Exército brasileiro Manuel dos Santos Lage planejou lançar um gato chamado Flamengo a bordo do foguete Félix I em 1º de janeiro de 1959 mas, para sorte do felino, o voo foi cancelado por questão ética à vida animal.

Chimpanzé Ham, 31 de janeiro de 1961

Como parte do Projeto Espacial Mercury, o chimpanzé Ham foi lançado ao espaço para um voo suborbital.

Ham se tornou o primeiro chimpanzé no espaço.

Ele retornou com vida e, após esse voo, viveu 17 anos no Zoológico Nacional em Washington D.C., vindo a falecer naturalmente em 19 de janeiro de 1983.

O chimpanzé Ham foi enterrado no Hall da Fama do Espaço Internacional no Novo México.

Rato Hector, 22 de fevereiro de 1961

A base espacial da França, no Saara, lançou um rato chamado Hector, fazendo com que a França se tornasse o terceiro país a lançar animais no espaço.

Hector teve eletrodos implantados em seu crânio para que sua atividade neurológica pudesse ser monitorada.

Mais ratos em foguetes franceses, 15 e 18 de outubro de 1961

Após o rato Hector, mais 2 ratos foram lançados sucessivamente, cada um em uma missão, dentro de um foguete.

Chimpanzé Enos, 29 de novembro de 1961

Enos foi um  chimpanzé que foi usado em um programa espacial norte-americano e lançado ao espaço em uma espaçonave Mercury-Atlas 3, que alcançou a órbita da Terra.

Segundo a Agência Brasil, ele retornou depois de 3 horas, 20 minutos e 59 segundos no espaço.

Enos foi resgatado com ferimentos leves e acompanhado por especialistas até morrer, em consequência de disenteria em novembro do ano seguinte, o que, segundo os cientistas, não tinha ligação com sua ida ao espaço.

Uso de gatos em missões espaciais francesas

Após o uso de ratos em experimentos espaciais, os cientistas franceses quiseram usar mamíferos maiores e escolheram os gatos, pois já tinham uma quantidade significativa de dados neurológicos sobre eles.

Nessa parte entrou desafortunadamente a Félicette, que já sabemos a história.

Segundo gato lançado pela França, em 24 de outubro de 1963

Como dito antes, além de Féliciette, outros 13 gatos passaram por treinamento e testes.

Depois dela, um segundo gato foi lançado ao espaço pelos franceses, porém, com um trágico final.

Um parafuso explosivo que liberaria o foguete da plataforma de lançamento não funcionou, fazendo com que o foguete fosse lançado em um ângulo extremo.

O transponder de rádio parou de funcionar na plataforma de lançamento, o que criou dificuldades para encontrar o foguete.

Um helicóptero avistou o pára-quedas, mas não conseguiu pousar, então, a agência enviou veículos terrestres que não conseguiram passar por um arame farpado.

No dia seguinte, um helicóptero foi novamente despachado e conseguiu pousar no local.

O cone da espaçonave foi fortemente danificado e o gato morreu.

Outros 12 gatos

Dos 12 gatos restantes que foram treinados para missões espaciais francesas, um deles teve um destino melhor. Trata-se  de uma gata que estava ficando mal de saúde, após a cirurgia do eletrodo, então os cientistas os removeram e a adotaram como mascote, dando-lhe o nome de Scoubidou.

Os outros nove gatos foram sacrificados no final do programa espacial.

Macacos Martine, 7 de março de 1967 e Pierette, 13 de março de 1967

A França continuou sua pesquisa de carga biológica (animal), mudando para macacos.

Os macacos lançados pelo programa espacial francês foram Martine e, 6 dias depois, Pierrette. Ambos foram recuperados com vida.

A França concluiu a pesquisa de carga biológica em nível nacional com esses voos, mas depois trabalhou em cargas biológicas em conjunto com a União Soviética na década de 1970.

Imagens e narração da história de Félicette

Rafael C P Vieira, neste vídeo do seu canal Universo Inexplicável, conta e mostra imagens da história de Félicette:

Qual o limite do progresso?

Em nome do progresso e avanço científico, seres inocentes e indefesos têm sido confinados, explorados, submetidos a torturas e mortos.

As perguntas que vem à tona depois dos relatos acima são:

Isto é mesmo progresso?

É avanço real?

Que avanço é esse que sacrifica a vida de seres inocentes em busca de poderio tecnológico ou econômico ou o que quer que seja?

É justo realizar conquistas sacrificando vidas?

Por sorte, de lá para cá, a luta em defesa dos direitos dos animais também avançou e para muita gente é inconcebível usar animais para missões espaciais ou experimentos científicos.

Deixem os animais em paz!

Fontes:

Para mais conteúdos sobre animais, veja:

Diferenças entre Animais Silvestres, Selvagens e Exóticos

Como saber se os produtos que você usa foram testados em animais

Dia Mundial dos Animais: Por que uns a gente ama, outros a gente come?

Poluição sonora: os animais são extremamente afetados pelo barulho humano

Conheça os animais mais românticos da Natureza

Youtube, pare de exibir e monetizar vídeos de caça de animais silvestres

Europa prestes a por fim à era do abate de animais para consumo de carne

Adivinha quais são os 6 animais mais fortes do planeta

Crueldade animal: 10 práticas horríveis que a China deve abolir

Países que são THE BEST (os melhores) em Bem-Estar Animal




Deise Aur

Professora, alfabetizadora, formada em História pela Universidade Santa Cecília, tem o blog A Vida nos Fala e escreve para greenMe desde 2017.


ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Compartilhe suas ideias! Deixe um comentário...