No imaginário popular, ele, na beira do rio, pula quando sente frio (ou canta, dependendo da versão da história), enquanto sua mulher, em casa, faz rendinha para o casamento. Mas, apesar da forma simpática como é retratado na cantiga infantil, o sapo-cururu costuma ser alvo de agressões humanas, baseadas em lendas como a de que ele faz xixi nos olhos de quem se aproxima ou espirra um leite venenoso.
No entanto, de acordo com um estudo publicado recentemente por cientistas do Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com pesquisadores da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, esse anfíbio tão maltratado é um poderoso aliado no combate à proliferação do escorpião-amarelo. Este, sim, é um motivo de preocupação para as autoridades de saúde, sobretudo nos meses de verão, quando as temperaturas mais quentes e a umidade maior favorecem a sua proliferação.
No estudo, publicado na revista científica Toxicon, os pesquisadores relataram que o sapo-cururu (Rhinella icterica) é um predador voraz do escorpião-amarelo, mais eficaz para combatê-lo do que outros possíveis predadores, como as galinhas – que são diurnas e, portanto não têm muitas chances de encontrarem escorpiões dando sopa por aí, uma vez que estes cultivam hábitos noturnos – ou os gambás, que vivem em árvores e são mais “desajeitados”, como explicou à Folha de São Paulo o herpetologista Carlo Jared, do Instituto Butantan, um dos integrantes da equipe que assina o artigo.
Não bastasse a eficiência como predador, o sapo-cururu parece ser totalmente imune ao veneno do escorpião-amarelo. Os cientistas injetaram no anfíbio uma dose de veneno equivalente à picada de dez escorpiões e nada aconteceu. Logo após o procedimento, para verificar se estava mesmo tudo bem, ofereceram algumas baratas ao sapo-cururu. Ele as devorou normalmente.
A descoberta da equipe pode ser a solução para um cenário preocupante. De acordo com um documento divulgado pelo Ministério da Saúde, o número de acidentes com escorpiões de todos os tipos vem aumentando a cada ano no Brasil.
Se em 2000 foram registrados apenas 12.552 casos, em 2017 esse número foi quase 10 vezes maior: um total de 124.077 casos de acidente, dos quais 143 resultaram em mortes. Em 2018, o número de casos registrados anualmente ultrapassou a marca dos 140.000.
No entanto, não basta que o sapo-cururu exerça esse importante papel ecológico. Para Jared, é preciso que haja um trabalho de educação ambiental, uma vez que, além de estar ameaçado de extinção devido às mudanças climáticas, ele ainda sofre diversas agressões.
“É um traço cultural chamar o bicho de feio, nojento. Mas isso não ajuda em nada. É muito triste quando as pessoas colocam água sanitária ou sal nas costas do sapo”, disse o herpetologista.
Depois dessas informações todas, olhando bem, até que ele é fofinho, né? ?
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Fonte foto: APqC Notícias
Categorias: Animais, Informar-se
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