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Imagina uma ilha repleta de serpentes? Para alguns pode parecer cena de filme de terror, mas se trata de um lugar incrível localizado a 35 km do litoral de São Paulo, entre as cidades de Peruíbe e Itanhaém.
Essa ilha praticamente inóspita, a não ser por sua população quase exclusiva de serpentes, tem chamado a atenção por ser habitada por uma única espécie de cobra, a jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), altamente venenosa.
A Ilha da Queimada Grande, obviamente conhecida como Ilha das Cobras, tem a segunda maior concentração da espécie por área no mundo: cerca de 45 cobras por hectare, perdendo apenas para a Ilha de Shedao, na China, informa a BBC News Brasil.
De acordo com as biólogas Karina Nunes Kasperoviczus e Selma Maria de Almeida-Santos, no final do século XIX, foi instalado pela Marinha brasileira um farol cuja manutenção era feita por faroleiros. Com medo das serpentes, o órgão ateou várias vezes fogo na mata para acabar com a população excessiva dos animais. Logo, o nome ‘Queimada Grande’ está relacionado a essas queimadas.
Segundo o pesquisador e especialista em animais peçonhentos Vidal Haddad Júnior, da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o isolamento e as condições geográficas da ilha contribuíram para as características ambientais favoráveis a uma espécie diferente de jararacas continentais.
“Ela é menor e menos pesada, para facilitar sua locomoção e a caçada diurna nas árvores. Sua cauda adquiriu capacidade preênsil (ou seja, de se agarrar a algo) e a dentição ganhou um aspecto mais curvo, para prender as aves mais facilmente e não soltá-las enquanto o veneno age”, explica Haddad Júnior.
Esse tipo de serpente vive, sobretudo, em árvores, tendo a jararaca-ilhoa desenvolvido outras características evolutivas únicas. “Sua pele se tornou mais elástica do que a de suas parentes do continente, uma vez que ela sobe em árvores”, acrescenta Otávio Marques, pesquisador e diretor do Laboratório de Ecologia e Evolução do Instituto Butantan.
A Bothrops insularis mede entre meio metro e um metro, sendo as fêmeas um pouco maiores. A fauna da ilha é escassa e a alimentação da espécie adulta consiste basicamente de aves migratórias (os pássaros residentes não são predados) e a dos filhotes consiste de pequenos lagartos, anfíbios e artrópodes, como as lacraias.
Outro aspecto interessante da espécie é ela ser vivípara (não bota ovos, mas gere a prole de forma semelhante a dos mamíferos). A fêmea dá à luz 10 filhotes durante o verão.
A jararaca-ilhoa está ameaça de extinção por causa das queimadas feitas por pescadores que desembarcam na ilha e pela biopirataria, que faz a captura ilegal da espécie. Um exemplar pode custar R$ 30 mil no mercado negro.
Desde 1984, a ilha da Queimada Grande é uma Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), seguindo o estabelecido pelo Decreto nº 91.887/1985 e pelo Decreto nº 89.336/1984 sobre as Reservas Econômicas e Áreas de Relevante Interesse Ecológico.
A Unidade de Conservação Federal é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A ilha tem acesso restrito apenas para funcionários do instituto e cientistas autorizados pelo órgão a realizarem pesquisas em um dos maiores serpentários naturais do mundo, que tem cerca de 2,5 mil cobras.
Quatro pescadores foram resgatados por um barco com mergulhadores, nesse fim de semana, após ficaram três dias num costão da Ilha da Queimada Grande. Outros dois ocupantes da embarcação que afundou estão desaparecidos. A Marinha do Brasil e o Grupamento de Bombeiros Marítimos (GBMar) estão fazendo buscas na região para encontrar os desaparecidos.
Segundo o portal Terra, os pescadores haviam saído de Santos na quarta-feira, 27, em direção ao sul, mas foram surpreendidos por uma tempestade e uma sequência de ondas altas que fizeram com que o barco de 24 metros de comprimento virasse. A embarcação começou a afundar e quatro pescadores se jogaram ao mar na tentativa de nadar até a ilha. Entretanto, os outros dois não foram vistos pelo grupo.
O grupo, sabendo da quantidade de cobras na ilha, permaneceu nas pedras do costão, alimentando-se de bananas da borda da mata e bebendo água da chuva.
Depois de três dias do naufrágio, um operador de mergulho avistou os náufragos no costão da ilha pedindo ajuda. Um a um, os pescadores foram resgatados pelo barco dos mergulhadores.
Visto que esta ilha tem acesso restrito e ademais nem seria um lugar atraente de se visitar, a não ser por pessoas muito apaixonadas por cobras ou por herpetólogos, confira no vídeo a seguir um tour virtual por esse lugar que parece esquecido no mundo.
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Categorias: Animais
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