Não somente os corais. As anêmonas-do-mar, ou seja, a casa onde os peixes-palhaços vivem, estão passando pelo processo chamado branqueamento. O peixe Nemo e seus homólogos enfrentam uma outra ameaça ligada à mudança climática.
A revelação deste fato vem de um novo estudo conduzido pelo CRIOBE, um laboratório do instituto nacional de pesquisa francês. O branqueamento das anêmonas-do-mar é uma notável consequência do aquecimento global e das águas do mar, o que reduz a fertilidade dos peixes-palhaços que vivem em comensalismo com estes seres.
As anêmonas-do-mar são parentes do coral e vivem em simbiose com algas microscópicas, que lhes dão as belas cores que as caracterizam. O peixe-palhaço protege-se dos predadores repousando-se entre os tentáculos das anêmonas-do-mar e, a cada mês, depositam seus ovos ali dentro, neste lugar protegido pois, as anêmonas são um grupo de animais sésseis, predatórios e venenosos mas, o peixe-palhaço produz um muco protetor que impede que as “células urticantes” das anêmonas-do-mar, as reconhecem como inimigo.
Infelizmente, esse equilíbrio delicado está em perigo. Para o novo estudo, os cientistas monitoraram 13 casais de peixes e algumas anêmonas-do-mar nos recifes de coral da ilha de Moorea (Polinésia Francesa), de outubro de 2015 a dezembro de 2016. O monitoramento foi realizado antes, durante e após o evento do El Niño, que em 2016 causou o aquecimento recorde do Oceano Pacífico e vários episódios de branqueamento em todo o mundo.
Segundo os cientistas, metade das anêmonas monitoradas durante este período, sofreu branqueamento e houve um declínio drástico (-73%) no número de ovos vivos de peixe-palhaço. Estes últimos foram menos frequentes e, colocar os ovos nas anêmonas nem sempre garantiam o nascimento dos pequeninos.
Ao examinar algumas amostras de sangue colhidas nos peixes-palhaços, os cientistas franceses também encontraram um forte aumento nos níveis de cortisol, o hormônio do estresse e uma significativa redução nas concentrações hormonais sexuais. O branqueamento da anêmona-do-mar é, portanto, um fator de estresse que reduz os níveis de hormônios sexuais e, consequentemente, a fertilidade dos peixes.
Cerca de 4 meses após o fim do El Nino, a saúde das anêmonas e dos peixes melhorou muito depois de as temperaturas voltarem ao normal. Mas e se o aquecimento global tivesse efeitos duradouros? Esta é a questão que agora os cientistas vão tentar responder.
Também deve ser dito que o peixe-palhaço não é um caso isolado: 12% dos peixes que vivem em águas da Polinésia Francesa dependem das anêmonas e dos corais para sobreviverem. Em casos de branqueamento prolongado, como o que atingiu a Grande Barreira de Corais entre 2016 e 2017, este equilíbrio pode estar seriamente ameaçado.
Este estudo foi publicado na Nature.
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