Cães selvagens: uma ameça às florestas brasileiras


Você sabe o que acontece quando abandonamos um cachorro? Muito mais do que você imagina! Além da consequência emocional para o animal, o meio ambiente também é afetado. Segundo uma reportagem de O Globo, cães abandonados podem representar uma ameaça à vida selvagem e colocar ainda mais em risco animais em extinção.

É o que vem acontecendo na Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro. O cão se tornou um exterminador da fauna do lugar. Vários animais silvestres têm sido caçados por cães que andam em matilhas pela floresta. A questão se tornou tão grave que o Parque Nacional da Tijuca (PNT) está fazendo um estudo sobre o problema. Segundo biólogos, o cão doméstico é o maior predador da vida silvestre no Brasil.

Isso acontece porque os cães invadem unidades de conservação e matam animais, às vezes, até maiores do que eles, como antas e veados. A pesquisadora Isadora Lessa, da Universidade de Brasília (UnB), vem investigando o impacto que os cães causam para o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), região do Cerrado.

O professor Mauro Galetti, do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), foi um dos primeiros a estudar o problema provocado por cães domésticos em florestas. Segundo ele: “O cão doméstico é o predador dominante nas áreas silvestres do Brasil. Ele não só mata diretamente quanto transmite doenças. Na reserva de Santa Genebra, no estado de São Paulo, os cães extinguiram os veados. A situação está fora de controle e não há solução à vista. Precisam ser capturados”.

Curiosamente, aquele que domesticou os cães está fazendo com que ele se torne selvagem, o ser humano, causando um desequilíbrio ambiental não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, já que esse fenômeno não é localizado.

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Um dado interessante, de acordo com os cientistas, é que grande parte dos cães caçadores tem donos, que os criam soltos. Os cães selvagens perambulam durante o dia, fora de casa, não recebendo cuidados básicos, como alimentação e medicamentos. Para agravar a situação, esses cães, geralmente, não são castrados, e reproduzem-se nas florestas, onde adotam um comportamento selvagem, já que quase não convivem com humanos. Entretanto, os pesquisadores os qualificam de semisselvagens, pois apresentam um comportamento mais agressivo por não temerem o homem, além de serem excelentes caçadores. Esta característica se deve à sua natureza, visto que pertencem à mesma espécie dos lobos, Canis lupus familiaris e Canis lupus, respectivamente.

A professora do Departamento de Ecologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenadora do Projeto de Pesquisa em Biodiversidade da Mata Atlântica Helena Bergallo adverte que sobre a gravidade do problema. “O cão é um hiperpredador porque tem uma população muito maior do que aquela que o meio ambiente pode suportar. Ele mata não apenas para se alimentar, mas por instinto. Mata e não come. Na Ilha Grande vimos um cão de coleira matar um tatu e não comer. A natureza não suporta uma pressão desse tipo. A culpa, claro, não é dos cachorros, mas de seus donos”, diz a professora.

A professora e Isadora fizeram um estudo com outros cientistas que demonstra que a predação por cães atinge 31 parques nacionais de Norte a Sul do Brasil. “Alguns são ferais. Mas a maioria é errante, tem dono. Eles formam matilhas e são uma tragédia para os mamíferos silvestres, principalmente pacas, tatus, cotias, mas pegam até macacos. E afugentam os cachorros do mato, que são tímidos e de outra espécie. Vimos cães mesmo em lugares quase inalcançáveis da mata. Só não pudemos colocar armadilhas em zonas mais próximas à Grajaú-Jacarepaguá, mas ali o risco eram bandidos, outro tipo de perigo”, explica Helena.

Outro grave problema causado pelos cães selvagens é que eles são transmissores de doenças como raiva, cinomose, leishmaniose, parvovirose, toxoplasmose, entre outras, já que não são vacinados.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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