A morte de Juma e o legado do Brasil para os Jogos Olímpicos


A morte de Juma, a onça que participou da cerimônia com a Tocha Olímpica, em Manaus, nessa segunda-feira, levanta grandes problemas, que, infelizmente, são comuns no Brasil.

O primeiro deles é a falta de consideração de que a onça é um animal selvagem e deveria ter o direito de viver em seu habitat respeitado. Acontece que isso não é garantido porque a onça necessita de extensas áreas para sobreviver, onde ela caça espécies como capivaras e jacarés. Esses locais, hoje, no Brasil são áreas de preservação, já que tanto a Amazônia quanto o Pantanal e o Cerrado são regiões ameaçadas pelo desmatamento, como parte da ação da expansão agropecuária.

No caso de animais resgatados, como Juma, a situação é ainda mais delicada, pois o animal foi retirado de seu ambiente natural. Juma foi encontrada com muito ferimentos após a sua mãe ter sido morta. É comum o Exército brasileiro, na região amazônica, resgatar animais selvagens e cuidar deles em suas bases. É aí que entra outra questão importante a ser discutida: qual é a prerrogativa que uma base do Exército tem para manter animais sob ameaça de extinção e que exigem cuidados específicos? Como esses animais são tratados? O Exército mantém várias onças em cativeiro, “adotadas” pelo órgão quando encontrados após serem vítimas de caçadores ou em cativeiros.

Não bastasse todo esse drama enfrentado por animais como Juma, outro ponto questionável é fazer da onça (um animal declarado, em 2013, pelo Ibama com perigo de extinção) o mascote do Exército, passando por sessões de “treinamento”, condenadas por biólogos e veterinários, para ser exposta em desfiles militares.

Explicação do Exército

Em nota, o Comando Militar da Amazônia (CMA) explica que Juma teria escapado do zoológico do Exército após a cerimônia olímpica. Um grupo de veterinários e militares tentou recapturá-la, mas o animal teria avançado sobre um soldado mesmo sob o efeito de tranquilizantes. “Como procedimento de segurança, visando a proteger a integridade física do militar e da equipe de tratadores, foi realizado um tiro de pistola no animal, que veio a falecer”, diz o órgão.

Segundo o site Amazônia Real, dois militares seguravam a corrente presa a Juma durante todo o evento, no qual muitas pessoas tiraram fotos com ela. A onça teria fugido logo após a exibição, possivelmente estressada, quando militares colocaram-na em uma caminhonete. A morte de Juma e todo o desconforto causado ao animal são agravados pelo fato de o Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas (Ipaam) não ter autorizado a participação de Juma no evento, o que poderá acarretar multa à corporação.

Animal silvestre

O biólogo com mestrado em comportamento animal pela Universidade de Brasília Para João Paulo Castro diz que Juma pode ter fugido após sofrer um grande estresse durante o evento. “Não é saudável nem recomendável submeter um animal a uma situação como essas, com barulho e muitas pessoas em volta”, disse ele à BBC Brasil. “Muitas vezes a onça já vive numa situação precária e estressante no cativeiro, o que é agravado num cenário de agitação”.

O biólogo diz ainda que é um erro tratar onças como animais domesticáveis, pois é preciso que vivam muitas gerações em cativeiro para que uma espécie seja habituada a conviver com humanos. Como era de se deduzir, até por um leigo, Castro afirma que o ideal é que as onças recuperadas sejam devolvidas à natureza ou levadas a refúgios, locais onde há grandes espaços para elas viverem, embora a soltura de felinos seja um processo complexo.

Há relatos de que os animais resgatados pelo Exército são bem tratados e de que a corporação realiza a função de outros órgãos. Por isso, é necessário averiguar bem o que aconteceu de fato.

Entretanto, esse triste episódio levanta questões importantes, como a destruição de ambientes naturais onde vivem os animais da nossa fauna, provocada por ações como o desmatamento; o desvio de função operado pelo Exército, ao cuidar de animais que deveriam ter um processo de recuperação assistido por profissionais e por órgão competente em protegê-los; e a mentalidade de que é bonito expor animais selvagens como se estivessem no picadeiro de um circo.

Por isso tudo, um abaixo-assinado foi criado na internet para pedir a punição dos responsáveis pela morte de Juma.

Emblemática a morte de um animal representativo da fauna brasileira ser um dos legados que o país deixa para os Jogos Olímpicos.

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Fonte foto: Jair Araújo/D24: Folha




Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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