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Escolhido para estampar a nota de 200 reais, o lobo-guará está na boca do povo e já está circulando por aí. O governo pretende estampar ainda este ano 450 milhões de unidades da nota, que é a sétima da família “real”.
Ambientalistas e defensores dos animais comemoram o fato, porque o lobo-guará vem sendo negligenciado há anos, tendo sua espécie dizimada, entrando na lista dos animais vulneráveis com alta perda populacional.
Mas agora é a vez dele, já que em 2001 o lobo-guará tinha ficado em 3° lugar numa pesquisa para escolha dos animais que iriam estampar as cédulas de R$ 2 e R$ 20 reais, tendo sido os dois mais votados então, a tartaruga-marinha e o mico-leão-dourado.
Lembrando-se daquela classificação, o Banco Central considerou a pesquisa escolheu o lobo-guará para estampar a nota mais valiosa no Brasil, a de R$ 200 reais!
Não é a primeira vez que o lobo-guará vale dinheiro. O animal já havia sido estampado na nota de 100 cruzeiros de reais, entre dezembro de 1993 e setembro de 1994, durante o governo de Itamar Franco. Mas aquela moeda fora convertida em real.
Agora que o lobo-guará está ganhando visibilidade, vamos divulgar a importância de tomar medidas urgentes para preservar esta espécie.
O lobo-guará, (Chrysocyon brachyurus) é um mamífero ovíparo, o maior canídeo presente na América do Sul (Argentina, Bolívia, Uruguai, Peru).
Medindo entre 95 e 115 cm de comprimento corporal, tem 38 a 50 cm de cauda e pesa entre 20 e 33 kg.
No Brasil, principalmente no Cerrado, concentra-se a maior porcentagem de lobos-guarás, cerca de 80% de toda a espécie. Mas estes animais também podem ser encontrados nos Pampas e na Mata Atlântica (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná).
A espécie vem perdendo parte de sua população nas últimas décadas e tem sido alvo constante de ataques, seja por destruição do seu habitat, seja pela ação de grandes produtores rurais ou invasores ilegais.
Portanto, acredita-se que o agronegócio seja o maior vilão dos lobo-guarás. Mas os animais também sofrem com o crescimento desordenado dos centros urbanos, morrem atropelados, por velhice, doenças, como presas de outros animais ou pela caça. Mas eles estão desaparecendo, principalmente por causa da degradação ambiental e do desmatamento, com grandes perdas de habitat para eles.
De hábitos solitários, os lobos-guarás são presas fáceis, exceto quando estão em fase de reprodução, quando os casais se unem e os machos auxiliam na criação dos filhotes, aproximadamente até os 3 meses de idade. Dessa forma, machos e fêmeas passam a compartilhar o mesmo território em uma área que pode vir a ser exclusiva da espécie, com pequenas ou grandes sobreposições de casais.
O ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) preparou um modelo de viabilidade populacional (VORTEX), gerado a partir de parâmetros biológicos e demográficos e constatou que a espécie sofrerá uma redução populacional de, pelo menos, 29% nos próximos 21 anos (3 gerações).
A taxa foi baseada em uma média de desmatamento de 1% ao ano no Cerrado.
Já nos Pampas, a perda populacional é atribuída ao alto grau de degradação dos ambientes naturais utilizados pela espécie, associado à perseguição por conflitos com pecuaristas, qualificadas como Criticamente em Perigo (CR) pelo órgão ambiental.
O desmatamento no Cerrado traz impactos diretos e por vezes, irreversíveis aos lobos-guarás.
Segundo o biólogo Rogério Cunha de Paula, do ICMBio, especialista em lobos-guarás:
“As áreas em que eles vivem foram tomadas por setores da economia, como a agricultura. Isso descaracteriza o bioma. Essas regiões se tornam mares de pasto, cana ou soja”.
A mudança no habitat, o desmatamento e a concentração da monocultura, vem matando os animais de fome.
Os lobos, sendo onívoros, consomem toda diversidade de alimentos que o bioma pode oferecer, desde insetos, lagartos, aves e roedores, inclusive frutas. A espécie, além de onívora, é generalista e oportunista, ou seja, sua dieta varia de acordo com a época do ano.
Os animais perdendo o acesso à sua alimentação normal, juntamente com o estresse pela perda de habitat devido à degradação humana, são obrigados a fugir, a se esconder ou a resistir, o que também vem interferindo na reprodução deles.
Segundo o biólogo do ICMBIO:
“Toda essa mudança no habitat eleva o padrão de estresse dos lobos-guarás e os estudos mostram que o hormônio deles, que responde ao estresse, atinge taxas altas em áreas degradadas. Isso interfere na reprodução da espécie e eles se tornam mais sensíveis a doenças”.
De acordo com o biólogo Ricardo Boulhosa, presidente do Instituto Pró-Carnívoros, que atua na preservação de mamíferos carnívoros, análises feitas sobre o comportamento dos lobos-guarás por meio de satélites, mostram que estes animais permanecem em áreas de pastagem e agricultura.
O biólogo explica que isso se deve ao fato de existir poucas opções de local à espécie, que não encontra mais as áreas naturais que precisam para sobreviver.
Temos a obrigação de preservar toda forma de vida do planeta, toda a biodiversidade, porque esta representa o perfeito equilíbrio da natureza.
Cada espécie existente na Terra desempenha um papel importante para a preservação ambiental. Os pesquisadores descobriram, por exemplo, que os animais que se alimentam da Solanum lycocarpum, uma fruta conhecida popularmente como lobeira, fruta-de-lobo ou guarambá, ajudam na dispersão das suas sementes.
A lobeira é um pequeno arbusto que chega a atingir até 5 metros de altura e é pertencente à família das Solanaceae, a mesma do tomate e do jiló.
No Cerrado, os pesquisadores encontraram nas fezes dos animais, a presença desta fruta como principal item da alimentação dos lobos. Por essa razão, por consumirem grandes quantidades de frutos e eliminá-las intactas nas fezes, o lobo-guará é considerado um importante dispersor de sementes, principalmente da lobeira.
Em 2005 foi realizado o I Workshop Internacional para a Conservação do Lobo-guará – Análise de viabilidade Populacional e de Habitat (PHVA) e foi elaborado um Plano de Ação para Conservação do lobo-guará, com o objetivo de “reduzir, em cinco anos, a perda de indivíduos das populações de lobo-guará decorrente da perda e alteração de hábitats adequados e conflitos com atividades antrópicas”.
O ICMBIO confessa que o plano não teve o objetivo alcançado, mas medidas para atingir a meta continuam em ação.
Que medidas são estas?
Agora, estampados na nota mais valiosa do Brasil, os pesquisadores esperam que aumente a consciência sobre a vulnerabilidade da espécie, e que consequentemente, o lobos-guarás recebam a devida atenção que merecem.
Que assim seja!
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Categorias: Animais em extinção, Informar-se
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