Atlas das Serpentes Brasileiras: o maior estudo sobre as espécies de serpentes no Brasil


É lugar comum dizer que o Brasil abriga uma enorme biodiversidade. Temos 8,5 milhões de quilômetros quadrados nos quais há diversas zonas biogeográficas, biomas, fauna e flora variadas.

Pesquisar, catalogar e compreender toda essa biodiversidade é um desafio para especialistas que fazem de seu ofício um ato pela manutenção da vida no planeta. Esse é o projeto de 32 pesquisadores latino-americanos que fizeram uma investigação conjunta para mapear onde vivem as serpentes do Brasil.

Trata-se de uma pesquisa pioneira por ser a que conseguiu mapear o maior número de espécies de serpentes, que resultou no Atlas das Serpentes Brasileiras, publicado na South American Journal of Herpetology, uma revista científica dedicada aos estudos sobre répteis e anfíbios.

Os pesquisadores consultaram 160 mil exemplares de serpentes catalogadas desde o século XVIII em arquivos de universidades e museus de história natural do Brasil e do mundo.

Um dos pesquisadores envolvidos no projeto é o professor e pesquisador do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Henrique Caldeira Costa, que explica que em muitas regiões da Amazônia a pesquisa não encontrou registros de nenhum exemplar de serpentes nas coleções consultadas. A razão, segundo Costa, é que os centros de pesquisa brasileiros estão em capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Belém e Brasília, onde há muitas décadas as serpentes são pesquisadas.

100% brasileiras

A pesquisa analisou 412 espécies, das quais 163 são brasileiras, o que corresponde a 39% do total de serpentes catalogadas. As espécies brasileiras, em geral, são endêmicas, ou seja, vivem em regiões específicas, com clima e vegetação próprios. Tal fator interfere diretamente na distribuição geográfica desses animais.

As regiões do país com as maiores populações de serpentes são: o sul da Mata Atlântica (onde há matas de Araucárias), os pampas, a Serra do Mar (litoral do sudeste) e a Serra do Espinhaço (entre Minas Gerais e Bahia). Elas também estão presentes no sudeste baiano, nas áreas altas do Ceará, nas dunas do rio São Francisco (na Bahia), na bacia do rio Tocantins, no oeste do Cerrado e no norte da Amazônia.

Risco de extinção

Apesar da constatação dos pesquisadores de que essa distribuição geográfica reflete a diversidade dos grupos de serpentes, eles alertam para os riscos que elas correm por causa da agropecuária e da atividade energética.

Essa ameaça é corroborada por dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) acerca de 30 espécies de serpentes brasileiras estarem sob o risco de extinção. O Atlas das Serpentes Brasileiras produziu mapas que já estão sendo usados em ações de conservação das espécies, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Costa esclarece que:

“No [de] licenciamento ambiental, o Atlas será uma referência muito usada por consultores que busquem informações sobre as espécies de serpentes com potencial ocorrência em uma área onde se planeja um empreendimento, aprimorando previsões de impacto ambiental. Além disso, o texto e os mapas do documento podem embasar de forma mais precisa futuros livros de divulgação científica e projetos. As possibilidades de impacto desse estudo, em geral, são mais amplas do que posso imaginar”.

É preciso investir na ciência

A pesquisa só foi possível ser realizada por causa das chamadas “bibliotecas da vida”, que são acervos que abarcam coleções biológicas que constituem a memória da história natural.

 “O Brasil precisa investir mais e melhor em suas coleções biológicas. Só nos últimos dez anos, perdemos dezenas de milhares de exemplares de coleções nos incêndios no Instituto Butantan, em 2010, e no Museu Nacional, em 2018. Foram incineradas informações únicas sobre a nossa biodiversidade, que poderiam embasar milhares de dissertações de mestrado, teses de doutorado e artigos científicos”, argumenta Costa.

Nesse sentido, o professor e biólogo defende a importância do investimento científico no Brasil, que tem sido negligenciado nos últimos anos, levando a perdas irrecuperáveis para o país e para o mundo.

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Fonte foto: Oxybelis fulgidus – Paranaboia




Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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