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Que os pets têm assumido papel cada vez mais central em nossas vidas, todos sabemos, o que às vezes não conseguimos adivinhar é na maneira como a participação deles avança em nosso cotidiano. Veja: Na Brinquedoteca do Instituto de Psiquiatria (IPq) da USP, há o desenho de um cachorro com ao aviso: “Estamos em terapia”.
Confesso que pensei em terapia para o cachorro ao descobrir essa informação, no entanto, tratava-se de um vira-lata de nome Madiba que acompanhava as atividades de um menino com Transtorno do Espectro Autista, termo que engloba diferentes tipos de transtornos caracterizados por dificuldades de comunicação, comportamento e interação social. Isso mesmo, o cãozinho era o “doutor” na sala.
Madiba pertence a Terapias Assistidas por Cães (TAC), em uma parceria com o IPq que, inicialmente, tinha o objetivo de apenas reduzir a ansiedade das crianças com autismo na sala de espera por meio de atividades entre o cachorro e as crianças. Mas o projeto evoluiu a ponto do cão se tornar parte da terapia.
“Muitas vezes, o animal acaba assumindo o papel de intermediário da relação da criança com outro ser humano, é algo que as pesquisas têm evidenciado”, relata a pediatra Marisol Sendin, coordenadora da Brinquedoteca do IPq, espaço lúdico onde as atividades com os cães, entre outras terapias, são desenvolvidas.
A iniciativa obteve bons resultados e se estendeu para as crianças internadas no Hospital-Dia Infantil. Essas crianças sofrem de problemas como esquizofrenia, déficit de atenção, depressão, transtorno bipolar, entre outros, e é fundamental no tratamento das crianças que o isolamento e o processo de interação seja bem-sucedido. Missões que os cachorros ajudam a cumprir com maior eficiência.
Eles ajudam até mesmo na recuperação de memórias, tendo como exemplo um caso de um idoso com Alzheimer que teve alteração positiva em seu quadro graças a um dos cães. “A psicóloga observou que aquilo não poderia ser Alzheimer, pois o processo de memória, com o cachorro, de repente mudou”.
As crianças pode ficar internadas no hospital pelo período máximo de três meses. Durante a terapia, situações de conflito intenso surgem, como na aplicação das medicações, a interação dos cachorros ajuda demais.
Entre as qualidades principais dos cachorros como terapeutas há a ausência de expectativa. Ou seja, ao contrário dos médicos e parentes que sempre esperam uma resposta positiva e se decepcionam quando não conseguem, os cães não sofrem com esse problema, ajudando na espontaneidade da criança que vai fazer o que tem de fazer quando estiver pronta.
Além disso há o contato mais direto. A criança brinca com o cachorro da forma que mais lhe agradar, sem correção de palavras ou da maneira que se comporta, pois o cachorro não está “nem ai” para isso. No tratamento, 100% de espontaneidade é fundamental para o sucesso.
Vinicius Ribeiro é da equipe da TAC e um dos responsáveis pelo treinamento dos cachorros “doutores”. Ele afirma que cada um deles recebe um treinamento específico segundo a função que irá executar e essa função depende do comportamento de cada animal e não de sua raça.
Madiba, por exemplo, foi treinado desde pequeno para atuar como cão terapeuta, considerando seu perfil ativo e brincalhão, mas também muito educado. “E ele foi basicamente treinado pelos pacientes, que ensinaram vários comandos, como rolar, dormir e dar abraço”, conta o especialista.
Mas todos os cães são devidamente treinados no trato com as crianças, somente mudando o “cargo” de cada animal. O tratamento tem surtido resultado e deveria ser copiado por outros hospitais. As crianças, felizes com seus pets durante o período de internação, sem dúvida agradeceriam.
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Fonte foto: freeimages.com
Categorias: Animais, Informar-se
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