Perereca rara, vista pela última vez há 50 anos, reaparece na Mata Atlântica


A Phrynomedusa appendiculata, uma espécie de perereca rara da Mata Atlântica, considerada por muitos extinta, foi redescoberta.

Esta espécie foi encontrada pela última vez há 50 anos. Sua aparição é uma esperança para a biodiversidade e alerta sobre a necessidade da preservação de biomas.

Vista pela última vez em 1970

Cientistas pesquisaram os répteis e anfíbios que habitam uma região preservada da Mata Atlântica, no Parque Estadual Nascentes do Paranapanema (Penap), em São Paulo, e redescobriram esta rara espécie de perereca, vista pela última vez em 1970.

O artigo que detalha o reencontro chama-se “Rediscovery of the rare Phrynomedusaappendiculata (Lutz, 1925) (Anura: Phyllomedusidae) from the Atlantic Forest of southeastern Brazil” e foi publicado este mês, na revista internacional Zootaxa.

O pesquisador Leandro Moraes, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Zoologia do Instituto de Biociências (IB) da USP comenta sobre a redescoberta da perereca que era considerada possivelmente extinta:

“Ficamos surpresos e muito empolgados ao notarmos que estávamos diante da espécie Phrynomedusa appendiculata, considerada até mesmo possivelmente extinta”.

Phrynomedusa appendiculata

Uma das hipóteses para a reaparição da espécie é a de que como elas vivem habitando estratos mais elevados da mata, empoleirada nas árvores e arbustos, de tempos em tempos, esses anfíbios precisam deixar o alto das árvores e buscar poças permanentes para se reproduzirem.

Foi nesse período que os cientistas encontraram uma população da Phrynomedusa appendiculata em atividade reprodutiva, com aproximadamente 15 indivíduos.

Esse tipo de ambiente também é mais incomum nas faixas altitudinais mais elevadas do bioma, e isso pode ter colaborado no aumento da raridade natural destas espécies.

De acordo com Moraes:

“Apesar de também termos feito buscas em diversos outros ambientes e localidades durante esse projeto, essa espécie somente foi registrada nesse único ponto”.

Poucas informações

Uma das pererecas foi coletada para detalhadas análises morfológicas e genéticas, para buscar suas afinidades evolutivas, e hoje se encontra no Museu de Zoologia da USP.

Segundo o pesquisador, como a Phrynomedusa appendiculata e outras espécies são muito raras de encontrar e, em geral, pouco conhecidas, espera-se que os novos dados coletados possam facilitar o estudo do status de conservação do grupo.

Ele explica:

“Além disso, realizamos um trabalho de resgate histórico dos poucos relatos de encontros da espécie na natureza. Todo esse esforço nos levou a confirmação de que se tratava realmente da espécie desaparecida”.

O estudo mostra a importância da criação de novas áreas de proteção e de um manejo efetivo das já existentes.

Mata Atlântica

Essas áreas de grande pluviosidade do topo da Serra do Mar e Serra de Paranapiacaba apresentam as maiores diversidades de anfíbios da Mata Atlântica, estando entre as maiores do mundo, com grande número de espécies raras, endêmicas e mal conhecidas.

Para os pesquisadores:

“Nós acreditamos que essa espécie rara e desconhecida traz um apelo ainda maior para a conservação e pode se tornar um símbolo para a preservação dos ambientes do Penap e da Mata Atlântica como um todo”.

O projeto de pesquisa

O projeto segue pesquisando a espécie através de gravadores autônomos instalados nos ambientes reprodutivos onde as pererecas foram encontradas: é uma forma de monitorar a dinâmica da população a longo prazo.

Esses equipamentos ficam ligados extraindo dados acústicos. O canto da espécie é identificado nas gravações através de inteligência artificial, o que pode ser um indicativo da permanência da espécie no local.

Esse método sonoro, ainda ajuda os pesquisadores a detectar a sua presença em outras áreas, além de acompanhar de maneira mais precisa a dinâmica temporal de sua atividade reprodutiva.

Entre outras espécies encontradas estão os anfíbios, também endêmicos do Brasil, Boana caipora e Paratelmatobius segallai.

Quanto aos répteis, se destacam o lagarto Enyalius iheringii, conhecido como iguaninha-verde, e a serpente Tropidophis paucisquamis, também conhecida como jiboia-anã-brasileira.

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Lara Meneguelli


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