Cientistas pedem: parem de tratar incidentes com tubarões como ataques


Ao contrário do que se diz por aí sobre os tubarões, eles são animais benéficos e importantes para a biodiversidade, e estão mais para vítimas do que para vilões.

Desde a estreia do famoso filme Tubarão, de 1975 dirigido por Steven Spielberg, este animal vem sofrendo preconceito, senão antes. É muito comum ver o animal sendo retratado até em desenhos animados como o “lobo-mau” do mar, um bicho perigoso, traiçoeiro e malvado.

O modo com o qual a mídia informa incidentes com o animal, geralmente com o uso da palavra “ataque”, também contribui para a má fama dos tubarões, como se estes fossem peixes cruéis, sedentos de sangue, que buscam atacar surfistas e banhistas.

Muita desinformação e falta de empatia com os tubarões, fez com que cientistas e autoridades da área ambiental dos EUA e da Austrália, passassem a usar termos como como ‘mordidas’, ‘incidentes’ e ‘encontros’ para relatar acidentes envolvendo humanos e tubarões. Os cientistas pedem para que a mídia faça o mesmo, a fim de evitar sensacionalismo em torno desses animais.

O principal predador do tubarão

Como informa o @saberatualizadoplus, “desde 1970, houve um dramático declínio de 71% das populações de tubarões e de raias nos oceanos devido ao explosivo crescimento da caça desses animais, e várias espécies estão seriamente ameaçadas”.

O homem caça o tubarão para comercializar partes de seu corpo, principalmente suas barbatanas,  para usarem em vários produtos, ditos, “medicinais” ou “iguarias”.

E o pior, de forma fria e cruel, extraem a barbatana e devolvem o animal ao mar, deixando-o se “virar” até que lentamente encontre a morte.

Mídias reforçam a fama de mau do tubarão

Um estudo relata que 96% de 109 filmes registrados no IMDb (Intenet Movie Database) até janeiro de 2020, retrata os tubarões como uma ameaça aos humanos.

Para reforçar essa imagem negativa, a maioria das mídias populares promovem essa ideia sensacionalista de que os tubarões são ‘monstros’ perseguindo seres humanos pelos mares.

Desmistificando a imagem negativa dos tubarões

Das mais de 500 espécies de tubarões que são conhecidas, pouco mais de 30 estão envolvidas em incidentes com seres humanos.

Os motivos pelos quais os tubarões (e a maioria dos animais) possam ter alguma reação agressiva em relação aos humanos, podem ser desde se sentirem ameaçados (e com isso se defendem) ou porque confundem o ser humano com uma presa, como uma foca, por exemplo.

Não é incomum os tubarões fugirem após contato físico com uma pessoa ou evitarem chegar perto ao perceberem a proximidade de alguém. Por isso, reagir com agressividade é algo que não acontece com frequência.

Motivos para ver os tubarões com bons olhos

Para acabar com essa imagem negativa imputada aos tubarões, seguem vários motivos que comprovam que estes peixes magníficos estão mais para mocinhos do que para bandidos:

Papel ecológico dos tubarões

Os tubarões atuam como principal predador da pirâmide alimentar marinha e, por isso, desempenha um papel importante e de equilíbrio nos ecossistemas oceânicos.

Esse equilíbrio é mantido pelos tubarões porque, como predadores de outras espécies marinhas, eles regulam direta ou indiretamente a biodiversidade marinha.

Como exemplo, eles costumam caçar presas velhas, fracas ou doentes, e procedendo assim, ajudam a manter a população de presas em boas condições, saudável, forte e apta para a reprodução.

Os tubarões são habitantes antigos da Terra

Cientistas acreditam que os ancestrais dos tubarões existiram cerca de 400 milhões de anos, bem antes dos dinossauros que viveram há mais de 200 milhões de anos.

Os tubarões evitam o aumento do dióxido de carbono

Ao se alimentar de outras espécies marinhas, o tubarão evita que ocorra um desequilíbrio populacional de determinadas espécies.

Se não existissem os tubarões, o número de espécies que são presas deles aumentariam por demais, causando desequilíbrio no ecossistema marinho. Além disso, várias presas dos tubarões consomem plantas aquáticas dos oceanos. Se houvesse um aumento desequilibrado delas, as plantas aquáticas diminuiriam e, por consequência, haveria um aumento de dióxido de carbono na atmosfera.

Um exemplo disso vem de um estudo feito na costa leste dos Estados Unidos, relatando que 11 espécies de tubarões foram eliminadas de sua área de distribuição. Das 14 espécies de vida marinha que esses tubarões costumavam comer, as populações de 12 tiveram uma explosão populacional, causando enormes prejuízos ao ecossistema.

Um outro estudo constatou que preservar peixes grandes, como atum, tubarão, cavala e peixe-espada, é de vital importância porque eles, através de suas existências, reduzem a quantidade de dióxido de carbono liberado na atmosfera terrestre. Isso porque, quando um peixe morre no oceano, ele afunda nas profundezas e leva consigo todo o carbono que contém. Este sequestro é chamado de ‘carbono azul’.

Os tubarões ajudam a manutenção dos recifes

Os tubarões controlam as populações de peixes, que se alimentam de corais dos recifes.

Sem a presenças dos tubarões, as populações desses peixes aumentariam e, com esse aumento, eles passariam a consumir demais os corais, colocando em riscos os recifes.

Como os recifes de corais produzem oxigênio, se houvesse um diminuição deles, a vida da população terrestre ficaria ameaçada.

O tubarão vivo é valioso

Boa parte da matança de tubarões pelos humanos se dá por motivo comercial e lucrativo. Porém, o tubarão vivo vale muito mais. É o que diz um estudo publicado pelo Instituo Pew.

Esse estudo, realizado pelo Instituto Australiano de Ciência Marinha, concluiu que os tubarões valem muito mais vivos e nadando, como acontece em Palau, a nação insular do Pacífico que declarou suas águas um santuário livre da pesca de tubarões.

O vilão é o homem

Para se ter uma ideia do quanto o homem é mais perigoso que o tubarão, saiba as crueldades que esse animal é submetido nas mão do ser humano:

  • Ao ser capturado pelo homem, esse animal  é arrastado para cima de um barco, tem seus membros cortados e suas barbatanas arrancadas.
  • Tudo isso acontece com a cara do tubarão voltada para a superfície da água, enquanto se debate e, ao mesmo tempo, sente seu corpo sangrar.
  • Após a extração das barbatanas, seu corpo é atirado de volta ao mar para deixar mais espaço no barco.
  • Lentamente, o tubarão agoniza e morre.

Para se ter uma base, em 2015 por exemplo, houve 12 ataques fatais envolvendo o encontro de humanos com tubarões. Em contrapartida, a cada ano, mais de 100 milhões desses animais aquáticos vêm sendo caçados e mortos, de forma impiedosa pelo homem.

Um dos fatores que ocasionam acidentes envolvendo humanos e tubarões, tem a ver com a pesca e o consumo insustentáveis, pois os humanos têm acabado com grande parte dos alimentos dos tubarões, fazendo com que estes animais busquem por alimentos em outras áreas, até mais próximas da costa litorânea.

Curiosidades sobre os tubarões

A maioria das pessoas ouviram falar do lado perigoso dos tubarões, mas desconhecem fatos interessantes e curiosos sobre eles.

Veja alguns destas curiosidades:

  • Os tubarões não são somente predadores, eles também servem de presas (alimentos) para peixes maiores ou mamíferos marinhos.
  • O tubarão-baleia é o maior peixe do mundo, medindo até 14 m. Ele se alimenta de plâncton e é considerado amigo favorito de natação de muitos mergulhadores.
  • A pele do tubarão é composta por minúsculas estruturas, denominadas placóides, parecidas com a dentes e com uma textura semelhante a uma lixa. Essas escamas ficam planas, voltadas para a cauda com a finalidade de reduzir o atrito na água.

Razões para preservar a vida dos tubarões

Segundo pesquisas, os tubarões vêm sendo mortos a uma taxa alarmante de até 273 milhões em todo o mundo, por ano.

Existem cerca de 520 espécies de tubarões descritas pelos cientistas. Um quarto das espécies de tubarões do mundo (130/520) estão ameaçadas de extinção de acordo com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN.

Especialistas alertam que se continuar essa cruel matança, muitas espécies de tubarões serão extintas com prejuízos para os ecossistemas oceânicos.

Por que não comer carne ou barbatana de tubarão

Os tubarões, assim como outros peixes utilizados como alimento para humanos, estão expostos aos metais pesados e outras toxinas ambientais como o mercúrio, gerados pela intensa ação poluente humana.

Esses metais pesados e toxinas se acumulam nos tecidos desses animais, por meio de um processo de bioacumulação. O organismo deles vai eliminando essas substâncias de forma lenta.

Aos alimentar desse animais, se absorve essas toxinas. Com a ingestão dessas substâncias, principalmente o mercúrio, aumenta-se o risco de distúrbios como autismo, infertilidade e doenças neurológicas ou coronarianas.

Como ajudar na preservação dos tubarões

Com atitudes sustentáveis e conscientes podemos ajudar a preservar os tubarões e outros peixes.

Vejam algumas destas ações:

  • Evite o uso de plásticos, principalmente os descartáveis, e também de produtos químicos prejudiciais que poluem nossos oceanos.
  • Compartilhe essas informações para que mais e mais pessoas saibam e conheçam essa realidade.
  • Apoie campanhas de defesa e proteção aos tubarões e à toda vida marinha.
  • Deixe de consumir animais marinhos e terrestres, pois este consumo é fator de redução da vida de diversas espécies e dos desequilíbrios ambientais.
  • Opte por produtos cosméticos sem ingredientes extraídos de animais.
  • Colabore para evitar o aquecimento global, que é uma das causas das mudanças climáticas e da redução de habitats de muitas espécies.
  • Não invada o território dos tubarões. Se for praticar mergulho, faça-o com a orientação de um guia especializando na vida marinha.

Em síntese, através de nossos hábitos, escolhas e estilo de vida podemos contribuir para que todos os seres coexistam nesse planeta, com mais respeito, dignidade e equilíbrio.

Saiba mais como melhorar nossa coexistência com outras espécies em:

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Deise Aur

Professora, alfabetizadora, formada em História pela Universidade Santa Cecília, tem o blog A Vida nos Fala e escreve para greenMe desde 2017.


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