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A Prefeitura do Amapá decretou, no dia 14, estado de emergência devido à salinização no arquipélago de Bailique, na foz do rio Amazonas. Comunidades ribeirinhas estão há semanas sem água para beber.
Apesar de o fenômeno ser considerado normal nesta época do ano, o avanço da salinização vem se intensificando e, para os especialistas no assunto, pode estar ligado ao aumento global do nível do mar, resultado das mudanças climáticas.
Água potável e cestas básicas estão sendo distribuídas pela prefeitura.
A região da foz do rio Amazonas tem passado por grandes transformações. Desde 2013, o rio Araguari, com 500 km de extensão, mudou seu curso, deixou de desaguar no Atlântico e virou afluente do Amazonas, o que pode ter elevado a salinização no arquipélago.
O assoreamento do rio Araguari é uma das maiores transformações na paisagem do Brasil nas últimas décadas.
Desde 2011 formou-se um canal, chamado de Urucurituba, que passou a conectar os dois rios, Araguari ao Amazonas. Em 2014, este canal passou a absorver praticamente todo o fluxo do Araguari.
O Araguari era conhecido pelo fenômeno da pororoca. Desde então, devido às transformações no rio, as ondas da pororoca pararam de ocorrer.
A pororoca se forma a partir do choque entre o fluxo do rio e a maré, gerando uma onda que avança continente adentro. Como o rio Araguari deixou de desaguar no mar, o fenômeno deixou de existir.
A mudança no curso do rio Araguari também provoca a erosão nas áreas impactadas pelo fluxo do canal Urucurituba. Este fenômeno é conhecido como “terras caídas”.
Para os estudiosos, o surgimento do Urucurituba pode estar relacionado à 3 fatores:
Geová Alves, presidente da Associação das Comunidades Tradicionais do Bailique e vice-presidente de uma cooperativa local de produtores de açaí, diz que aproximadamente 51 comunidades do Bailique estão sendo afetadas. Segundo ele, a falta de água para beber é a principal consequência, um galão de 20 L de água custa R$ 25 reais no arquipélago.
Por outro lado, os efeitos da salinização estão sendo positivos na pesca. Peixes de água estão sendo capturados com abundância. Alves afirma:
“Percebemos uma presença grande de peixes de água salgada, e o afastamento de peixes de água doce e camarão. Acabou sendo uma vantagem para os pescadores“.
No cultivo de açaí ainda não foram notadas mudanças.
Para Alan Cavalcanti da Cunha, professor de Engenharia Civil da Universidade Federal do Amapá (Unifap) e phD em fluxos hidrológicos entre ecossistemas terrestres e aquáticos as causas são associadas às mudanças climáticas.
Além dos impactos causados pelas mudanças de curso do rio Araguari (que ajudava a manter a água salgada longe da costa), o aumento do nível do mar está fazendo com que a água salgada avance mais facilmente pelos rios.
Segundo Cunha, outra possível causa para o aumento da salinização no arquipélago do Bailique é a elevação das temperaturas na região.
O avanço do mar e o aumento da salinização na foz do rio Amazonas são consequências das mudanças climáticas.
Até o final deste século, o nível médio dos oceanos poderá subir entre 0,6 e 1,1 m.
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Categorias: Ambiente
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