Governo federal retira atribuição do INPE de monitorar queimadas no Brasil


Não compete mais ao Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais) a atribuição de monitorar, analisar e divulgar os dados sobre alertas de incêndios e queimadas em todo o país.

O órgão federal existe há 60 anos e vinha monitorando e divulgando diariamente dados técnicos sobre o avanço das queimadas no país, através de equipamentos de última geração e cooperação internacional de estímulo à pesquisa e instrumentação, inclusive com apoio da Nasa. Mas agora, por decisão do governo federal, o INPE que fazia esse trabalho com excelência há décadas, teve sua atribuição retirada sem nenhuma justificativa plausível.

Conforme informou o jornal Estadão, a informação teria sido confirmada durante uma reunião realizada pelo Ministério da Agricultura, na qual o diretor do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, afirmou que,

“a partir desta terça-feira, o Inmet é o órgão que fará esse trabalho, por meio de seu novo “Painel de Monitoramento ao Risco de Incêndio”.

Tão logo a notícia foi divulgada várias entidades ambientais e pesquisadores se manifestaram nas redes sociais apontando o retrocesso da medida e do perigo que essa mudança pode trazer.

Alguns apontam que o INMET, órgão do Ministério da Agricultura, não possui a tecnologia e a expertise para analisar os dados de forma segura e ampla, e o que os satélites utilizados pelo INPE são de melhor alcance e precisão.

Gilberto Camara, pesquisador em Geoinformática, Mudança do Uso do Solo e Ciência de Dados Espaciais, que foi Diretor do INPE de 2005 a 2012, publicou na sua página no Twitter, que os dados produzidos pelo INMET serão de muito pior qualidade e explica:

Segundo Gilberto, para produzir dados de risco de queimadas, o INPE combina os focos atuais com modelos de previsão de tempo. Esses modelos incorporam todos os dados meteorológicos sobre o Brasil, inclusive os do INMET.

Para Gilberto está clara a intenção do governo federal de

“usar apenas os dados de suas estações que não cobrem o Brasil por inteiro”, permitindo que os mapas de risco de queimadas possam ser subestimados”.

O jornalista André Trigueiro, publicou em sua página no Twitter que “os dados sobre desmatamento não são de uso privativo do governo. O que acontece na Amazônia é de interesse público. Falta de transparência é retrocesso”.

Greenpeace Brasil, Observatório do Clima, outras ONGs ambientalistas e dezenas de políticos e personalidades como Cristóvam Buarque e Marina Silva também se manifestaram nas redes sociais contra a decisão.

Embora muitas sejam as manifestações contrárias, apontando retrocesso e piora na qualidade do serviço, estas não parecem ser suficientes para impedir que a mudança ocorra.

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Juliane Isler

Juliane Isler, advogada, especialista em Gestão Ambiental, palestrante e atuante na Defesa dos Direitos da Mulher.


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