A ONU Brasil publicou na segunda-feira (9) em seu canal oficial no YouTube um vídeo que põe o dedo na ferida de um dos segmentos econômicos mais poderosos do país.
Sob o título “A pecuária ameaça o clima global”, a peça não poderia ser mais direta quanto ao que se referiu como “o maior dos problemas ambientais”.
“Esqueça as usinas de energia, elas não chegam nem perto”, diz um dos entrevistados, que deu uma ideia das chances de se mitigar os impactos da crise climática sem que, para isso, se puxe o freio de uma das indústrias mais lucrativas do planeta:
“Não há absolutamente nenhum cenário para prevenir as catastróficas mudanças climáticas sem que haja uma vasta redução na escala da pecuária.”
Por outro lado, continua a explicação do vídeo, se, num passe de mágica, a produção industrial agropecuária desaparecesse, a recuperação da biomassa vegetal naturalmente começaria a diminuir a concentração de gás carbônico na atmosfera – algo que sequer se contempla como possibilidade.
Não faz muitos anos, o documentarista Kip Andersen sentiu um grande incômodo ao constatar que, embora pesquisas já apontassem a pecuária como responsável por um impacto ambiental muito maior que o de todos os outros agentes poluidores somados, havia um grande silêncio quanto a essa questão. Pior: mesmo os maiores defensores mundiais do meio ambiente, como o Greenpeace, se calavam a respeito.
Desse incômodo nasceu o documentário Cowspiracy: The Sustainability Secret, lançado em 2014 e, desde então, assistido por milhões de pessoas – sobretudo a partir de 2015, quando ninguém menos que Leonardo di Caprio assumiu a produção executiva do projeto, o que resultou em uma nova versão do filme e sua inserção no catálogo de uma das maiores plataformas de streaming do mundo: a Netflix.
Desde lá para cá, alguns especialistas, ao se referirem ao clima, passaram a optar pelas palavras ‘crise’ ou ‘emergência’, em vez de ‘mudança’, por serem mais fiéis ao cenário atual.
No que se refere aos líderes políticos mundiais, as conferências do clima têm desapontado, ano a ano – e a última, realizada em 2019, não foi diferente. No entanto, alguns otimistas de plantão – essa espécie ameaçada de extinção – destacam a mobilização da sociedade civil como uma prova de que a esperança não morreu. As manifestações mundo afora no ano passado, detonadas pelo fenômeno Greta Thunberg, seriam um exemplo mais evidente disso.
Entre o olhar dos desapontados e a esperança dos otimistas inveterados, uma coisa é certa: o silêncio que tanto incomodou Andersen já não é mais como antigamente. A postagem da ONU Brasil, cutucando um punhado de poderosos, ainda que indiretamente, também pode ser entendida como mais um sinal nesse sentido.
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Categorias: Ambiente, Informar-se
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