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A cidade de Alter do Chão, no Pará, foi palco de incêndios florestais, em setembro deste ano, motivando uma investigação judicial. Isso significa que autoridades consideram tratar-se de incêndios criminosos, e não acidentais.
A recente prisão de quatro brigadistas, que teriam ajudado a conter as chamas junto com o Corpo de Bombeiros e o Exército, levou ambientalistas e organizações não-governamentais (ONGs) a fazerem várias críticas à condução das investigações da Polícia Civil paraense, que teria acusado os brigadistas voluntários de serem os responsáveis por provocar o incêndio com a finalidade de obter lucro com a venda de fotos das chamas.
Os brigadistas foram presos na terça-feira passada e soltos dois dias depois após a Justiça ter-lhes concedido um alvará de soltura.
Além da Polícia Civil do Pará, o Ministério Público Federal está investigando as queimadas ocorridas em setembro na região, conhecida como Capadócia, onde há terras da União já invadidas por grileiros.
Essas terras públicas guardam uma enorme biodiversidade, reconhecida em uma nota do MPF de setembro:
“As florestas locais são compostas de quatro tipos de sistemas florestais, mais a savana ou cerrado amazônico, um tipo de vegetação que ocorre em apenas 7% do bioma e é considerado de extrema relevância para conservação“.
Na área atingida pelos incêndios, há cerca de 475 espécies de árvores que abrigam 300 espécies de aves, além de várias espécies de mamíferos de médio e grande porte, seis deles ameaçados de extinção: a onça-pintada, a onça-vermelha, o maracajá-peludo, o maracajá-preto, o cachorro-vinagre e a guariba-de-mãos-ruivas, como informou o G1.
Em Alter do Chão fica, ainda, a bacia do rio Tapajós, onde vem sendo debatida a construção de obras de grande porte, como hidrelétricas, um complexo de portos e ferrovias. A promotora de Justiça Ione Nakamura, do Ministério Público do Estado do Pará, reconhece que a bacia do Tapajós se converteu em uma área atraente para diversas atividades econômicas, como agricultura, mineração, infraestrutura e logística, sendo necessário equilibrar tais interesses de forma sustentável.
Uma reportagem do Repórter Brasil divulgou um áudio do prefeito de Santarém, Nélio Aguiar (DEM), para o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), dizendo que o incêndio em Alter do Chão foi causado por “gente tocando fogo para depois fazer loteamento, vender terreno”, a qual conta com respaldo policial. A mensagem teria sido enviada um dia após o incêndio na Área de Proteção Ambiental (APA) de Alter, em 15 de setembro.
Aguiar admite, no áudio, o envolvimento de policiais no caso –
“tem policial por trás, o povo lá anda armado” – e solicita intervenção da Polícia Militar para “identificar esses criminosos”.
A conversa entre o prefeito e o governador coloca em suspeição a investigação da Polícia Civil e se alinha à investigação da MPF, que indica terem sido grileiros os suspeitos de causarem os incêndios, com o objetivo de vender terras da União em Capadócia.
Após a reportagem do Repórter Brasil, Aguiar disse:
“Não afirmei que alguém teria tocado fogo no áudio que mandei para o governador, falei que é uma área de conflito desde 2015 e que tem uma pessoa foragida. Uma área perigosa, uma área de conflito e que a suspeita do incêndio era criminoso. Eu não sou polícia, sou prefeito, não tenho poder de investigação, nem de mandar na polícia”.
O MPF trabalha com a tese de que os incêndios tiveram início em uma área invadida pelo grileiro Silas da Silva Soares, condenado, em 2018, pela Justiça Federal por desmatamento ilegal e venda de lotes na APA de Alter. Soares se encontra, atualmente, foragido.
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