O governo anunciou nesta quinta-feira (1) um novo modelo para monitorar o desmatamento da Amazônia. Ao lado do presidente Jair Bolsonaro e dos ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores), o Ministro do Meio Ambiente, disse que o governo contrataria um sistema de geração de imagens de alta resolução que permita análises diárias.
“Nós não estamos aqui para negar os números nem justificar coisas que tenham sido feitas de maneira ilegal. Estamos mostrando que precisa haver muita responsabilidade na divulgação de informações. E é isso que vamos construir em conjunto”, afirmou.
A declaração foi dada após uma reunião em que estiveram presentes os ministros das pastas do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes. Participaram também técnicos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão que, nos últimos dias, recebeu duras críticas de Bolsonaro.
Segundo informações divulgadas pelo Inpe, o desmatamento na Amazônia cresceu 88% em junho, em relação ao ano passado. Em encontro com jornalistas estrangeiros, no dia 19 de julho, Bolsonaro afirmou que os dados eram mentirosos e que talvez o diretor do Inpe estivesse “a serviço de alguma ONG”. Disse, ainda, que os relatórios deveriam passar pelo crivo do governo antes de serem liberados.
A declaração provocou a reação de diversos setores da sociedade e motivou uma resposta do presidente do Inpe, Ricardo Galvão, que disse ter ficado surpreso e indignado com a fala de Bolsonaro.
“Ele tem um comportamento como se estivesse falando em um botequim (…). Ele fez acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo só eu, mas muitas outras pessoas (…) Ele diz que nenhum dos ministros de Ciência e Tecnologia anteriores ao seu governo faziam uma diferenciação entre gravidez e Lei da Gravidade. Isso é uma piada de um garoto de 14 anos, que não cabe a um Presidente da República fazer. Esses dados sobre desmatamento da Amazônia, feitos pelo Inpe, começaram em meados da década de 1970 e a partir de 1988 nós temos a maior série histórica de dados de desmatamento de florestas tropicais, respeitada mundialmente”.
O Inpe é responsável por monitorar a floresta amazônica, analisar as informações de satélites e divulgar relatórios mensais sobre o desmatamento na região, que servem para orientar as ações de fiscalização do Ibama. Para isso, conta com as informações de diferentes sistemas de monitoramento e leitura de dados, geradas a partir das imagens de satélites de diversos países.
Em coletiva após a reunião desta quinta-feira, o Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles questionou o sistema Deter, responsável pela geração dos alertas e relatórios mensais, afirmando que os dados não condiziam com a realidade, mas admitiu que houve um aumento no desmatamento, sem apresentar novos números que confrontassem os do Inpe. Disse, ainda, que os próprios técnicos do Inpe estavam de acordo que as medições do Deter não condiziam com a realidade.
Em entrevista à Folha de São Paulo, o diretor do Inpe Ricardo Galvão rebateu essa afirmação:
“O ministro Salles apresentar que nós teríamos concordado com ele não é uma verdade. O que houve foi uma discussão de dados. Sempre pode haver um caso de alerta em uma área, que parece desmatamento, e não é. Só neste mês foram 1.700 alertas. Eles pegaram alguns casos e mostraram que não era desmatamento, mas isso sempre foi verdade para o Deter. Nós nunca dizemos que corresponde a área real de desmate”
O Deter serviria, de acordo com o próprio Inpe, para auxiliar na fiscalização e seus dados mensais representam uma tendência do desmate.
Em nota à imprensa, o órgão afirmou, ainda, que desconhecia um relatório apresentado pela equipe do governo, em que supostas inconsistências do sistema Deter teriam sido apontadas.
“O INPE esclarece que não teve acesso prévio a essa análise e que seus representantes responderam a todas as questões apontadas durante a apresentação. Para uma análise completa, o INPE solicitou ao MMA acesso ao referido estudo. De antemão, o INPE avalia que o estudo apresentado corrobora a metodologia do DETER, pois os alertas de desmatamento mostrados se tratavam de fato de áreas desmatadas. Qualquer comparação dos resultados do DETER com resultados de metodologias ou imagens distintas deve ser aprofundada, e requer uma avaliação mais completa.”
O texto da nota defende, ainda, a excelência do trabalho do Inpe, “amplamente reconhecida”:
“O INPE reafirma sua confiança na qualidade dos dados produzidos pelo DETER. Os alertas são produzidos seguindo metodologia amplamente divulgada e consistentemente aplicada desde 2004. É amplamente sabido que ela contribuiu para a redução do desmatamento na região amazônica, quando utilizada em conjunto com ações de fiscalização.
O trabalho do INPE sempre foi norteado pelos princípios de excelência, transparência e honestidade científica. A busca pelo aperfeiçoamento e pela melhoria constante da qualidade de seu trabalho também são componentes fundamentais de sua cultura técnica e científica”.
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Categorias: Ambiente, Informar-se
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