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Você já ouviu falar em ecossocialismo?
Na França, esse termo ganhou bastante espaço nas discussões políticas encabeçadas pelo candidato à presidência Jean-Luc Mélenchon, a partir da publicação, em 2013, das 18 teses para o ecossocialismo, estabelecidas no Primeiro Manifesto do Fórum para o Ecossocialismo.
A proposta foi ganhando cada vez mais espaço e, também, nos Estados Unidos e Canadá o ecossocialismo foi ganhando força. Embora já tenha chegado ao Brasil, por aqui as discussões ainda são tímidas sobre o conceito.
O ecossocialismo é uma alternativa considerada radical pelos seus defensores, no sentindo etimológico da palavra “radical”, que vem do latim” radix”, que significa “raiz”. Ou seja, a proposta é ir à raiz do atual problema ecológico mundial, causado pelo sistema capitalista, para construirmos juntos um novo modelo civilizatório.
Falando assim pode parecer utópica a proposta ecossocialista, mas entendê-la é fundamental para que compreendamos o atual estágio dos seres viventes na Terra, buscando uma alternativa viável para a vida no planeta.
Os padrões de produção e consumo estabelecidos pelo capitalismo exigem uma ação política radical no sentido de preservar e manter a vida e a igualdade nas relações sociais. Os desequilíbrios ecológicos a que o capitalismo levou chegou a tal ponto que não se pode mais evitar qualquer discussão e ação a respeito, mesmo que sob o grito dos negacionistas das mudanças climáticas, as quais já chegaram a um patamar irreversível.
Os lobbies das empresas multinacionais e a subserviência da maioria dos governos dos países de todo o mundo a elas, entregando-lhes, inclusive, a soberania dos Estados e, em consequência, a democracia geraram uma catástrofe sem precedentes na história da humanidade. Muitos intelectuais, como Michael Löwy, já não falam mais em crise, mas sim em catástrofe mesmo para ilustrar o atual estado do nosso estágio civilizatório, que precisa de uma resposta urgente a partir de uma cultura da sobriedade e da solidariedade – formas de relações que o capitalismo detesta, já que a sua retórica é a do individualismo.
Embora os representantes dos governos do mundo recorrentemente se reúnam, como ocorreu na Rio + 20, e considerem que, de fato, é preciso reduzir as emissões de gases de efeito estufa e, consequentemente, o aquecimento global, nenhuma medida efetiva é tomada de forma global para evitar essa barbárie. É uma espécie de “depois de mim, virá o dilúvio”, ou seja, vamos acumular capital e o futuro já não será problema nosso
Afinal, quais são as reais propostas do ecossocialismo? <p”>Ecossocialismo é uma palavra criada a partir da fusão entre “ecossistema” e “socialismo”. O socialismo é um projeto que visa à emancipação humana através da partilha de riquezas, que devem ser consideradas como um bem comum.
Tal emancipação não pode ser conseguida tendo em vista um crescimento infinito das riquezas, como bem quer o capitalismo, porque elas não são inesgotáveis. O ecossistema no qual nós estamos não permite essa exploração infinita e, por isso, precisamos de uma nova relação com ele e conosco mesmos.
É preciso, portanto, começar por uma revisão plena do nosso sistema de produção, a partir daquilo que se chama “4R”: relocalização da atividade, reindustrialização ecológica, reconversão da ferramenta industrial e redistribuição do trabalho. O sistema capitalista é incompatível com a ecologia, porque ele sobrevive do consumismo infinito. Se queremos impedir a catástrofe e a barbárie ecológicas, precisamos ir à raiz do problema, que é o próprio sistema capitalista, apresentando uma nova proposta: o ecossocialismo.
Ele implica em uma discussão crítica com as correntes ecológicas dominantes, que defendem soluções ecológicas “compatíveis” com o mercado. Entretanto, elas não conseguem estancar a sangria, pois precisamos de transformações profundas, que não estão previstas no quadro do capitalismo.
Para tal, precisamos fazer uma discussão renovadora sobre a ecologia e o socialismo, já que um socialismo que não é ecológico não dá conta de lidar com os desafios do século XXI e uma ecologia que não é socialista tampouco será eficaz no enfrentamento da catástrofe que se aproxima.
Concretamente, existem medidas anticapitalistas que já poderiam estar sendo implementadas de modo abrangente. Hoje, os produtos são feitos para serem trocados por outros. As geladeiras das casas de nossas avós duravam 40 anos, hoje, se muito, as nossas duram dez. As oficinas de reparo ficaram obsoletas em muitos países, porque muitas pessoas compram um novo produto quando um estraga. É preciso reconsiderar esse modo de produção e fazer produtos que sejam efetivamente bens duráveis.
O transporte individual é outra ação que precisa ser repensada. A mobilidade urbana gratuita e coletiva deve ser implementada, como já vem ocorrendo em algumas cidades europeias.
As fontes de energia renováveis também já poderiam estar sendo desenvolvidas e usadas de forma massiva. Mas o capitalismo, naturalmente, detesta tais soluções porque vão contra a sua própria sobrevivência.
Entretanto, é preciso que a nossa geração tome para si a responsabilidade pela vida no planeta, se não estaremos lavando as mãos como fez o rei francês que não se importou com o dilúvio a porvir, sendo que foi ele – assim como somos nós – quem o causou.
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