Em entrevista, Ricardo Salles diz que Chico Mendes é irrelevante


Nós até gostaríamos, mas é difícil falar algo positivo sobre Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, que mais uma vez mostra desconhecimento sobre a pasta que chefia, uma das mais importantes não somente para o Brasil como para o mundo.

Entrevistado de segunda-feira no programa Roda Viva, Salles mostrou que não está conectado com as pautas ambientais e, também, deixou clara a sua ignorância sobre o maior exemplo brasileiro para o mundo em relação ao ambientalismo: Chico Mendes.

Ele confessou ao vivo no Roda Viva que desconhece quem é Chico Mendes. Como se não bastasse, emitiu opiniões negativas sobre o líder seringueiro como:

“Ele usava os seringueiros para se beneficiar, fazia uma manipulação da opinião ali”.

Para piorar ainda mais a situação, o ministro ainda disse que Chico Mendes é “irrelevante”.

“Que diferença faz quem é o Chico Mendes neste momento?”, arrematou.

A jornalista Cristina Serra, convidada do programa, lembrou a Salles que o seringueiro “é um homem reconhecido pela ONU”. Saindo pela tangente, por não ter argumentos, ele disse que “a ONU reconhece um monte de coisa errada também”.

Assistindo à entrevista na íntegra é notório o desconhecimento de Salles sobre a história ambiental do Brasil.

Quem foi Chico Mendes

Chico Mendes ganhou notoriedade em um momento em que o Brasil estava devastando a floresta amazônica, nas décadas de 1970 e 1980, motivo pelo qual ganhou vários inimigos e acabou sendo assassinado.

De acordo com o Diário do Centro do Mundo, no documentário “Eu Quero Viver”, lançado pelo cineasta inglês Adrian Cowel em 1987 e que fez Chico Mendes ficar conhecido internacionalmente, o próprio Chico diz:

“Eu sempre fui seringueiro, meu pai foi seringueiro. Eu comecei a cortar com 9 anos de idade. Durante 20 anos, eu cortei seringa direto. Só em 75 mais ou menos, quando entraram os fazendeiros, eu entrei no sindicato, aí eu parei mais um pouco e cortava menos.

Sobre a seringa, o seringueiro fala da forma sustentável de extraí-la, gerando riqueza e preservando a natureza:

“As seringas são cortadas duas vezes por semana, numa atividade que pode durar para sempre”.

O que, no fundo, quer dizer a declaração de Salles?

A fala do ministro deve ser lida com mais profundidade, porque, na verdade, ela quer silenciar a história do país e escrever uma outra em que o meio ambiente também dela não fará mais parte, dando permissão para o agronegócio invadir a Amazônica e mineradoras agirem impunemente.

O Blog do Ismael divulgou o comentário da coordenadora do Comitê Chico Mendes e filha do líder seringueiro, Angela Mendes, sobre a declaração do ministro acerca de seu pai:

“Entendo perfeitamente a posição e o questionamento desse ministro do Meio Ambiente, considerando quem ele é, quem ele defende, e como ele tenta minimizar e relativizar esses crimes ambientais em Mariana, Brumadinho e tantos outros que vão ser facilitados por essa flexibilização da legislação ambiental e principalmente dos licenciamentos para essas obras”.

Ela chama o ministro do Meio Ambiente de ministro da Mineração, visto que ele defende os opositores do meio ambiente. Infelizmente não é que nos governos passados tivemos grandes defensores ambientais, a impressão que fica é que os interesses comerciais continuam valendo acima de tudo. Na entrevista de Salles está bem claro de que lado ele está. Veja aqui no vídeo abaixo e tire tuas próprias conclusões.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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