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Nossos recursos naturais sempre foram objeto de saques pelos colonizadores – antigos e modernos – em uma lista imensa onde entram o pau-brasil, açúcar, ouro, diamantes, algodão, café, ferro, borracha, nióbio, sal, mogno, petróleo e agora, a água boa que nosso território tem em abundância.
Já entramos na época da “exportação da água virtual” e isso ocorre quando nosso mercado de exportação leva produtos agrícolas para fora do país – os mais relevantes desta lista são as frutas e a soja mas, tudo o que se produz no campo, de gado aos tecidos, tem água embutida, você sabe. Mas, são os procedimentos de irrigação que, tirando água de muitos, os canalizam para o agronegócio, desviando rios, salinizando solos e deixando povos inteiros sem água de beber.
Veja aqui o quanto se gasta em água para produzir o que vendemos ao exterior e que traz imensos lucros às empresas que fazem o negócio, não tanto aos agricultores que produzem: segundo os dados da Waterfootprint, para produzir 1 quilo de banana são gastos 790 litros de água e, no caso da soja, para produzir 1 quilo desta leguminosa são necessários 1.500 litros de água.
O Brasil tem uma “pegada hídrica de 2027 metros cúbicos per capita, por ano” e, deste total, 9% está fora das fronteiras do país.
Agora, nossos mananciais estão na mira de grandes corporações – Nestlé e Coca-cola para citar as maiores – e, você verá que, onde a fruticultura irrigada impera – agronegócio no nordeste – a água tem dono, e seu dono não é o povo da região.
Estou falando aqui da Chapada do Apodi, no Ceará, onde a água de irrigação das frutícolas não só tem dono como está contaminando os aquíferos subterrâneos que são recursos naturais pertencentes ao povo, segundo a nossa Constituição afirma. E mais, a água tem dono, é cara e não está ao alcance nem para uso do pequeno agricultor que ainda carrega lata d’água na cabeça para dessedentar sua família, seu gado ou sua horta.
Mas, esse problema, do saque da água, não acontece só aqui no Brasil, claro. Onde quer que haja água, haverá capital com interesse nela, lucros imensos para aqueles que a dominam e povo sedento.
Mesmo assim sabemos, e dizemos, que a “água é um bem de necessidade primordial” cujo direito é de todos. Sem água não há vida, sabemos também, então, quando poucos se apropriam desse recurso natural mais precioso, muitos ficarão na sede ou na necessidade de o comprar a qualquer preço, certo?
“O avanço das ondas das novas privatizações vem como um tsunami. O problema é que agora não há mais estatais como Vale do Rio Doce, Embraer, Telebras, Rede Ferroviária, etc. Tudo já foi vendido nos anos noventa. Se é preciso satisfazer a sede dos grupos econômicos, que venha a bebida disponível no momento e esta é a água nossa de cada dia” conta Flávio José Rocha da Silva do Observatório da Privatização da Água onde esse doutor em Ciências Sociais discute a questão em diversos artigos interessantes como é o caso deste seu artigo publicado no Ecodebate.
Se for do seu interesse aprofundar o assunto, sugiro que leia o livro “El convenio azul – La crisis global del agua y la batalla futura por el derecho al agua”, de Maude Barlow, disponível aqui.
Mas, por quê nos metemos nesse assunto que sequer nos atinge diretamente?
Podemos pensar que não nos atinge se ainda temos água farta nas torneiras e dinheiro suficiente para comprar as frutas de que gostamos.
Podemos também pensar que não nos atinge a falta de água se vivemos em algum estado do sul, ou em uma cidade grande e bem estruturada, ou se temos poço no fundo do quintal. Mas, não se esqueça, quando começar a faltar água para viver, aí sua preocupação “já vai tarde”, viu?
Entretanto, relembre a Laudato, Si do Papa Francisco, SOBRE O CUIDADO DA CASA COMUM, a Terra, nosso planetinha azul (de água).
ÁGUA VIRTUAL: UM CONCEITO QUE REFORÇA IMPORTÂNCIA DO CONSUMO CONSCIENTE
Categorias: Ambiente, Informar-se
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