Mariana: um ano após a tragédia


Bento Rodrigues continua sendo a imagem da destruição. Um ano após o desastre ambiental que sucumbiu Mariana e o Rio Doce, as imagens continuam sendo de destruição.

Um ano depois

O desastre ambiental que arrasou Mariana e outras cidades da bacia hidrográfica do Rio Doce, em Minas Gerais, já cumpriu um ano – e a lama continua por lá, os riscos são imensos de novos desastres, a população que perdeu tudo ainda não foi recompensada. E a mineradora continua fazendo projetos de expansão.

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Ou seja, de 5 de novembro de 2015 até hoje muitas ações foram exigidas, muitas promessas foram feitas, tanto pelo poder público quanto pela indústria que arrasa com as terras mineiras.

Providências mínimas

Nada resolvido que beneficie os moradores das áreas arrasadas mas, muito foi feito para beneficiar a empresa causadora do desastre ambiental, a Samarco.

Aliás, tudo foi feito para permitir que a Samarco continue destruindo a região em prol dos seus lucros minerários.

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Os diques que assustam

obras da barragem

Bento Gonçalves está se transformando em um pátio de rejeitos, uma lagoa ligada a outra, numa sequência que ocupa o vale. Veja no vídeo abaixo.

Rompimento da barragem do Fundão completa um ano from Agência Brasil on Vimeo.

Segundo a existe um projeto, da Samarco, de reconstrução dos bairros arrasados pela lama para o qual os moradores foram ouvidos. A perspectiva é de que aqueles que perderam suas casas, as tenham de volta até 2018 – onde? Não sei pois, a região continua ocupada pela lama de rejeito e, em parte, pelas lagoas e diques de contenção. E as próximas grandes chuvas é que serão “o fiel da balança”.

mariana mapa

Mas, o que não volta, não se recupera, fora as vidas perdidas, são as lembranças, as fotos de infâncias, os objetos queridos, as velhas casas coloniais, o crucifixo protetor. Ou, como contam alguns moradores de Paracatu, os animais que sucumbiram – cachorros, vacas, cavalos – e que faziam parte da sua existência. Nada do que é vivo poderá ser restituído aos que tudo perderam no desastre ambiental causado pela Samarco.

pichaoaes bento rodrigues

A insegurança dos despossuídos

O Ministério Público de Minas Gerais conseguiu, por acordo judicial com a Samarco, um adiantamento das indenizações previstas na ação civil pública. É pouco para quem perdeu casa, pertences, produção, animais e esperança. É nada para quem perdeu os entes queridos e mais a vida que tinha. Quem perdeu a casa recebeu R$20 mil, quem perdeu a casa de fim de semana, R$10 mil e as 19 famílias que perderam seus entes, R$100 mil cada uma.

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“Quando uma pessoa sofre um dano, o caminho natural para a reparação é entrar com ação judicial e aguardar o julgamento. A indenização é paga após o trânsito em julgado. Para que as pessoas não esperassem tanto, nós negociamos o adiantamento. Mas é um valor parcial. E no final, quando for decidido o valor total, esses adiantamentos serão descontados”, explica o promotor Guilherme de Sá Meneguin.

barragem de funduo

E a recuperação ambiental da área?

É bom que se saiba que, em área minerada não há recuperação real possível – veja bem: a mineração remexe o solo de tal maneira que, o rejeito de profundidade vem para cima, invertendo a vida. Sim, rejeito de mineração é material “quase” morto – não é solo agricultável sendo, inclusive, bastante tóxico para as plantas por conta da sua pobreza orgânica e acúmulo de minérios de subsolo.

Porém, “segundo o Ibama, a recuperação ambiental da área atingida é um processo de longo prazo: são 40 mil hectares. A Câmara de Restauração Florestal do comitê acompanha os trabalhos. Na área de Bento Rodrigues foi feita uma revegetação inicial de 800 hectares com gramíneas e leguminosas para combater a erosão”.

E as águas de beber?

Bem, sabemos pela imprensa alternativa que as populações da bacia do Rio Doce continuam enfrentando sérias dificuldades no que tange a qualidade das águas de beber oferecidas pelo poder público e empresas de saneamento hídrico. A confiança na qualidade das águas sucumbiu junto com a vida na calha do Rio Doce: “A população tem dificuldade de aceitar essa água. Mas com investimentos, a situação foi contornada. A água distribuída na cidade está dentro dos padrões de potabilidade”, diz Suely Araújo do comitê de Governador Valadares, cidade cujo sistema de abastecimento de águas está diretamente ligado à captação no leito do Rio Doce.

Os investimentos em água boa

A “Câmara de Segurança Hídrica e Qualidade da Água definiu 39 municípios que receberão ainda este ano os primeiros R$50 milhões de um total de R$500 milhões que a Samarco destinará à obras de saneamento”. 39 municípios é um número abaixo do necessário – a promessa é de que, no futuro, outras cidades também possam ser beneficiadas por essa medida de compensação de danos.

Mariana está em crise

Claro, uma crise econômica resultante de um desastre ambiental cultivado pelos interesses financeiros de uma empresa mineradora – o distrito de Mariana perdeu tudo: sua imagem, suas gentes, suas terras, seus prédios históricos, sua vida e os trabalhos possíveis para sua população. E, futuramente, poderá perder mais ainda já que suas terras estão na frente da área de expansão da mineradora Samarco (que, há anos, vem tentando comprá-las – lembra grilagem, não?)

mariana turismo

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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