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É estranho mas é verdade. Tem gente que nem reconhece a nossa Via Láctea porque já não vê mais as estrelas. É a poluição luminosa que impede. Isso é sério.
Em São Paulo ou em qualquer cidade grande já não se vê o céu noturno. Estrelas que a gente via quando era criança agora só aparecem, palidamente, em alguns lugares menos iluminados. E a luz de qualquer cidade que ofusca, no horizonte, dá aquele clarão amarelado ou branco, dependendo do tipo de lâmpadas que se usam nas ruas.
A tal iluminação pública, tão exigida para efeitos de segurança dos cidadãos, nos impedem de vê-las. E não só.
Também nos diminuem a acuidade visual. Por conta das luzes das cidades, à noite, já não usamos, como antes, a visão noturna, natural no ser humano como em todos os animais. E isso é bastante ruim para a saúde.
A poluição luminosa refere-se ao excesso de iluminação artificial que interfere no ambiente natural noturno. Ela é causada pelo brilho excessivo de luzes urbanas, industriais ou residenciais, afetando negativamente o céu noturno, a visibilidade das estrelas, a fauna, a flora e até mesmo a saúde humana.
Existem várias fontes de luz que podem causar poluição, por exemplo, luzes externas nas residências, no comércio, nos anúncios publicitários, nas fábricas, nos hotéis, mas a fonte principal é a iluminação artificial pública.
A poluição luminosa tem tudo a ver com a quantidade de pessoas habitando por metro quadrado e com cidades cada vez maiores e mais povoadas. Claro, todos precisamos de iluminação, em casa e nas ruas mas, há um certo exagero e um descuido técnico na colocação das luzes. Mas não só nos grandes centros urbanos ela acontece.
Em cidades menores, como em Itanhaém, município cuja população total ronda as 80 mil pessoas, a cidade emite o clarão amarelado ofuscando o Cruzeiro do Sul, tão lindo, orientador das navegações no nosso hemisfério.
É tanto ofuscamento que, na verdade, não se vê nada direito, e também não se vê o céu. Até nas praias, os holofotes iluminam as ondas – para quê? Não se sabe! Mas sabemos que a poluição luminosa prejudica a normalidade da vida marinha. Essa situação é pior em praias onde tartarugas vêm desovar, como nas do Recife, pois as tartaruguinhas recém-nascidas perdem seu rumo natural, que seria o de seguirem o brilho da lua.
As luzes amareladas que formam esse halo sobre as cidades poluindo quilômetros à volta são originadas de “luzes de sódio” mal direcionadas. Para que iluminar o espaço se precisamos é ver o chão da rua? Já as luzes brancas são de mercúrio, imagina só o risco ambiental e de saúde pública.
O brilho de uma cidade ofusca as estrelas do céu
E a poluição, ou o medo, é tanto que a luz do quintal do teu vizinho clareia como dia teu quarto de dormir. E o sono, aquele bom sono reparador, que depende de um escurinho aconchegante, vai para o espaço. E isso é altamente estressante, não sei se você sabe.
São vários os impactos causados pela poluição luminosa nos seres vivos, animais e plantas, de todos os ambientes onde se vive, terra, água e mar.
Nós, humanos, que perdemos o ritmo do sono, reduzimos a nossa capacidade visual, entramos em estresse e modificamos, para pior nosso relógio biológico que depende do ir e vir da luz ambiente para funcionar direito.
Nas plantas a situação é semelhante: quando há luz a planta fotossintetiza, e tem que ter um período de descanso, de dormir, como tudo o que é vivo, para conseguir purgar as toxinas resultantes da combustão que lhes dá vida. Tem planta que não consegue mais florecer pelo excesso de luz no ambiente.
Os animais que migram se desorientam com as grandes luzes das cidades, e perdem seu rumo. E quando perdem o rumo, se perdem de seu ciclo biológico e morrem. Já falamos das tartarugas, mas também os peixes precisam do escuro, na beira da praia que é onde se alimentam os pequenos, alevinos, e todos os outros animais que povoam as areias, as beiras de estrada, as matas urbanas, enfim, toda a vida se ressente de tanta iluminação.
Saiba mais:
As leis no Brasil restringem, fixam parâmetros que buscam evitar e corrigir a poluição luminosa nos centros urbanos. Mas não é apenas nas grandes cidades que a situação já beira a catástrofe, pois que, se todas as estradas são fartamente iluminadas, esse excesso transcende para os campos e praias, afetando todos os ecossistemas de uma forma irreversível.
Onde o céu brasileiro é visível a beleza e esta aqui
Mas, fundamental mesmo, que fará mudar essa triste e ofuscante realidade é a conscientização da população. A “regra de ouro” é: “iluminar apenas o que for preciso e apenas durante o tempo que for necessário”.
Essas ações, de diminuir o impacto das luzes, ajudarão a economizar energia, dinheiro e reduzir os danos ambientais mas também poderá, com o tempo, devolver ao ser humano a capacidade de olhar além de nós mesmos e, com certeza, nos permitirá, de novo, nos maravilharmos com a imensidão do espaço.
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Fontes fotos: International Dark Sky Association (IDA)
Categorias: Ambiente
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