Aedes aegypti: controle com bactéria Wolbachia é possível mas, será que é bom para a vida?


A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está pesquisando as possibilidades o uso da bactéria Wolbachia para o controle do Aedes aegypti nas regiões urbanas. Este é o objetivo do projeto científico “Eliminar a Dengue: Desafio Brasil” que a Fiocruz comanda.

Segundo a Fiocruz, esse é um “projeto seguro e autossustentável para controle de doenças virais, como parte de um esforço de pesquisa internacional envolvendo Austrália, Brasil, Vietnã, Indonésia e Colômbia” a que se organizaram no programa internacional “Eliminar a Dengue: Nosso Desafio“, programa este que, como era de se esperar, goza de total apoio da Organização Mundial da Saúde.

Segundo esse grupo de cientistas, foi comprovado em laboratório que a bactéria Wolbachia pipientisy quando inserida no mosquito Aedes aegypti, é capaz de reduzir a transmissão dos vírus da dengue e febre amarela (vírus da família Flaviviridae) e do vírus chikungunya (vírus da família Togaviridae e, ao que parece (sim, parece pois que ainda não há a certeza), também poderá ter a mesma atuação benéfica em relação ao zika vírus.

O gênero Wolbachia é composto por bactérias, de diferentes cepas, que habitam, naturalmente, uma grande quantidade de espécies de insetos em formas parasitárias e mutualísticas. Mas, não habita o organismo do mosquito Aedes aegypti.

Quando no organismo de um inseto, a Wolbachia é retransmitida às gerações posteriores. Portanto, todo inseto infetado com Wolbachia dará prole também infetada. Mas, no caso do mosquito aedes, essa prole poderá não ser fértil, ou então, poderá nem sequer vingar, dependendo de se o acasalamento se dá entre um macho e uma fêmea infetados ou se entre um macho infetado e uma fêmea não infetada. O resultado será, pelo menos teoricamente, a redução drástica da população de mosquitos aedes.

Isso parece a extinção de uma espécie animal, de maneira deliberada. O pior é que sabe-se relativamente pouco sobre a importância dessa espécie de mosquitos na ecologia do ecossistema terrestre, segundo o pesquisador chinês Guo Yuhong, que alertou para possíveis riscos do experimento com Wolbachia, porque ainda não está claro o “potencial impacto sobre o ecossistema das espécies Aedes aegypti“.

No Brasil o projeto está sendo aplicado em dois bairros do estado do Rio de Janeiro: Tubiacanga, na Ilha do Governador, na cidade do Rio, e de Jurujuba, em Niterói.

“Apesar de o principal objetivo de nosso programa ser a eliminação da dengue, essa tecnologia é aplicável a outras doenças transmitidas por mosquitos-, já que a presença do Wolbachia no Aedes aegypti também reduz significativamente a transmissão de outros vírus, incluindo o da febre amarela, do chikungunya e do zika”, afirma o entomólogo da Universidade Monash, de Melbourne (Austrália), Iñaki Iturbe-Ormaetxe em entrevista prestada ao Jornal El País, ontem (21).

Cada vez que o homem introduz uma alteração na ecologia da Terra, sempre causa um desequilíbrio futuro

Aconteceu com a introdução de coelhos na Austrália que hoje são uma praga que prejudica seriamente a agricultura daquele continente assim como se verifica sempre que, em uma região se procede ao extermínio de cobras. Então, o que acontece é que aumenta em muito a população de ratos, os alimentos das cobras. Também pode ocorrer o aumento inusitado dos batráquios, os sapos, que também são alimentos de cobras.

Quando isso ocorre, o aumento de ratos em zonas urbanas faz com que aumente o número de doenças por eles transmitidos aos seres humanos. Já, se há muitos sapos, estes reduzem o número de mosquitos da região criando um déficit destes animais que também são alimento de pássaros. E ai são os pássaros, comedores de mosquitos, que passarão fome. Enfim, este é um ciclo vicioso que nos afetará negativamente pois, como desequilíbrio ambiental, desequilibrará nossa vida humana também.

Esse é o risco, bastante alto, do extermínio de mosquitos, se tal acontecer. E, não nos esqueçamos de que na natureza não existe vácuo – se some uma espécie, outra ocupará seu lugar no ecossistema. E a espécie que ocupará o nicho bem pode ser pior do que a que o ocupava anteriormente. Por isso os entomologistas alertam para o risco dessa alternativa com a Wolbachia.

A verdade é que os desequilíbrios ambientais são causados pela forma de vida que a sociedade humana escolheu, e seus custos são altíssimos.

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Fontes de referência:

https://agencia.fiocruz.br/oms-incentiva-novas-estrategias-de-controle-do-aedes-aegypti

http://www.who.int/emergencies/zika-virus/articles/mosquito-control/en/

Fonte foto: http://aem.asm.org/content/72/11/6934/F2.large.jpg




Redação greenMe

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