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O Instituto Terra, na Fazenda Bulcão, em Aimorés, Minas Gerais, foi fundado por Sebastião Salgado e sua mulher, Lélia, em 1998. A fazenda, transformada em Reserva Particular de Patrimônio Natural tem o objetivo de recuperar a mata nativa e as águas de toda a sua área.
Com uma área total de 709,84 hectares, a fazenda de criação de gado, que antes chegara a ter até 1.200 cabeças, estava completamente degradada. Em 10 anos a mata nativa foi recuperada. Renasceu a mata atlântica originária, replantada “na unha” com sementes da região, primeiro com a ajuda de crianças das escolas públicas e logo, com a formação de toda uma estrutura técnica de apoio que integra hoje viveiro de mudas nativas, escola de educação ambiental, escola de formação de técnicos especialistas em meio ambiente, para além de dar apoio a agricultores particulares e associações de agricultores assentados em terras de Reforma Agrária.
A Fazenda Bulcão hoje é considerada um parque de Aimorés onde todos podem visitar, aprender, levar mudas de árvores nativas para suas terras e, mais importante, tornou-se um foco permanente de disseminação da ideia de preservação ambiental, através do programa de extensão tecnológica que atende a assentamentos de agricultores e do programa de formação de jovens e crianças, os Terrinhas, que divulgam os benefícios da preservação das matas e águas, formando consciência ambiental.
Sebastião Salgado adoeceu profundamente durante a realização de seu projeto Exodus. Sua alma adoeceu, ele estava morrendo, de desespero por todo o horror que viu pelo mundo.
As voltas que a vida dá levaram Sebastião Salgado, doente de tantas guerras, a assumir a fazenda de seu pai. A terra estava ressequida, comida pela erosão das pastagens de gado que tantos anos compactaram a terra das encostas. Da Mata Atlântica de sua infância, 70 % da cobertura vegetal de então, nada restava. Quase tão doente, ou mais, que seu próprio dono. E um salvou o outro. Assim explica ele o começo desse projeto, o Instituto Terra , no filme “O Sal da Terra”.
Replantou, cultivou, recuperou a terra, a mata, a natureza. E os animais voltaram. E as gentes reviveram. E ele, o fotógrafo social, guerreiro e aventureiro também reviveu recuperado em sua confiança de que sempre é possível se fazer algo. E fez.
Em suas palavras: “podemos recuperar a parte que destruímos para construir a modernidade, a sociedade de conforto em que vivemos. Esse mundo de conforto é possível, mas temos que modificar um pouco o nosso comportamento para torná-lo mais sustentável. É preciso refazer. Principalmente as florestas, temos de replantar. Isso podemos fazer juntos”.
As crianças fizeram o primeiro plantio, com mudas doadas. Agora lá há um dos maiores viveiros de mata atlântica.
“Plantar uma floresta, transmitir essa tecnologia, atingir a região inteira.”
Dois milhões e meio de árvores plantadas, de mais de duzentas espécies diferentes, recompõem a mata original.
O projeto inicial se ampliou para projeto sustentável de educação ambiental, de técnicas sustentáveis, de incentivo para a recuperação da região.
O Instituto Terra mantêm um viveiro com capacidade para 700 mil mudas de espécies para replantio, na região e produz 293 espécies que são introduzidas nos ecossistemas da região, com um potencial de produção de 1 milhão de mudas.
Também lá acontece o Projeto Aimorés, um programa de desenvolvimento sustentável para a região que visa a formação de técnicos especialistas em meio ambiente, aulas de educação ambiental e acompanhamento técnico de todos os que queiram sua ajuda.
Derrubar uma floresta é rápido, replantar e conseguir que se estabeleça pode demorar muitas décadas, ou até mesmo, séculos.
Tiraram o gado, isolaram a área e investiram muito, em trabalho e dinheiro, de solidariedade.
As sementes chegavam e não se sabia se tinham dormência ou não. Perderam muitas, aprenderam muito. No primeiro ano a perda foi de 60% das mudas plantas, no segundo, 40%, e depois, deu certo, afirma Lélia com alegria.
As mudas são produzidas no viveiro, com sementes coletadas na redondeza, algumas compradas, e usadas nas áreas que ainda requerem plantio manual, da própria RPPN mas, outras são enviadas para os agricultores e associações agrícolas do município para recuperação de outras áreas degradadas.
Aproveitam a época das chuvas para fazer o plantio assim evitando irrigar. A dificuldade é que a região não dispõe de um mercado firme para a compra de sementes adequadas e por isso o Instituto Terra formou de uma equipe que faz coleta de sementes pelas matas num raio de 200 km no entorno.
Você já pensou quanto custa recuperar a mata? Segundo o agrônomo responsável do Instituto Terra, esse custo atinge os 7 mil reais por hectare. Mas hoje a mata já tem capacidade de regeneração, em grande parte do território, então o instituto desenvolveu um programa de apoio aos agricultores que queiram aprender sobre manejo sustentável de suas terras, por exemplo, com a limpeza de áreas de capoeira, que podem gerar, sem desmatar, lenha para consumo.
O Instituto Terra é mantido por financiamento de particulares, pessoas jurídicas e projetos junto a grandes financiadores. Segundo afirma o responsável da área (vide vídeo) os maiores financiadores do instituto estão na Itália, Espanha e Estados Unidos, suprindo 80% do caixa.
As nascentes rebrotaram, a mata já não precisa de manejo, já tem recuperação natural.
Os animais voltaram. Hoje tem lá de um tudo: macaco barbado, jaguatirica, gavião, canário da terra, tamanduá, incluindo anfíbios, repteis, aves e mamíferos já há mais de 180 espécies.
Na mata as árvores grandes estão presentes: peroba, pau ferro, pau Brasil, ypê, aroeira, guaribu-sabão, cedro, paineira de espinho. Quando começaram só havia restado a peroba, umas 180 espalhadas pela fazenda toda, e é este o símbolo do Instituto Terra.
O sonho de Sebastião e Lélia é conseguirem o replantio de 50 milhões de árvores em 50 anos!
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Categorias: Ambiente, Informar-se
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