Falta de manutenção causa falha no Sistema de Proteção Contra Cheias do Rio Guaíba


Enquanto Porto Alegre enfrenta uma das maiores crises de inundação de sua história, senão a maior, uma pergunta ecoa pelos corredores do Brasil inteiro: “Quem é o culpado?”. Para muitos, a resposta é clara: a crise climática. No entanto, uma análise mais profunda revela que o problema vai além dos desmandos de Deus, clima ou aquecimento global. A recente catástrofe tem a ver também com o rompimento de uma comporta no Sistema de Proteção Contra Cheias do Rio Guaíba, o que trouxe à tona uma questão crucial: a falta de manutenção.

O Sistema de Proteção Contra Cheias, construído na década de 1970 após a enchente histórica de 1941, é composto por diques, casas de bombas e 14 comportas estrategicamente posicionadas para evitar que as águas do Rio Guaíba invadam as áreas baixas da cidade. No entanto, mesmo com todo esse aparato, as recentes inundações demonstraram a fragilidade do sistema.

O rompimento de uma das comportas na última sexta-feira (3) expôs uma realidade preocupante: o sistema, embora projetado para lidar com eventos extremos, não está recebendo a devida manutenção preventiva. E há a preocupação de uma outra comporta também se rompa.

Segundo especialistas, a falta de vistorias, testes e manutenção periódica das estruturas críticas, como as comportas e as casas de bombas, é o verdadeiro cerne do problema.

Fernando Dornelles, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, ressaltou que o sistema precisa de cuidados constantes para garantir seu funcionamento adequado.

“Se não houvesse falhas e se assegurassem que nos diques de terra a cota de seis metros estivesse estabelecida, a cidade de Porto Alegre estaria protegida”, alertou o especialista para o G1.

Essa visão é compartilhada por Fernando Mainardi Fan, também do Instituto de Pesquisas Hidráulicas, que destacou que o sistema atualmente opera mais como um retardador do que como um sistema de proteção efetiva. Embora tenha conseguido evitar danos maiores até o momento, as falhas no funcionamento do sistema já estão causando impactos significativos na cidade.

Diante desse cenário, torna-se evidente que as inundações em Porto Alegre não são apenas resultado da crise climática, mas também da falta de investimento em manutenção e infraestrutura para evitar desastres naturais. Enquanto as autoridades apontam dedos e buscam culpados, a população sofre as consequências de uma tragédia que poderia ter sido evitada. O tempo dirá se essa crise será um ponto de virada para mudanças reais ou apenas mais um capítulo em um ciclo interminável de negligência e inação.

Novas enchentes e inundações virão por aí. Não digam que não sabiam e não culpem a crise climática.

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Daia Florios

Cursou Ecologia na UNESP, formou-se em Direito pela UNIMEP. Estudante de Psicanálise. Fundadora e redatora-chefe de greenMe.


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