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Não adianta apenas sabermos que o Brasil se converteu em um dos países onde os agrotóxicos são mais utilizados na agricultura, incluindo aqueles classificados como “altamente perigosos”. É preciso ir além para entender a questão com o intuito de nos precavermos desse uso pernicioso que afeta diretamente a nossa saúde.
As principais empresas fabricantes de agrotóxicos atuam em mercados emergentes, como Brasil e Índia. Cerca de 35% da receita das cinco principais multinacionais do setor provêm de produtos considerados “altamente perigosos”, segundo um estudo da Unearthed, uma organização jornalística independente financiada pelo Greenpeace, em parceria com a ONG suíça Public Eye.
De acordo com uma reportagem da BBC News Brasil, o principal mercado dessas empresas é o Brasil.
“O Brasil compra mais pesticida do que qualquer outro país. A aprovação de novos produtos pesticidas por reguladores brasileiros, incluindo os que contêm HHPs, cresceram nos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro”, conclui o levantamento da Unearthed.
Quando a farra dos agrotóxicos começou a acontecer no ano passado, assim que Jair Bolsonaro assumiu a presidência, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que os novos produtos não eram “veneno no prato de ninguém” e eram até “menos tóxicos”.
Entretanto, não é esse o entendimento do estudo, que comparou o volume de agrotóxicos vendidos em países ricos e países pobres ou emergentes. Naqueles, 27% dos agrotóxicos vendidos são considerados altamente perigosos, enquanto nestes o número aumenta para 45% – no Brasil o registro sobe para 49%.
Isso faz do gigante sul-americano o principal comprador de agroquímicos do mundo, o que representou uma movimentação financeira, em 2018, de US$ 3,3 bilhões (R$ 14,5 bilhões), aproximadamente. A maioria dos produtos vai para a produção de soja, milho e algodão.
O relator especial das Nações Unidas para substâncias tóxicas e direitos humanos, Baskut Tuncak, viu com preocupação os dados do estudo:
“Estamos em meio a uma explosão invisível do uso de agrotóxicos em países de renda média e baixa que estão mal equipados para lidar com esses perigos”.
Os agrotóxicos altamente perigosos (HHP, na sigla em inglês) são considerados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) como “pesticidas que reconhecidamente representam riscos agudos ou crônicos à saúde ou ao meio ambiente segundo os sistemas de classificação internacionalmente aceitos”.
Esses produtos causam a contaminação da água ou interrompem funções importantes para o ciclo da natureza, como a polinização. Um deles é o glifosato – desenvolvido pela Monsanto, empresa que hoje pertence à Bayer, a mesma que fabrica medicamentos – conhecido por seu alto risco cancerígeno. Outros são o glufosinato e o ciproconazol, que os órgãos de regulação da União Europeia classificam como prejudiciais para o feto, a fertilidade e o desempenho sexual.
Enquanto isso, o nosso órgão regulador parece saudar a vinda dos agrotóxicos descartados pelos países ricos do mundo.
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Categorias: Agricultura
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