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A pecuária é responsável pela ocupação de 75% das áreas desmatadas na região pantaneira, além de ser uma das forças motrizes das queimadas na região, segundo informa este relatório do BNDES.
O Pantanal está localizado na bacia hidrográfica do Alto Paraguai, com área aproximada de 150.000 km², com 65% de seu território no estado de Mato Grosso do Sul e 35% no Mato Grosso.
O Mato Grosso do Sul é o maior produtor e abastecedor de carne bovina do país, e 1/4 do seu território é constituído pelo Pantanal, santuário ecológico de bioma endêmico, dividido com cerca de 28 milhões de cabeças de gado.
No Mato Grosso do Sul também existe outro bioma endêmico, o Cerrado que, por se tratar de um solo relativamente pobre, sempre foi utilizado pela pecuária extensiva de uso de pastagens nativas.
“O Cerrado é responsável por 50% da carne produzida no Brasil”, é o que afirma um estudo feito pela UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos).
Segundo o estudo, é nesse bioma, particularmente no Centro Oeste, onde se encontram o maior número de frigoríficos e o maior número de indústrias frigoríficas, concentrando os maiores curtumes e os grandes empreendimentos suinícolas e avícolas do país.
A pecuária impulsiona também as produções de culturas como soja (5º do país) e milho, para abastecimento, principalmente, de ração.
Quase todo o território sul-matogrossense é constituído por terras potencialmente aptas para a exploração agrosilvopastoril, que há décadas vêm sendo ocupadas irregularmente, sem aproveitamento racional, exigindo pesquisas que sirvam de base criteriosa da ocupação do solo na região.
Acredita-se que existam 5,8 milhões de hectares, praticamente 1/3 do território do estado sul mato-grossense, incluindo as regiões pantaneiras, sujeitas inclusive à desertificação, sendo usadas com pastagens plantadas e replantadas, inclusive aquelas oriundas de queimadas.
Segundo pesquisadores,
“apesar de o bioma cerrado ser a mais importante região produtora de carne bovina do Brasil, de 50% a 60% de suas pastagens cultivadas é feita com grau alto de degradação”.
Com a degradação e falta de capacidade de regeneração das pastagens, devido ao enorme consumo pelos animais, é comum que os pecuaristas queimem o solo para provocar a renovação do pasto, culminando com a tragédia que estamos vendo hoje.
Além disso, o manejo totalmente inadequado, provoca a degradação avançada dos recursos naturais de maneira irreparável, com emissão altíssima de dióxido de carbono (CO2) quando há desmatamento, ou quando há o manejo inadequado de pastagens pelo uso de fogo.
Segundo Francisco Manzo, diretor técnico da Associação de Criadores do Mato Grosso (Acrimat):
“quem coloca fogo numa época dessas, de seca extrema, não está em sã consciência ou não é produtor rural”.
Francisco afirmou, em reportagem para o Globo Rural, que os pecuaristas do pantanal fazem queimadas que seguem técnicas controladas para abrir pastagens, mas em épocas do ano de maior umidade, e restritas à pequenas porções da propriedade.
Infelizmente hoje, o que vem ocorrendo não são queimadas, mas incêndios de grandes proporções, incontroláveis, também por questões climáticas que estão contribuindo para a propagação rápida e desproporcional do fogo.
De acordo com dados do Programa Queimadas do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, foram registrados 165,7 mil focos de queimadas no Pantanal na primeira quinzena de setembro, número 354% maior que o mesmo período do ano passado.
O fogo já consumiu cerca de 2,9 milhões de hectares do bioma, sendo 1,7 milhão no Mato Grosso e 1,1 milhão no Mato Grosso do Sul. O número representa cerca de 19% do Pantanal, conforme o Instituto SOS Pantanal.
Comprovando que a tragédia do Pantanal tem nome e sobrenome, a Polícia Federal investiga cinco fazendas na região de Corumbá, no norte do Mato Grosso do Sul por terem dado início a incêndios no Pantanal, com o objetivo de aumentar área de pastagem para gado.
As fazendas foram identificadas a partir de imagens de satélite que indicaram focos de incêndio iniciado dentro dessas propriedades antes de o fogo atingir áreas de preservação permanente, Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense e da Serra do Amolar.
Segundo o delegado da Polícia Federal em Corumbá, Alan Givigi:
“São fazendas em locais inóspitos, é difícil que esses focos tenham ocorrido de forma acidental. A suspeita é de que esses fazendeiros tenham feito a queima para aumentar a área de pastagem para gado, e o fogo acabou se alastrando para os parques nacionais e reservas”.
Se a investigação confirmar que os incêndios foram provocados por ação criminosa, os acusados poderão responder pelos crimes de dano a floresta de preservação permanente, dano direto e indireto a unidades de conservação, incêndio e poluição, com penas que podem ultrapassar os 15 anos de prisão.
É imprescindível que a população reveja o modo de consumo de carne, forçando as grandes indústrias a repensar também o modelo de produção e manejo do meio ambiente, onde todas as ações estão interligadas, desde as grandes pastagens, imensas propriedades privadas, imensas áreas para cultivo de grãos para ração, em troca de um meio ambiente cada vez mais degradado, irrecuperável, causando desequilíbrio ambiental dos mais diversos, como afetação do clima e o surgimento de doenças e pandemias.
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Categorias: Agricultura, Informar-se
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