Bananas estariam mesmo em extinção?


O mercado global se prepara para trocar de banana. Há anos que as notícias, e os estudos, falam da possibilidade de extinção da banana da variedade cavendish, as nossas nanica e nanicão, a única que tem cabida nos escaparates internacionais por seu tamanho, cor uniforme, formato sempre igual e sabor inalterável.

Todas essas qualidades “comerciais” da nanica ocorrem porque ela é um clone da originária. Bom, mas não só estas qualidades interessam ao mercado, claro. Acontece que, até poucos anos atrás, a nanica era, de certa forma, imune aos devastadores ataques do fungo sigatoka negra, o mais terrível inimigo das bananeiras, dos bananicultores e das exportações de banana. Porém, já não é imune à sigatoka amarela (o fungo se aperfeiçoou com o passar dos tempos, como tudo na vida).

A sigatoka, a praga dos bananais desde meados do século XX, quando exterminou a variedade Gros Michel, se apresenta em 3 espécies diferentes que atacam o sistema imunológico da bananeira, reduzindo a quantidade de folhas e queimando a planta, o que dificulta a fotossíntese e prejudica, em muito, a produção pois gera cachos pequenos e bananas deformadas e ácidas, cujo gosto nem consistência é o agradável da banana.

Na década de 1960 o mercado criou a cavendish que nós conhecemos hoje mas esta, como a sua antepassada, Gros Michel, e esta também já está condenada.

A produção comercial de bananas data de meados do século IX o que me leva a pensar que a monocultura de bananas, como todas as outras monoculturas, têm prazo de validade (algo em torno dos 60 anos até que os fungos se tornem mais fortes do que os fungicidas usados para controlá-los).

Sobre os avisos de extinção da banana

Já em 2003, uma reportagem da BBC dizia que a banana poderia estar extinta em 10 anos citando um cientista belga (o artigo não referenciava o nome deste cientista) e a revista New Scientist. Também afirmava que, “Emile Frison, chefe da Rede Internacional para o Aprimoramento da Banana, em Monpellier, na França, afirma que falta diversidade genética à planta para resistir a doenças que atacam as plantações”. Ou seja, há mais de uma década a comunidade científica procura a forma de, mais uma vez, criar outra banana comercializável.

Neste ano, 2016, a BBC publicou, outra vez, artigo falando da extinção das bananas, especificamente da variedade cavendish mas estendendo a ameaça, como possibilidade, à todas as espécies de banana. Isso porque, se antes a sigatoka ficava em áreas limitadas à produção comercial da United Fruit (os países da América Central e Caribe) hoje já estão contaminadas plantações imensas na China, Indonésia, Malásia e Filipinas e, segundo a “Panama Disease.org, – entidade formada por pesquisadores holandeses para alertar sobre o perigo da doença – afetará logo, e em larga escala, plantações da América do Sul e África”.

Este é o preço da monocultura globalizada Joseph Paxtononde, bananas daqui e dali são intercambiadas, e seus fungos, idem.

Mas, por quê a cavendish está condenada? Bem, as variedades comerciais de banana são híbridas, sem sementes e se reproduzem por partes da planta mãe. A cavendish, toda a produção mundial desta variedade, descende de uma única planta criada por um jardineiro inglês, Joseph Paxton, a partir de um cacho de bananas das Ilhas Maurício. E a cavendish, que era imune à sigatoka, já não o é mais.

A banana no mercado interno brasileiro

Como diz a Embrapa, “as variedades de bananeira mais difundidas no Brasil são: Prata, Pacovan, Prata Anã, Maçã, Mysore, Terra e D’Angola pertencentes ao grupo AAB e utilizadas unicamente para o mercado interno. Já as do grupo genômico AAA, Nanica, Nanicão e Grande Naine são usadas, principalmente, para exportação e são preferencialmente utilizadas na industrialização”. E também temos outras bananas, de outras variedades, que são produzidas em menor escala, como a Ouro (AA), Figo Cinza e Figo Vermelho (ABB), Caru Verde e Caru Roxa (AAA). Algumas são diferencialmente suscetíveis ao ataque da sigatoka, como se pode ver nas tabelas do artigo e outras, como as caipiras, são resistentes.

Mas, mesmo aqui já perdemos, comercialmente, bananas para a sigatoka – foi assim que a banana-maçã perdeu mercado na década de 1970.

Os resultados das pesquisas científicas

Pesquisadores da Califórnia e da Holanda estão trabalhando no sequenciamento genético das bananas comerciais do grupo AAA, o grupo da cavendish, nanica e nanicão, como lhes chamamos e, correndo contra o tempo, pode ser que consigam “inventar” uma nova banana que aguente o tranco dos fungos sem que nós, comedores de banana, tenhamos de beber mais fungicidas do que os que já bebemos.

Outro grupo de cientistas está estudando o sequenciamento genético dos fungos Fusarium, causadores dos 3 tipos de sigatoka e, ao que parece, já têm bons resultados. Essa descoberta permitirá que se inventem fungicidas mais eficazes e, quem sabe, retardar a extinção das variedades cavendish até que outra banana seja inventada.

É esperar para ver pois, enquanto a monocultura for a forma de cultivo imperante estaremos, de qualquer forma, sujeitos à extinção de deliciosas espécies comestíveis pois, o uso de agrotóxicos, exigido no monocultivo, não mata absolutamente todos os bichinhos, sempre sobram alguns, os mais fortões que vão criar gerações imunes. E as plantas, em contrapartida, vão ficando mais fracas.

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Redação greenMe

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