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Quando se fala em comunidades mais vulneráveis ao contágio do novo coronavírus vem à mente aquelas mais desfavorecidas economicamente. Todavia, no contexto latino-americano, esse grupo é bem maior ao considerarmos, também, os povos indígenas.
A proteção às terras indígenas tornou-se ainda mais urgente para proteger os povos indígenas da pandemia de Covid-19. Evitar a propagação do vírus entre os indígenas é fundamental, devido às complicações logísticas de assistência à saúde, sobretudo, para aqueles que vivem em territórios isolados, por terem baixa imunidade a doenças “externas”.
De acordo com O Globo, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) confirmou o segundo contágio pelo novo coronavírus, Sars-Cov-2, em um indígena. Ele tem 37 anos, pertence à etnia kokama e vive na região oeste do Amazonas, conhecida como Vale do Javari. A Sesai informou, também, que o homem não apresenta os sintomas da doença e está sendo mantido isolado.
Ele já estava em isolamento por ter tido contato com a primeira indígena infectada, uma agente de saúde que recebeu o diagnóstico positivo para a Covid-19.
O chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Alto Solimões, Weydson Pereira, disse ao Globo que:
“O avanço do coronavírus na região é uma preocupação nossa, mas a gente tem tomado todas as medidas ao nosso alcance para evitar que isso aconteça. Este segundo caso está sendo monitorado. O paciente está sem sintomas e sem hospitalização”.
Dois fatores são preocupantes em relação ao avanço da doença entre os indígenas da região. O primeiro que o estado do Amazonas, segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, está na rota de transição da fase de transmissão comunitária para a de “aceleração descontrolada” no número de casos.
A segunda razão é que o Vale do Javari é a região brasileira com a maior população de indígenas isolados ou de recente contato, o que os coloca em mais vulnerabilidade.
Apesar dessas condições, o secretário especial de Saúde Indígena, Robson Silva, afirmou que todas as pessoas que tiveram contato com a agente de saúde estão em isolamento, logo não há risco de o vírus ser propagado.
Entretanto, para a líder indígena Célia Xakriabá, é preciso redobrar os cuidados com os povos indígenas porque o vírus pode exterminá-los. Ela reconhece que a pandemia é uma crise humanitária, mas para os indígenas, em especial, ela representa um risco real de extermínio.
A pesquisadora e ativista da Survival, Sarah Shenker, opina que a única forma de os indígenas não serem ameaçados pela transmissão da Covid-19 é que seus territórios estejam totalmente livres de invasores.
Os indígenas vivem de forma comunitária, sendo, portanto, impossível que eles realizam o isolamento social em suas aldeias. O seu modo de vida tradicional é um facilitador para a disseminação do vírus.
Soma-se a isso que os hospitais ficam muito distantes das terras indígenas para que eles sejam atendidos a tempo caso haja qualquer complicação. A assistência à saúde dos povos indígenas vinha sendo feita pelo programa Mais Médicos, que, ao ser suspendido pelo governo federal, fez com que os indígenas ficassem desassistidos.
Não há outra forma de evitar o contágio do coronavírus senão o isolamento social. Para os indígenas brasileiros, essa recomendação é a única garantia de que as suas vidas sejam preservadas.
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Categorias: Informar-se, Povos da Floresta
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