Há poucos meses, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro vaticinou que estávamos testemunhando uma ofensiva final contra os povos indígenas. O assassinato de dois homens da etnia Guajajara no último sábado (7), no município de Jenipapo dos Vieira, no Maranhão, é mais uma confirmação sombria dessa tese.
Um vídeo-denúncia com imagens do local e depoimento de um terceiro indígena baleado vem sendo compartilhado por organizações brasileiras e internacionais ligadas à proteção ambiental e à defesa dos povos tradicionais.
Correction: VIDEO taken after killing of Firmino Prexede Guajajara. Person who took video declares “Please share… this can’t keep happening. Brazilian authorities… must take action.” https://t.co/9UFmMQTH88
— AMAZON WATCH (@AmazonWatch) 7 de dezembro de 2019
Como informou a Deutsche Welle, testemunhas afirmaram que Firmino Prexede Guajajara e Raimundo Benicio Guajajara foram atingidos por disparos que partiram de um veículo branco, às margens da rodovia BR 226, entre as aldeias Boa Vista e El Betel, a 506 quilômetros da capital São Luís.
Eles saíam de uma reunião entre indígenas e a empresa Eletronorte. Segundo o cacique Magno Guajajara, presente no local quando o atentado ocorreu, havia cinco pessoas no carro. Para ele, o assassinato pode guardar relação com a reunião, convocada para tratar de ações de bem-estar voltadas para os habitantes da Terra Indígena (TI) Canabrava, no Maranhão.
“Nós nos sentimos vulneráveis. [O atentado] pode ter a ver com as denúncias que a gente faz das invasões dentro dos nossos territórios”, declarou Magno Guajajara à Deutsche Welle.
Conforme divulgado pelo El País, o governador do Maranhão, Flávio Dino, manifestou pesar em sua conta no Twitter e se disse solidários às vítimas, informando que equipes estaduais e federais estão trabalhando em parceria para atuar na área. Também se manifestaram em seus perfis nas redes sociais o ministro Sérgio Moro e a líder Sonia Guajajara, que está Madri por ocasião da Cúpula do Clima da ONU (COP-25).
Mais dois parentes Guajajaras foram assassinados hoje no Maranhão. Basta de vítimas, não queremos mártires, queremos vozes vivas! Toda solidariedade aos parentes da terra indígena Cana Brava.
— Sonia Guajajara (@GuajajaraSonia) 7 de dezembro de 2019
Lamento o atentado, ocorrido hoje no Maranhão, que terminou com dois índios guajajaras mortos e outros feridos. Assim
que soube dos tiros, a Funai foi até a aldeia tomar providências, junto com as autoridades do governo do Maranhão.— Sergio Moro (@SF_Moro) 7 de dezembro de 2019
Trata-se do segundo atentado contra indígenas da etnia em um período de dois meses. No início de novembro, a morte do líder Paulino Guajajara repercutiu no mundo inteiro.
A Anistia Internacional exigiu esclarecimentos:
“Os ataques aos povos indígenas, os primeiros habitantes do país, violam uma série de direitos: desde o mais básico e valioso, o direito à vida, passando pelo direito a seus territórios, seus modos de vida e a sua segurança […] Exigimos esclarecimento sobre as circunstâncias dessas mortes e a efetivação dos direitos humanos dos povos indígenas!”, declarou.
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