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A medicina é a arte de curar. Sua forma primitiva esteve não apenas associada à cura dos males do corpo, como, também, espirituais.
Na Grécia, os primeiros relatos de experimentos médicos foram praticados por Hipócrates, há cerca de 2 500 anos, como informa o Brasil Escola.
Já no Egito, foram desenvolvidas várias técnicas de tratamento de enfermidades, como emplastros feitos com vísceras de leões ou elefantes, e de preservação dos corpos mumificados dos antigos faraós.
Na Idade Média, os médicos desafiavam a Igreja, que impedia as dissecações de corpos para o estudo dos órgãos internos do organismo.
Somadas a essas experiências, há, também, a medicina indígena, considerada como uma prática religiosa.
A medicina dos povos indígenas vendo sendo cada vez mais valorizada como alternativa para o tratamento de diversas enfermidades, indo de problemas emocionais a físicos.
No centro histórico de Manaus, foi inaugurado, há dois anos, o primeiro centro de medicina indígena do Amazonas, com o objetivo de oferecer outras formas de tratamento a partir de uma sabedoria ancestral.
O coordenador-geral do Bahserikowi’i, João Paulo Lima Barreto (da etnia Tukano), lamenta a carência de mais pesquisas sobre tais tratamentos, além de uma relação pouco estreita com os órgãos de saúde.
“Não há um diálogo entre o poder público e os saberes dos indígenas para que haja uma integração, de fato. Isso é fruto de um processo longo de discriminação e não compreensão das práticas terapêuticas indígenas, que sempre foram colocadas numa lógica de feitiçaria, não como um conhecimento diferente, que engloba não somente a parte física das pessoas, mas o lado psicológico e espiritual. A ciência tem dificuldade de compreender esses outros saberes”, diz ele ao site Acrítica.
O atendimento no centro de medicina é feito por um Kummuã – conhecido, também, como pajé – que é um especialista em plantas medicinais e no seu uso em uma técnica chamada “bahsese” (benzimento).
Durante as consultas, após escutar o paciente, o Kummuã receita o medicamento à base de produtos naturais ou faz o benzimento, com o objetivo de afastar os sintomas apresentados pelo paciente.
O consultório indígena conta com uma equipe de recepcionistas, dois intérpretes e dois Kummuã. A sede do Bahserikowi’i tem prateleiras repletas de medicamentos extraídos de ervas amazônicas “in natura”, as quais passam pelo benzimento do Kummuã. Os medicamentos custam entre R$ 20 e R$ 30 reais.
Desde a sua criação, o Bahserikowi’i já atendeu cerca de 2,3 mil pessoas. As doenças mais tratadas no centro são emocionais e psicológicas, dores musculares, feridas, dor de cabeça, náusea, pedra nos rins e gastrite.
Os povos indígenas há muito tempo reivindicam um hospital indígena na capital do Amazonas. Os próprios médicos que trabalham nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei) já estão habituados à integração entre a medicina convencional e as técnicas terapêuticas indígenas.
O caso de uma menina indígena que, em um hospital convencional, quase teve o pé amputado por causa de uma picada de cobra, após ter ampla repercussão midiática, levantou o debate sobre a criação de uma lei estadual para assegurar o direito dos indígenas a terem um tratamento integrado nos hospitais públicos.
“Já é possível encontrar espaços para tratamentos diferenciados aos indígenas, mas a discussão está presa nessa lógica de espaço físico, ainda não chegou no atendimento com técnicas terapêuticas indígenas. Uma coisa é um hospital indígena formado por médicos indígenas, outra coisa é termos um hospital indígena a partir da lógica dos especialistas indígenas (o Kummuã). Isso tem que ficar claro”, explica João Barreto.
Barreto destaca que a maioria dos usuários dos tratamentos oferecidos no centro é não indígena. Muitos chegam motivados a tentar um tratamento não convencional ou pela curiosidade em conhecer um Kummuã. Barreto explica que este é uma pessoa “normal”, e não um ser folclórico. “O Kummuã é uma pessoa normal, que tem um conhecimento ancestral dentro dele”.
O Tukano, que é doutorando em Antropologia, acredita que os pacientes não indígenas que chegam ao centro já estão desacreditados da medicina tradicional. Embora seja por esta considerada como um tratamento complementar, a medicina indígena já vem sendo estudada para comprovar que seus conceitos e conhecimentos devem ser levados em consideração, informa uma outra matéria de Acrítica.
Um dos Kummuã que atende no centro é Ovídio Lemos Barreto (78 anos), também pertencente à etnia Tukano. Ele diz estar satisfeito com o trabalho do centro, que vem ajudando, nesses dois anos, muitas pessoas.
“Essa é a prova de que o nosso conhecimento, nossa experiência, tem um resultado positivo e que a nossa medicina é eficiente. Estamos consolidando o nosso espaço”, relata.
O Centro Bahserikowi’i funciona das 8h às 12h e das 13h às 16h, na rua Bernardo Ramos, mas os atendimentos podem ser feitos, também, no domicílio do paciente, de acordo com a sua necessidade.
O espaço reafirma a valorização e a importância da cultura dos povos indígenas.
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Fontes fotos: Acrítica
Categorias: Informar-se, Povos da Floresta
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