Erosão e acúmulo de sedimento: litoral brasileiro sendo destruído pelo homem


O Brasil é um dos países com a maior costa do mundo: são cerca de 7.500 km de litoral, de norte a sul. Dessa diversidade, são parte praias, falésias, dunas, mangues, restingas entre outros tipos de formação. Toda essa riqueza natural está sendo ameaçada por erosão e acúmulo de sedimentos.

Cerca de 60% do litoral brasileiro vem sendo, paulatinamente, destruídos pela erosão e pelo acúmulo de sedimentos provocados pela ação humana, segundo a publicação Panorama da Erosão Costeira no Brasil do Programa de Geologia e Geofísica Marinha, um estudo que reúne 27 universidades e instituições de pesquisa.

Conforme divulgado pela BBC News Brasil, esse percentual corresponde a 4.500 km do nosso litoral, o que significa um aumento de 50% em relação ao primeiro levantamento, feito em 2003.

Regiões mais afetadas

O geógrafo Dieter Mueher, coordenador do levantamento e pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), afirma que as regiões Norte e Nordeste são as mais vulneráveis, sendo que os estados de Ceará e Pernambuco foram os mais atingidos pela erosão e pelo acúmulo.

Na praia de Paracuru (CE) é nítido o fenômeno. As raízes dos coqueiros estão expostas pela ação das ondas do mar, o que pode levá-los a tombar. Já em Fortim (CE), a costa teve um recuo de 300 m devido ao avanço do mar, que já destruiu estradas, casas e atracadouros. Já em Pernambuco, nas praias de Pilar e Forno da Cal, em Itamaracá (PE), a erosão provocou a diminuição da faixa de areia, deixando rochas expostas sob a praia.

Problemas gerados

Apesar de a situação ser mais evidente nos estados do Norte e Nordeste, todo a costa brasileira tem sido vitimada pela ação do homem, que gera problemas geográficos, econômicos e sociais.

Os danos causados pela erosão são variados e incontornáveis. Se for muito avançada, a erosão pode contaminar lençóis freáticos até que se salinizem. Além disso, a vida marinha se altera, sem falar a vida das populações humanas locais.

O que é erosão?

A erosão é um fenômeno natural que pode ser agravada pela ação humana. Variações em costas naturalmente ocorrem, conforme destaca o oceanógrafo Michel Mahiques, pesquisador do Instituto de Oceanografia da USP. Durante milhares de anos, o litoral vem sendo alterado, mas não da forma tão acelerada como a que se tem observado atualmente.

“A variação se dá em uma escala de tempo geológica. Quando o clima da Terra varia, o nível do mar sobe, o nível do mar desce. Quando o homem atua como um agente que aumenta a temperatura do planeta, ele está acelerando um processo natural”, explica Mahiques.

O aquecimento global é um fator importante para essa mudança da paisagem, mas outros aspectos também contribuem, como a ocupação populacional e obras costeiras.

“As obras costeiras que o homem faz bloqueiam o transporte de sedimentos (pelo vento, pela maré, pelas correntes, por rios) que formam a praia, causando déficit de um lado e a acumulação de outro. O mesmo efeito acontece quando você constrói uma estrada muito perto da costa, quando faz um píer na praia, quando altera a desembocadura de um rio”, comenta Mahiques à BBC.

De quem é a culpa?

Mahiques responsabiliza os gestores públicos pela deformação do litoral brasileiro. Como ele diz: ” o aquecimento global não tem CNPJ”. Os gestores e seus contratantes fingem que as obras não têm impacto para o meio ambiente e as entregam para a sociedade como se fossem um produto perfeito.

Pernambuco, por exemplo, desde o início do século XX vem sofrendo com a erosão costeira, quando a orla de Olinda foi afetada pelas obras de ampliação do porto de Recife.

Sem falar nas obras mal planejadas para conter a própria erosão. Geralmente, elas são de responsabilidade dos municípios, cujas “prefeituras não têm condições, dinheiro e equipe técnica qualificada”, alerta Mueher.

Como resolver o problema?

Se as causas da deformação litorânea são a ocupação desordenada e a construção em orlas, o óbvio seria interferir minimamente na paisagem, o que significa leis severas que inibam a ocupação perto de praias.

“É preciso criar uma zona de recuo para garantir a não erosão. É preciso manter uma distância da linha da costa. Mas muitas vezes isso é feito de maneira errada. Em áreas que têm dunas, tem gente que retira as dunas. Não é pra retirar, elas são uma proteção”, explica Mahiques.

Basicamente, é necessária uma mudança cultural por parte dos gestores públicos e da sociedade, que quer “morar com vista para o mar” e ter serviços exclusivos à beira-mar. Entretanto, essa mordomia, em 20 anos, pode estar com os dias contados.

Sem falar que, sem serviço de saneamento básico adequado, sem demarcação de terras indígenas, estamos realmente pondo um fim naquele país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza!

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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