A construção das instalações, obras e vias de acesso à Rio 2016 deixou muitas tristezas. Comunidades destruídas, desalojadas – casas demolidas, gente deslocada que perdeu tudo. Coisas que acontecem quando não se pensa, também, no ser humano que está sobre a terra.
Um livro foi escrito, o Atingidas, que conta a história das mulheres atingidas pela construção da Vila Olímpica. São histórias desgarradoras, relatos das lideranças, mulheres, que perderam tudo e sequer viram seus direitos, básicos, respeitados sob a forma de indenizações.
É este o caso de Rita Barbosa, de 59 anos, pequena agricultora, que produzia hortifrutigranjeiros na zona oeste do Rio de Janeiro e que teve sua casa, árvores e animais destruídos pelos tratores que iam construir uma via de ônibus para a Vila Olímpica.
“Foram retirando as minhas coisas, arrastando pelo meio da rua, passando [com máquina de demolição] em cima da horta, quebrando tudo, arrastando geladeira, fogão e foram avançando, jogaram a máquina no galinheiro, onde 60 galinhas foram embora, salvamos umas, outras não, e eu fiquei no meio daquilo tudo. Ninguém me dava ouvidos. Só falavam: – a senhora tem que sair, acabou o prazo. Foi um choque muito grande. Eu nunca bebi, mas o que eu senti, foi como se eu tivesse misturado todas as bebidas fortes do mundo. Não conseguia ficar em pé”. Assim relata Rita, em lágrimas, como foi despejada pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro em 2012.
As obras começaram nos Jogos Pan-Americanos, em 2007, depois seguiram pela Copa do Mundo, em 2014 e, até a Rio 2016, continuaram seu caminho, de construção e destruição.
O livro Atingidas foi produzido pelo Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS) e apresenta a história de Rita, mencionada acima, de Maria da Penha, diarista e símbolo de luta dos moradores da Vila Autódromo, resistência ao deslocamento de 500 famílias, de destruição de uma comunidade que habitava lá há 40 anos. Vinte casas sobraram.
Um dos autores do livro, o jornalista Thiago Mendes, conta que “Os textos procuram ser diálogos. Partimos da perspectiva delas para falar das violações das quais foram vítimas”. São relatos de situações de conflito pelo uso da terra em zona urbana que, ao ser mudado, o uso, deveriam ser indemnizados os moradores.
Mas também é o caso da repressão ao trabalho dos vendedores ambulantes, como conta Maria de Lourdes, do Movimento Unidos dos Camelôs ou casos que afetaram os estudantes e atletas órfãos do Estádio de Atletismo Célio de Barros, demolido quando da ampliação do Estádio do Maracanã.
Mas o Atingidas conta mais. Conta das marcas da repressão a mulheres trans, prostitutas e moradores de rua pela voz da travesti Indianara Siqueira.
Todas mulheres, de uma forma ou de outra, profundamente machucadas pelo sistema que abusa do ser humano. É de se pensar porquê, para se fazer algo bonito e grande, de interesse de todos, como a remodelação de uma cidade, a do Rio de Janeiro, foi preciso atropelar tanta gente. O que é que se esconde por trás de toda essa agressão gratuita?
Baixe grátis o livro Atingidas aqui, publicação de maior importância para que fiquem registrados os abusos, as violações de direitos, para que possamos fazer as contas com os legados olímpicos, pan-americanos e futebolísticos na Cidade Maravilhosa.
DESMATAMENTO PARA AS OLIMPÍADAS 2016
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