O uso de agrotóxicos na agricultura é mesmo uma questão de escolha – escolha de sistema de produção, escolha de a quem e ao quê beneficiar, escolha do mercado. No atual sistema brasileiro, que privilegia o agronegócio, é natural que a ministra da agricultura, Kátia Abreu, defenda o uso de agrotóxicos, com todas as suas garras e argumentos, aparentemente, científicos.
Durante um evento da Bayer CropScience, em Paulínia (SP), disse a ministra que o Brasil tem leis bastante rigorosas para o registro de defensivos agrícolas: “Temos uma lei que proíbe o registro de qualquer produto com características carcinogênicas”. Mas, essa afirmação levanta a questão de o que é considerado, e por quem, carcinogênico, não é? Ao que parece a ministra não leva em consideração o que o Inca e a OMS consideram cancerígenos.
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Reclamou a ministra de que existe, no Brasil, uma “campanha muito organizada contra a utilização de agroquímicos no país“, e pediu a todos os representantes do setor a combaterem estrategicamente o que ela considera um preconceito: “Só venceremos preconceito contra agroquímicos se nos unirmos à ciência”. Mas, em que ciência se apoia ministra do agronegócio? Outra pergunta indigesta, claro!
As controvérsias são imensas já que existem dados, científicos, de como o uso de agrotóxicos são facilitadores de câncer e outras patologias na população rural e até naqueles que consomem, rotineiramente, os alimentos de cultivos não orgânicos. Mas, claro, os ruralistas, com a ministra Kátia Abreu à frente, esgrimem também estatísticas buscando justificar que o uso de agrotóxicos é fundamental para que a produção seja suficiente para todos.
Não vale a pena entrarmos na discussão aqui pois, claro, mais uma vez há que dizer que tudo isso é só uma questão de escolha.
Sabemos que a permacultura e as práticas da agricultura orgânica e agroflorestal, que não usam agrotóxicos, são muito mais saudáveis e também mais produtivas que o agronegócio. Porém, requerem uma mudança substancial de mentalidade no mercado e a aceitação das variedades que a biodiversidade e as sementes crioulas nos oferecem.
Há também o choque da padronização dos produtos – antes se encontravam pepinos tortos, pequenos, gostosos, saborosos, saudáveis, hoje em dia só se podem comprar, nos grandes centros, pepinos padronizados em tamanho, formato e falta de sabor. O mesmo acontece com os tomates, o alho, as bananas e qualquer outro produto agrícola.
Por isso, mais uma vez afirmo, que toda essa questão não é mais do que uma questão de escolha do sistema que queremos ter.
“Somos grandes porque temos produtos confiáveis”, diz a ministra.
Não! Somos grandes porque nossa terra é produtiva e saudável dentro dos sistemas tradicionais, com os conhecimentos ancestrais de cuidados e preservação dos nossos recursos naturais. Mas, para o capitalismo, claro, somos grandes se oferecemos muitos produtos ao mercado externo, saudáveis ou não.
Segundo a ministra informou durante o evento, o governo iniciará uma campanha para desburocratizar o Registro Experimental Temporário (RET) de agroquímicos utilizados nas lavouras e reduzir o tempo do registro final dos defensivos. E também, que duplicará o número de agrônomos que fazem as análises necessárias. Uma bela linha de montagem, ao estilo “Tempos Modernos”, do saudoso Charles Chaplin.
Nós, jornalistas, damos notícias, e esta é uma delas, mas fica muito difícil não tomar posição quando a questão é tão claramente definida sobre que futuro queremos nós para a vida no nosso planeta.
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Fonte foto: fotospublicas.com
Categorias: Agricultura, Informar-se
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