1 agrotóxico por dia é liberado pelo novo governo. Muitos extremamente tóxicos


Em apenas dez dias, o atual governo federal, por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), aprovou a liberação de quarenta novos agrotóxicos. Como anda, agora, a questão dos agrotóxicos com quase 60 dias de gestão?

Em 42 dias, a lista de liberação do governo federal foi ampliada para 57 novos produtos – uma média de um agrotóxico por dia, como informa a Agência Pública.

Dos 19 produtos cuja aprovação consta no Diário Oficial da União (DOU) do dia 11 de fevereiro, 12 são classificados como extremamente tóxicos – o maior grau na escala toxicológica. A novidade dessas autorizações é que elas abarcam o uso em novas culturas.

Entre os pesticidas com novos registros estão o Mancozebe, usado nas culturas de arroz, banana, feijão, milho e tomate, e o Piriproxifem, usado para café, melancia, soja e melão.

O que diz o governo

O Ministério da Agricultura afirma que esses pesticidas são de uso seguro, mesmo sendo classificados como extremamente tóxicos. Mas esse não é o entendimento de outros países. Na União Europeia, por exemplo, os químicos Imazetapir e Hexazinona tiveram a comercialização reprovada na União Europeia devido ao seu alto grau toxicológico.

Os 57 agrotóxicos aprovados pela gestão de Jair Bolsonaro são venenos aplicados pela técnica de pulverização por área, feita por pequenos aviões que atingem de forma rápida grandes plantações e, ao mesmo tempo, contaminam regiões externas à lavoura.

O glifosato é um dos agrotóxicos que teve três novos registros autorizados. Ele é o “queridinho” do agronegócio brasileiro, por poder ser utilizado em diferentes plantações, como soja, milho, algodão. Por isso mesmo, ele é um dos tóxicos mais vendidos no país.

Como o Brasil se tornou a meca dos agrotóxicos, produtores do mundo todo estão de olho no país. Empresas multinacionais, como a Monsanto, conseguiram registro para vender agrotóxicos no Brasil, um país altamente rentável para essas empresas, já que tem cerca de 200 milhões de habitantes e uma economia arraigada no agronegócio. Isso nos torna o maior consumidor de agrotóxicos em escala mundial.

Como funciona o mercado dos agrotóxicos

Quando o registro de um tóxico ou de um ingrediente ativo é autorizado, as empresas produtoras iniciais perdem a patente e as demais iniciam o processo de solicitação de registro para produzir novos produtos.

Outro nicho – no qual a Monsanto atua – solicita registros para novas versões do mesmo agrotóxico ou para uso de defensivos em culturas diversas, como ocorre com o glifosato.

O Ministério da Agricultura respondeu à Agência Pública e ao Repórter Brasil que a análise técnica dos produtos autorizados foi concluída em 2018 e que o elevado número de deferimentos deve-se à estratégia do governo federal de ampliação do mercado nacional. Em resposta, o órgão disse que o número de registros “visa promover concorrência entre as empresas no mercado e também diminuir o tempo necessário para deferir um agrotóxico ou afim”.

A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida posicionou-se contrariamente à rápida liberação dos defensivos, que atende ao lobby do agronegócio durante as eleições:

“Repudiamos de forma veemente a flexibilização do marco legal dos agrotóxicos no Brasil e a enxurrada de novos produtos registrados neste ano. Os agrotóxicos no Brasil já representam hoje um grave problema de saúde pública, e a inserção no mercado de mais produtos agravará ainda mais os perigos aos quais a população está submetida”.

A estratégia do governo federal deveria ser a proteção da vida, por meio de políticas públicas de segurança alimentar e proteção ambiental, e não a de encher o cofre de multinacionais que enriquecem vendendo veneno aplicado em alimentos.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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