Tudo sobre o Chimarrão: Benefícios, Origem e Como fazer


Por trás da famosa bebida típica da região Sul da América do Sul, existe uma história muito interessante sobre o Chimarrão. Atualmente, ele é mais consumido na região Sul do Brasil, na Argentina, no Uruguai e em partes da Bolívia e do Chile, mas antigamente ele já fazia parte dos costumes indígenas, devidos aos seus benefícios e propriedades medicinais.

Durante o século XVI o Chimarrão chegou a ser proibido pelos jesuítas por considerarem ser a “erva do diabo”, mas logo teve de ser liberado e até mesmo incentivado devido ao fato de ser uma atividade produtiva e econômica favorável para a região e por afastarem a população das bebidas alcoólicas.

Por essas e outras, vamos conhecer a história do Chimarrão, seus benefícios, origem e a forma correta de preparar essa bebida social, nutritiva e surpreendente.

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O que é chimarrão

O Chimarrão é uma bebida típica do Sul da América do Sul, feita com as folhas e os ramos secos e triturados da erva-mate Ilex paraguariensis, misturados com água quente a aproximadamente 80ºC de temperatura. Essa mistura não é feita de forma simples e não pode ser consumida num recipiente qualquer.

Os índios bebiam o chimarrão no Tacuapi, que era uma bomba criada por eles feita com taquara. Depois de um tempo é que os colonizadores criaram os utensílios para apreciar a bebida e, os ricos inventaram as cuias de prata, ouro e porcelana. Até as chaleiras para esquentar a água eram de cobre ou prata, importadas.

O Chimarrão em si, só é caracterizado como tal por ser preparado em sua devida cuia, com todo o ritual de preparação e os devidos apetrechos. A erva-mate, se consumida em uma xícara ou caneca, por exemplo, não é considerada “chimarrão”, e sim apenas um “mate”, como é vendido em muitos locais.

Para preparar o chimarrão existe uma técnica específica, na qual é necessário ter uma cuia, que é uma espécie de vasilha feita do fruto da cuieira ou porongo, da largura de uma caneca e profundidade de um copo, com o formato ovalado.

Além da cuia, utiliza-se também uma bomba ou “bombilha”, que é um canudo de seis a nove milímetros de diâmetro, feito de prata e ornado com pedras preciosas, em alguns casos. O canudo possui 25 cm de comprimento e no fundo possui um filtro arredondado no tamanho de uma moeda para coar a erva. Na parte superior, onde coloca-se a boca, o bocal é um pouco achatado e é feito em folhas de ouro para evitar a oxidação.

chimarrao beber

O sabor do chimarrão é uma mistura entre o doce e o amargo que varia de acordo com a qualidade da erva utilizada e também da forma como ele é preparado. Algumas pessoas não apreciam o chimarrão de início devido ao gosto amargo, mas mal sabem elas o bem que ele faz para a saúde e a diversidade de benefícios que possui. Vamos a eles!

Benefícios do chimarrão

Alguns estudos identificaram que o Chimarrão possui muitas propriedades medicinais e nutritivas, não é a toa que os índios caingangue, guarani, aimará e quíchua consumiam a erva-mate Ilex paraguariensis há muito mais tempo do que os atuais consumidores sulistas.

Essa erva pode ser considerada uma planta completa com relação ao seu valor nutricional, devido ao fato de possuir diversas vitaminas e minerais. Dentre os principais benefícios que o ele proporciona para a saúde, podemos citar:

  • O chimarrão é digestivo, possui propriedades laxativas e ajuda no funcionamento do intestino;
  • É diurético, por ser uma bebida quente, ajuda no funcionamento dos rins, prevenindo retenção de líquidos e eliminando o inchaço do corpo;
  • Estimula as atividades físicas e mentais, proporciona energia e esquenta o corpo;
  • Auxilia na regeneração celular devido aos compostos bioativos;
  • Elimina a fadiga e o cansaço devido à presença de alcalóides, como a cafeína;
  • Contém vitaminas A, B1, B2, C e E;
  • É rico em sais minerais como cálcio, ferro, fósforo, potássio e manganês;
  • É um estimulante natural, sendo considerado também um afrodisíaco devido à presença da vitamina E;
  • É vasodilatador, atuando sobre a circulação e acelerando o ritmo cardíaco;
  • Auxilia no controle do colesterol ruim, graças a ação dos compostos fenólicos que diminuem a glicose no sangue, bem como a capacidade do receptor de glicose no intestino que reduz a absorção de açúcar;
  • É rico em flavonóides (antioxidantes vegetais) que previnem o envelhecimento precoce e protegem as células;
  • Previne osteoporose, fortalecendo a estrutura óssea devido ao cálcio e às vitaminas contidas na erva-mate;
  • Ajuda a estabilizar os sintomas de gota (excesso de ácido úrico no organismo);
  • É rico em fibras que também ajuda no funcionamento do intestino;
  • Auxilia no emagrecimento porque acelera o metabolismo, aumenta o gasto calórico e, consequentemente, a queima de gordura;
  • Regula funções cardíacas e respiratórias, através dos polifenóis que eliminam o acúmulo de gordura nas artérias, protegendo o coração.

Todas essas características comprovadas pelo Instituto Pasteur na França fazem da erva-mate uma planta essencial para a saúde. Porém, mesmo com todos esses benefícios, o chimarrão não é indicado para pessoas com anemia pelo fato de influenciar na absorção do ferro pelo organismo e por pessoas hipertensas, pois a erva-mate aumenta a pressão.

Outro cuidado a ser tomado é com relação ao preparo correto da bebida, esta não deve ser feita com a água muito quente, pois além de queimar a erva, pode queimar também a boca e o esôfago e, em casos mais graves, desenvolver o próprio câncer no esôfago. Embora não haja comprovações científicas de o chimarrão muito quente ser uma das causas desse câncer, pois qualquer bebida muito quente ou muito fria podem levar a este fim.

Origem e curiosidades

A palavra Chimarrão é derivada tanto do Português, Marron, que significa “clandestino” (dentre outros significados), como também do Espanhol cimarrón, que possui vários significados como: bruto, vocábulo, chucro e bárbaro. Foi utilizada também para se referir a animais domesticados que se tornaram selvagens, até que colonizadores do Prata a utilizassem para se referir à bebida rude e amarga dos nativos.

Como falamos anteriormente, a origem do Chimarrão é indígena, pois eles já tinham o hábito de consumir o chá da erva-mate em rituais comunitários, antes da chegada dos europeus, os quais também adquiriram esse costume. Atualmente, o chimarrão é mais consumido pelos sulistas que fazem deste momento um ato de hospitalidade.

Logo que um visitante chega na casa dos sulistas, é recebido com uma cuia de Chimarrão, costume bem parecido com o nosso, ou melhor, com o de nossos pais e avós, que ofereciam um cafézinho quando uma visita chega em casa!

A diferença, no entanto, está no preparo do chimarrão, onde a água não pode estar em estado fervente, pois queima a erva e deixa um gosto amargo na bebida, além de poder queimar a boca do visitante. Por isso, o comum é que o dono da casa prepare a bebida tradicionalmente, deixando a água esquentar um pouco enquanto monta a cuia com a erva.

Há quem diga também que tomar chimarrão é um ato amistoso, comparado ao ritual do cachimbo da paz dos índios norte-americanos. No Rio Grande do Sul, existe um ritual semelhante a este, que é conhecido como “roda do mate” ou “roda do Chimarrão”. O preparador (que geralmente é o dono da casa ou do estabelecimento), prepara a bebida e toma a primeira dose até fazer a bomba roncar. Isso é devido à primeira remessa ser sempre muito mais amarga e também para experimentar e aprovar para o próximo integrante da roda.

A direção é sempre para a esquerda e cada participante deve esvaziar totalmente a cuia e encher novamente, para que o próximo participante tenha direito à uma remessa fresquinha de chimarrão. Após tomar todo o conteúdo até a bomba roncar, deve-se encher novamente com água morna sobre a mesma erva e passar a cuia para o próximo participante à esquerda entregando-a com a mão direita.

É possível entrar na roda a qualquer momento, mas só pode sair quando chegar a sua vez. Também não é permitido trocar a ordem para não favorecer nenhum participante. Não se deve agradecer a cada passada de cuia, mas sim quando não desejar mais participar, ou seja, quando quiser sair da roda. Para isso, entregue a cuia e agradeça.

Esse hábito é passado de geração em geração e é aprendido desde a infância. Há também aqueles que não participam das rodas de mate, mas sim apreciam o chimarrão a qualquer momento, até mesmo na praia, no parque, na rua ou em casa mesmo, até como substituto do café-da-manhã.

Outras curiosidades sobre o chimarrão:

  • A banda Engenheiros do Hawaii, que é do Rio Grande do Sul, compôs uma música com o nome Ilex Paraguariensis, em homenagem à bebida;
  • A microcervejaria Dado Bier lançou uma cerveja de mate chamada “Ilex”;
  • Em 2003, a história do chimarrão virou enredo da escola de samba Aliança de Santa Catarina, a qual conquistou seu terceiro título;
  • Para os dias muito quentes, existe também o tereré, que é a versão fria do chimarrão, na qual a erva utilizada passa por um processo de repouso e é triturada de forma mais grossa;
  • Devido à grande importância do Chimarrão no Rio Grande do Sul, foi instituído o Dia Estadual do Chimarrão no dia 24 de abril. Também lá são divulgados diversos eventos e locais para celebrar a importância dessa cultura, como a Feira Nacional do Chimarrão e a Rota do Chimarrão, onde os visitantes podem aprender a preparar a bebida. Existe até uma Escola do Chimarrão onde os participantes podem aprender a prepará-lo.
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Como fazer o chimarrão

Apesar da tradição de tomar o chimarrão numa roda para compartilhar a experiência e apreciar o momento, muitos preferem apreciá-lo a sós, num momento de relaxamento para deixar as ideias fluírem e sentirem o sabor amargo suavizando a cada enchida da cuia.

Um bom apreciador de chimarrão o prepara com carinho e o passo a passo, apesar de parecer simples, exige algumas habilidades. Segue o como fazer de um típico “mateador” (Luiz Minduim do blog Papo de Homem), como se costuma chamar aquele que prepara e toma o mate (chimarrão):

  1. Coloque erva mate verde em 2/3 da cuia.
  2. Tape com a mão ou boca da cuia, inclinando-a para ajeitar a erva, que deve ficar assentada de um lado só, deixando um espaço vazio.
  3. Bata suavemente, com a ponta dos dedos, na superfície externa da cuia, no lado em que a erva mate está assentada, para que o pó mais fino se desloque para o fundo do porongo.
  4. Coloque novamente a cuia na posição vertical, com suavidade, para que a erva mate não caia para o lado.
  5. Despeje um pouco de água morna ou para umedecer e inchar a erva, e aguarde até água ser absorvida.
  6. Coloque a água quente, tendo o cuidado de não deixá-la ferver. O melhor é respeitar o aviso da chaleira, que começa a chiar aos 80º.
  7. Introduza a bomba no fundo da cuia, enterrada na erva, mantendo o bocal fechado com o dedo polegar, até assentá-la bem.
  8. Quando a infusão acabar, deve-se acrescentar mais água. A operação pode ser repetida até que o chimarrão deixe de espumar, sinal de que a erva já enfraqueceu.

Temos também o passo a passo em vídeo para ficar melhor o entendimento. Neste processo é utilizado um utensílio reto para segurar a erva até que fique na posição adequada (inclinada dentro da cuia) e também ao invés de colocar a primeira água morna, ele coloca água fria para umedecer a erva e “assentá-la” fazendo com que ela fique presa na parede da cuia.

Ele bebe essa primeira água (fria mesmo) e depois completa com a água quente para aí então apreciar o chimarrão como deve ser apreciado: Como preparar um bom chimarrão por Suzana e Milton.

Bah! Esperamos que tenham gostado dessas dicas e informações sobre o Chimarrão. Aproveitem seus benefícios e desfrutem dessa verdadeira tradição cultural! Sozinhos ou numa boa roda de amigos, aprendam a preparar o chimarrão corretamente para que não fique muito amargo e não queimem a língua! Bora apertar um mate, tchê?!




Eliane A Oliveira

Formada em Administração de Empresas e apaixonada pela arte de escrever, criou o blog Metamorfose Ambulante e escreve para greenMe desde 2018.


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