A crueldade da seda que as pessoas desconhecem


Desde tempos antigos, o fio do casulo do bicho-da-seda vem sendo utilizado para a produção de um tecido requintado, macio, liso, resistente, fino e cintilante. Porém, extraído de forma cruel.

A seda era a queridinha das damas da corte e muito cobiçada pelos comerciantes europeus, que viajavam para o Oriente em busca desse produto para vendê-lo a altos preços na Europa. Até hoje, o tecido da seda é utilizado principalmente pela alta costura para atender o desejo de luxo e sofisticação das elites.

Mas o que a maioria das pessoas desconhece é que a produção da seda é muito bem perversa com a espécie que dá origem ao fio da seda. E é isso que será exposto neste conteúdo, porque a crueldade está onde menos se imagina que ela exista!

A história da seda

Reza uma lenda que a seda tenha sido descoberta há milhares de anos na China antiga, quando a imperatriz Xi Ling-shi estava sentada debaixo de uma árvore cheia de casulos. Um dos casulos caiu acidentalmente em sua xícara de chá, o que fez com que a lagarta do bicho-da-seda saísse prematuramente do casulo. Conforme a lagarta saía do casulo, se desprendia o fio de seda.

Enquanto a imperatriz ficou fascinada com a descoberta, a lagarta acabou morrendo na água quente. A mulher levou o fio de seda para o conhecimento da corte e, a partir de então, começaram a colher o casulo do bicho-da-seda em grandes quantidades, desconsiderando a vida destas lagartas que dão origem às mariposas.

Acredita-se então que a sericultura e a tecelagem da seda tenham sido inventadas por esta imperatriz, que era esposa do mítico Huangdi, o Imperador Amarelo.

À Ling-shi é creditada a invenção do tear sobre o qual a seda é tecida. Nos textos chineses, a imperatriz é várias vezes chamada de A Deusa da Seda.

Exclusivo para privilegiados

Durante muito tempo, a seda foi um artigo de luxo, exclusivo para os poucos privilegiados da alta casta imperial que podia ter acesso a ela.

Acredita-se, entre mitos e histórias antigas, que o imperador Huangdi sempre usava seda branca em seu palácio imperial, e seda amarela quando se aventurava ou se mostrava para fora da corte.

Gradualmente, as restrições sobre quem poderia usar a seda na China começaram a desaparecer, e outras pessoas passaram a comprar o precioso tecido.

Utilizações do tecido da seda

Quando se pensa no tecido da seda vem em mente:

  • vestidos sofisticados
  • echarpes e lenços
  • roupas indianas
  • saias e calças orientais
  • colchas
  • cortinas e tapetes de luxo, entre outros

Na maioria das vezes, só não vem a crueldade envolvida para fazer esses produtos.

Como é produzido o tecido da seda?

Em geral, a produção da seda incorre na domesticação e criação artificial do bicho-da-seda em criadouros industriais.

O bicho-da-seda é uma mariposa da espécie Bombyx mori que, na fase intermediária de seu ciclo vital, (crisálida), produz um envoltório filamentoso (casulo), usado na produção da seda.

Nos criadouros industriais, o bicho-da-seda é impedido de viver livre e de passar por seus estágios naturais, além de ficar sujeito à manipulação humana, que interfere em sua genética.

Milênios de anos de sericicultura (criação do bicho-da-seda) interferiram na natureza e na genética dessa espécie, devido à domesticação e reprodução seletiva. Por isso, quando as lagartas da seda saem do casulo, praticamente não têm boca, por isso não conseguem se alimentar, suas asas são incapazes de voar, além de terem um tempo de vida bem menor.

Etapas da extração do fio da seda

Seguem as etapas envolvidas na produção do fio da seda:

  1. A produção industrial da seda começa com a fêmea da mariposa sendo triturada imediatamente após a produção dos ovos para verificar se há doenças. Se for constatado que há doenças, os ovos são descartados.
  2. As mariposas machos também são trituradas moedores e descartadas na lata de lixo.
  3. Após a colocação dos ovos pelas mariposas, iniciam-se as etapas da metamorfose do bicho-da-seda que, na realidade, trata-se da larva ou lagarta da mariposa Bombyx mori.
  4. Antes que esse processo de metamorfose seja completado, as lagartas são mergulhadas em cubas (panelas arredondadas) de água fervente para desprender-se do casulo.
  5. A morte prematura da lagarta impede que ela cumpra a metamorfose e vire mariposa.
  6. No processo natural, ela teria que concluir a metamorfose, mastigando e cortando o fio que compõe esse casulo. Então, ela sairia transformada em mariposa. Entretanto, a indústria de fabricação da seda impede que ocorra essa metamorfose, porque assim, o casulo fica intacto para se extrair o fio inteiro.
  7. Para um metro de tecido de seda, de 3.000 a 15.000 bichos-da-seda são fervidos vivos.

A visão dos defensores de animais

O processo de produção do tecido da seda começa com a coleta do casulo do bicho-da-seda.

Como vimos, para tirar o casulo, mata-se o bicho-da-seda. Por isso, a sericultura tem sido criticada por entidades do bem-estar animal e ativistas dos direitos dos animais.

Mahatma Gandhi, o líder da independência da Índia, também criticava a produção de seda.

Ele era seguidor da filosofia Ahimsa, de não ferir e matar nenhum ser vivo.

Esse pensamento de Gandhi promoveu a intensificação do uso de máquinas de fiar algodão, como opção à seda, e também a produção da seda Ahimsa, feita a partir de casulos de mariposas selvagens, sem a morte do bicho-da-seda.

Este vídeo, do canal UFCI Foundation,  mostra imagens de como é a cruel produção da seda.

Atenção, se for uma pessoa impressionável, não veja:

Extração da seda sem crueldade. Existe?

Existe um outro método de extração do fio da seda, considerado mais ético, que é chamado de seda Ahimsa ou seda da paz. Porém, não existe certificação e há relatos de que o método convencional e cruel pode se fazer passar por essa outra forma de produção.

Na produção da seda Ahimsa, o bicho-da-seda pode realizar o seu ciclo de vida completo, porque não é morto prematuramente. Como exemplo desse método temos a seda Eri, proveniente da mariposa selvagem nativa do nordeste da Índia, que se alimenta de mamona.

A seda Eri é obtida pela abertura em uma extremidade do casulo, que permite que ela saia sem se ferir e nem danificar o fio da seda. Uma vez que a mariposa deixa seu casulo, a seda é processada.

Como o bicho da seda produz naturalmente seu casulo?

As etapas do ciclo de vida natural do bicho-da-seda consiste nos estágios de metamorfose que compreendem:

  1. Ovo – 10 a 14 dias
  2. Larva/ lagarta – 27 dias
  3. Pupa/crisálida -7 a 8 dias -> machos / 14  a 15 dias -> fêmeas (nessa etapa é formado o casulo do bicho-da-seda)
  4. Mariposa – 7 a 8 dias -> machos / 14  a 15 dias -> fêmeas

Comumente, a mariposa macho sai antes do casulo para posteriormente realizar o acasalamento.

A fêmea, após o acasalamento, produz cerca de 500 ovos, reiniciando todo esse ciclo.

Indústria da seda também envolve exploração de humanos

Além de matar milhares de bichos-da-seda, a indústria também explora seres humanos, inclusive crianças que trabalham em regime de servidão, para a produção de seda pura na Índia.

A exploração de seres humanos envolve 12 horas de trabalho por dia, condições inadequadas, salários baixíssimos e acidentes de trabalho como queimaduras, lesões e cortes decorrentes do processamento do fio da seda.

De acordo com esse relatório da CNN Freedom Project, os trabalhadores envolvidos nessa produção são explorados e as crianças acabam trabalhando para ajudar suas famílias, a fim de ter um mísero sustento.

Produção da seda prejudica o ambiente

Outra aspecto prejudicial da produção industrial da seda é que não é sustentável porque consome muita energia e água, e muitos produtos químicos são adicionados ao tecido. Portanto, além de ser cruel com os animais, exploratória com humanos, também prejudica o meio ambiente.

Alternativas veganas à seda

Para evitar de ser complacente com a manipulação, interferência e crueldade em relação ao bicho-da-seda, existem alternativas vegetais e ecológicas que podem substituir a seda, tais como:

Mais detalhes sobre a produção da seda

Neste vídeo, do canal Vegflix, Matheus Croco,dá mais esclarecimentos e detalhes sobre a crueldade envolvida na produção do tecido da seda:

Proteção ao bicho-da-seda

Infelizmente, tem gente que acha que uma lagarta é “apenas uma larva” e desconsidera que é um ser que busca instintivamente viver e se desenvolver.

Além do mais, as modificações que o ser humano tem provocado nessa espécie tem feito com que ela fique mais frágil e menos apta para viver na natureza.

Ademais, com a matança do bicho-da-seda, não surge a mariposa. Por isso, vale lembrar que cada criatura exerce um papel, uma função e tem sua importância na existência.

E vamos e venhamos, não há necessidade de matar uma criatura e impedir seu desenvolvimento, para usar tecidos de seda, quando existem outras alternativas sustentáveis, bonitas, econômicas e cruelty-free.

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Deise Aur

Professora, alfabetizadora, formada em História pela Universidade Santa Cecília, tem o blog A Vida nos Fala e escreve para greenMe desde 2017.


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