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Até onde você iria em prol da causa ambiental? Quais são os seus limites individuais para contribuir para o coletivo? Será que o hábito de tomar banho diariamente poderia ser sacrificado por você para poupar água a energia?
Pode parecer impensável para nós, brasileiros, colocarmo-nos esse tipo de restrição. Entretanto, cada vez mais tem aumentado o número de adeptos a não tomar banho diariamente.
De acordo com El Pais, um relatório da Euromonitor International afirma que já existem pessoas, em todo o mundo, que não tomam mais banho todo dia. Esse dado para nós, brasileiros, parece estar fora de cogitação, já que representamos aqueles que mais tomam banho mais de uma vez por dia (49,8%).
James Hamblin, editor da The Atlantic, decidiu submeter-se a essa experiência e contá-la em um artigo intitulado Parei de tomar banho e a vida continuou.
“Talvez não faça sentido destruir nosso ecossistema para nos esfregar com sabão todos os dias”.
No início, ele relata que se sentia muito mal sendo “um animal fedorento e suado”, mas, que com o tempo, o seu corpo se autorregulou, dispensando a necessidade dos banhos diários.
Um grupo de pesquisadores da Universidade de Harvard lançou o questionamento sobre se tomar banho diariamente é realmente necessário. O pesquisador Robert H. Shmerling escreveu o artigo É necessário tomar banho todos os dias? com o intuito de refletir que tal hábito é muito mais social do que salutar, já que o excesso de limpeza pode fazer mal ao sistema imunológico. Ou seja, um pouco de sujeita no corpo é bom para a nossa saúde.
A dermatologista Yolanda Gilaberte, vice-presidenta da Academia Espanhola de Dermatologia e Venereologia, explicou ao El Pais que a nossa pele é revestida por um manto lipídico, cuja função é protegê-la naturalmente.
“Essa barreira de lipídios [moléculas orgânicas] tem um pH levemente ácido, em torno de 5,5. Alterar esse nível significa modificar o estado natural para que a epiderme cumpra sua função: impedir a passagem de germes, bactérias, vírus e ácaros”.
Tomar banho diariamente é um hábito moderno, relativamente recente – pelo menos se pensarmos no ambiente urbano. No pós-guerra, tomar banho era um luxo, já que não havia água disponível e, às vezes, nem banheiro. Tomava-se banho uma vez por semana, geralmente aos domingos.
O excesso de higiene – que muitas vezes se torna uma obsessão – pode causar diversas doenças, como dermatite atópica e infecções como pitiríase ou alergias.
Sobretudo em crianças, recomenda-se que não sejam submetidas a esse excesso de higiene, a fim de que seus sistemas imunológicos se desenvolvam. A justificativa, segundo Gilaberte é que:
“É melhor que nosso sistema imunológico esteja ocupado e em treinamento contínuo”.
Outro problema apontado por especialistas é o uso de sabonete. Gilaberte faz o seguinte alerta:
“É verdade que a água resseca a pele, principalmente se estiver muito quente, e além disso a água que sai do chuveiro não é a de um manancial, é tratada. Contém cloro, além de cal e outras substâncias, dependendo de onde você vive. Mas o mais nocivo para a pele são os sabonetes e géis com detergentes [os que fazem muita espuma]. Por isso já há pessoas que só ensaboam determinadas partes [axilas, pés, genitais] e fazem isso com os produtos mais naturais possíveis. Principalmente que não contenham triclosan [um potente antibacteriano e fungicida, que mata bactérias ruins e boas, e quando chega aos rios ou mares continua com seu trabalho destrutivo] e lauril éter sulfato de sódio [um detergente e surfactante encontrado em muitos produtos de higiene pessoal, já que é muito barato e faz muita espuma]. Quando o banho não tem a função de limpeza, e sim de relaxamento ou de nos refrescar no verão, podemos dispensar totalmente os sabonetes e usar só água”.
A recomendação da profissional é que as pessoas devem lavar-se duas vezes por semana para garantir acabar com as bactérias e, assim, evitar doenças. E, diariamente, devemos fazer uma higienização por partes, a fim de evitar odores desagradáveis.
Os danos de tomar banho todos os dias não param por aí. O dermatologista David Leffell, que é chefe de cirurgia dermatológica da Faculdade de Medicina de Yale (EUA) e autor de Total skin: The definitive guide to whole skin care for life (“Pele total: o guia definitivo para o cuidado total da pele por toda a vida”), conta ao El Pais que, ao nos secarmos com um toalha após o banho, retiramos a umidade da pele. Essa camada de umidade que é retirada precisa ser reposta. Em geral, isso se faz com um creme hidratante. E é aí que mora o perigo. Segundo Leffell, é preciso tomar cuidado com a composição do creme utilizado na pele, que pode conter substâncias nocivas para a saúde.
A recomendação do dermatologista é banhar-se em uma temperatura de água morna e de forma breve – no máximo três minutos de chuveiro, nunca mais do que cinco, tanto pelo bem da nossa pele como do planeta.
Além dos problemas para a saúde que o excesso de banho podem provocar, uma outra razão tem motivado as pessoas a desautomatizarem o hábito do banho diário: a ecologia. A água tem se tornado um bem natural cada vez mais escasso, sendo, portanto, necessário, repensar a nossa relação de consumo com ela.
Mas será que estamos realmente preparados para abrir mão do nosso banho diário, mesmo com tantas implicações para a nossa saúde e para o meio ambiente?
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Categorias: Consumir, Consumo consciente
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