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Que tal comer pinhões para ajudar a recuperar as araucárias? Esta pode ser uma maneira de se preservar, e aumentar, a área com araucária, o pinheiro-do-paraná, árvore que já está na lista das espécies ameaçadas de extinção. E por quê? Porque se nós, consumidores, queremos comer o pinhão, fruto da araucária, então essa espécie terá valor (monetário) para o mercado.
Tudo no capitalismo se define em termos de mercado – as leis, as reformas e a preservação das espécies. O que serve para dar lucro será preservado.
A araucária (Araucaria angustifolia) é a árvore símbolo do Paraná, é uma espécie fadada à extinção no Brasil por conta da sua derrubada para abrir novas áreas agrícolas, a pressão da cidade sobre o campo e o desinteresse comercial nos produtos que podem resultar da sua manutenção.
Os estudos atuais indicam que só temos uns míseros 3% da área original ocupada pelas matas de araucária que antes povoavam as regiões de maior altitude no sul e sudeste.
Antigamente, as serras dos estados do sul – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e de São Paulo, Minas (Serra da Mantiqueira) e Rio de Janeiro (região serrana) tinham vastos maciços de araucária. Esta mesma espécie também ocorre em alguns trechos de serra na Argentina e Paraguai, sempre em trechos de altitude entre os 500 e os 1200 metros acima do nível do mar.
Seu nome indígena, curi, é a origem do nome da capital do Paraná, Curitiba e sua imagem está, não por acaso, nos brasões das cidades de Apiaí, Araucária, Caçador, Campos do Jordão, Itapecerica da Serra, Ponta Grossa, Santo Antônio do Pinhal, São Carlos, São José dos Pinhais e Taboão da Serra pois, todas essas cidades cresceram em áreas onde abundava a nossa araucária.
No Chile também há araucária, uma outra espécie, Araucaria araucana, também conhecida por Pehuen, seu nome mapuche. A ela se deve o nome Araucanía que têm a região mapuche ao sul de Santiago. A araucária chilena povoa serras e morros acima dos 800 metros de altitude e é, como a nossa, um fóssil vivo de grande porte. As araucárias surgiram no período jurássico e datam de uns 200 milhões de anos.
Especialistas estão otimistas quanto à reversão desse cenário no longo prazo.
“Nos últimos anos se passou a ver que a floresta em pé também gerava recursos financeiros. Isso começou a acontecer principalmente com a retirada e venda das suas sementes (no caso, o pinhão). A partir do momento em que os proprietários rurais começaram a ver que é possível ter um rendimento econômico, não apenas uma vez, mas praticamente todos os anos, com a colheita do pinhão, passou a haver interesse em manter essa árvore em pé. Então, tendo interesse na extração do pinhão, houve interesse em conservar mais a araucária”, explica o biólogo e engenheiro agrônomo Jaime Martinez, membro da RECN (Rede de Especialistas em Conservação da Natureza).
Pois, um dos produtos da araucária que podem ser consumidos sem que se precise derrubar a árvore é o pinhão. Claro, desde que a colheita seja bem feita, por manejo sustentável, permitindo que a planta gere descendência.
O manejo bem feito do fruto da araucária, as pinhas, implica em só colher quando elas caem ao chão pois, quando se colhe antes de tempo a germinação de novas plantas fica prejudicada, a semente não amadurece, os animais que dependem dela ficam sem seu alimento e todo o ecossistema, que existem em torno da araucária, desmorona rapidamente.
Se você tiver um pedaço de chão com clima adequado e quiser fazer plantio e manejo de araucárias dê uma olhada na página da Embrapa onde há um link para, quem quiser, baixar um material científico interessante, o livro “Araucária: particularidades, propagação e manejo de plantios” produzido pela Embrapa Florestas e a UFPR – Universidade Federal do Paraná. Neste texto você encontrará (como explícito no post da Embrapa, informações técnicas sobre “as particularidades da espécie; a produção de mudas de qualidade, tanto por enxertia quanto estaquia; a formação de pomares de araucárias de pinhão precoce; e critérios de manejo para plantios de araucária, com considerações sobre suas aplicações, vantagens e desvantagens, visando contribuir ao desenvolvimento de uma silvicultura sustentável”.
As matas de araucária são definidas como uma ecorregião do Bioma Mata Atlântica e habitam as Florestas Ombrófilas Mistas. Diversas espécies de fauna ameaçada de extinção está relacionada com as matas de araucárias, mais uma razão para lutarmos pela sua preservação.
A cutia e a gralha se alimentam de pinhões de araucária, a onça-pintada e diversas espécies de macacos (prego, mono-carvoeiro, guariba e vários saguis), a preguiça-de-coleira, o caxinguelê e até o tamanduá são endêmicos na mata de araucárias assim como uma diversidade de aves: o jacu, o macuco, a jacutinga, o tiê-sangue, a araponga, o sanhaço, numerosos beija-flores, tucanos, saíras, gaturamos e até o Papagaio-Charão e o Papagaio-do-peito-roxo cuja sobrevivência está atrelada às araucárias que resistem.
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Categorias: Biodiversidade
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