Polinizadores em extinção é uma grande ameaça à nossa alimentação?


Essa é a pergunta que norteou o primeiro relatório da Plataforma Ciência Política Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistemas (IPBES), da ONU, vindo a público no último dia 26 de fevereiro e que tem como título a Avaliação Temática de polinizadores, polinização e produção de alimentos. Este relatório é mais um alerta, insistente, para a necessidade urgente de que o mundo repense suas estratégias ambientais e agrícolas. E que mude, radicalmente, suas táticas direcionadas à alimentação da população mundial.

Comida para todos é uma questão de boa gestão ambiental, de distribuição correta de bens e recursos, de respeito pela vida, de tudo e todos.

Como descreve o relatório do IPBES: “Um número crescente de espécies de polinizadores em todo o mundo estão sendo conduzidos para a extinção por diversas pressões, muitas dessas feitas pelo homem, ameaçando milhões de meios de subsistência e centenas de bilhões de dólares em suprimentos de comida, de acordo com o primeiro avaliação global de polinizadores”.

Este relatório é a primeira avaliação de seu tipo baseada nos sistemas indígenas de cultivo e respeito pela natureza. Tenho fé de que, agora sim, estamos começando a compreender a verdade sobre a vida na Terra.

A questão da polinização em números chocantes

Veja abaixo qual é o tamanho da realidade da polinização natural (extraído do release do relatório):

20.000 – Número de espécies de abelhas selvagens. Há também algumas espécies de borboletas, mariposas, vespas, besouros, pássaros, morcegos e outros vertebrados que contribuem para a polinização.

75% – Percentagem de culturas alimentares do mundo, que dependem, pelo menos em parte, na polinização.

US $ 235 bilhões de US $ 577 bilhões – valor anual das culturas globais diretamente afetados pelos polinizadores.

300% – Aumento do volume de dependentes de polinização animal na produção agrícola nos últimos 50 anos.

Quase 90% – Percentual de plantas com flores selvagens que dependem em certa medida da polinização animal.

1,6 milhões de toneladas – a produção de mel anual da abelha ocidental.

16,5% – Percentual de polinizadores vertebrados ameaçadas de extinção a nível mundial.

+ 40% – Porcentagem de espécies de polinizadores invertebrados – especialmente abelhas e borboletas – que enfrentam extinção.

E o comprometimento da agricultura se faltarem os polinizadores? “Entre US $ 235 bilhões e US $ 577 bilhões do valor da produção alimentar global anual depende de contribuições diretas dos polinizadores”. Para além da contribuição com as culturas alimentares, os polinizadores são importantes também para as culturas de produção de biodiesel, medicamentos, fibras, forrageiras e materiais de construção. Você pode concluir que o dano, para a economia mundias, será imensurável, caso os polinizadores nos venham a faltar, não?

E, quanto à biodiversidade? “Cerca de 90 % de todas as plantas selvagens dependem, pelo menos em certa medida de polinização animal”.

O que ameaça os polinizadores selvagens, nativos, naturais de cada região? “Polinizadores selvagens em certas regiões, especialmente as abelhas e borboletas, estão sendo ameaçados por uma variedade de fatores. Seu declínio se deve principalmente às mudanças no uso do solo, práticas de agricultura intensiva e uso de pesticidas, espécies exóticas invasoras, doenças e pragas, e as alterações climáticas.” – assim se expressou Sir Robert Watson, Vice-Presidente atual do IPBES.

Inseticidas neonicotinóides, uma ameça aos polinizadores em todo o mundo

Inseticidas em geral são “matadores de insetos” e não diferenciam entre insetos bons para o ser humano ou suas lavouras e os outros, os considerados daninhos. Mas, dentre todos os inseticidas que o mundo usa atualmente, são os neonicotinóides os que mais ameaçam a vida dos insetos polinizadores, podendo até vir a causar a extinção de várias espécies. E o pior, diz o relatório, é que a humanidade sequer conhece os efeitos de médio e longo prazo desses mesmos inseticidas. Ou seja, pode ser muitíssimo pior para todos nós.

E as culturas GM, que efeito têm sobre os polinizadores?

Como se sabe, as GM são culturas tolerantes a herbicidas ou resistentes a insetos.

No caso das culturas tolerantes a herbicidas, o uso extensivo desses acaba, extermina toda a biota que normalmente vive no entorno – aquelas plantas que são consideradas daninhas e que são, na verdade, o alimento preferencial dos insetos polinizadores.

No caso das GM resistentes a insetos o uso de agrotóxicos pode ser reduzido, para este caso específico mas, ainda não foram devidamente estudados os efeitos indiretos e sub-letais destas culturas sobre os polinizadores. Aliás, esses efeitos indiretos sequer são contabilizados nas avaliações de risco para as culturas GM.

Sabedoria ancestral, sistemas indígenas de cultivo, cuidado com as espécies

Ainda o relatório ressalta que, o desconhecimento e não aplicação prática da sabedoria ancestral indígena é um dos fatores fortes dos quais deriva o declínio dos polinizadores na atualidade: estamos falando aqui de sistemas agrícolas tradicionais; preservação de ecótonos e paisagens naturais; relações de parentesco que protegem polinizadores específicos; preservação de culturas locais intimamente ligadas à existência de insetos polinizadores.

E para proteger os polinizadores, que opções temos?

“A boa notícia é que uma série de medidas podem ser tomadas para reduzir os riscos para os polinizadores, incluindo as práticas baseadas no conhecimento indígena e local“, disse Zakri Abdul Hamid, eleito presidente fundador IPBES em sua primeira reunião plenária em 2012.

Por em prática, de forma extensa, mundial, a agricultura sustentável, fundamentada em conceitos de agroecologia é o fundamental. E o relatório aponta algumas ações específicas:

1. A manutenção ou a criação de uma maior diversidade de habitats dos polinizadores em paisagens agrícolas e urbanas;

2. Apoiar práticas tradicionais que gerem ” patchness” que são manchas de habitat protegido, rotação de culturas, consórcio de cultivos para controle biológico de pragas e, a coprodução entre a ciência oficial e o conhecimento local indígena;

3. Intercâmbio de conhecimentos entre os agricultores, cientistas, indústria, comunidades e público em geral;

4. Redução drástica do uso de inseticidas, especialmente dos neonicotinoides, os sistêmicos e os persistente;

5. Controle biológico de pragas

6. Melhoramentos na apicultura, pelo desenvolvimento de controle de patógenos, melhor regulamentação de seu comércio e o uso de polinizadores comerciais (criados em laboratório).

“A ameaça crescente para os polinizadores, que desempenham um papel importante na segurança alimentar, fornece outro exemplo convincente de quão conectadas estão as pessoas ao nosso meio ambiente, e quão profundamente entrelaçado está o nosso destino está com o do mundo natural. À medida que trabalhamos para a segurança alimentar, é importante para abordar o desafio com uma consideração dos impactos ambientais que impulsionam a questão. o desenvolvimento sustentável, incluindo a melhoria da segurança alimentar para a população mundial, exige uma abordagem que envolve o meio ambiente.” Achim Steiner, Diretor Executivo do Programa das Nações Unidas para o ambiente (UNEP)

“Os desafios complexos e integrados de desenvolvimento que enfrentamos hoje exigem que a tomada de decisão se baseie em dados científicos sólidos e leve em conta o conhecimento indígena e local. Esse fato vai contribuir para escolhas políticas mais bem informadas que irão proteger os serviços ecossistêmicos que são importante tanto para a segurança alimentar e erradicação da pobreza. o PNUD está proativamente contribuindo para a promoção do diálogo entre cientistas, decisores políticos e profissionais sobre este e assuntos relacionados, apoiar os países na implementação da 2030 Agenda para o Desenvolvimento Sustentável. ” Nik Sekhran, Director / Chefe da profissão, do Desenvolvimento Sustentável, Escritório de Políticas e de apoio ao programa, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

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Fonte de referência: ipbes




Redação greenMe

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