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A vitória-régia ou victória-régia (Victoria amazonica) é uma planta aquática da família das Nymphaeaceae, nativa da região Amazônica e é conhecida como Lírio Tropical da Água. Sua beleza exótica é registrada em fotos, cartões-postais e vídeos. É a marca registrada da paisagem Amazônica.
Mas você sabia que a vitória-régia também é uma PANC (Planta Alimentícia Não Convencional), e que suas sementes, caules, talo e flor podem ser consumidos como alimento? Saiba mais sobre a vitória-régia e como ela pode ser utilizada na alimentação.
A doutora em Química de Produtos Naturais, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Patrícia Hidalgo, tem coordenado uma pesquisa científica sobre essa planta como alimento, buscando avaliar a composição química e atividade biológica dela e de outros frutos e outras hortaliças conhecidas como Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), que fazem parte de um grupo de vegetais que podem ser alimentos, mas que as pessoas em geral desconhecem e, sendo assim, o consumo destas plantas chega a ser raro ou pouco habitual.
O objetivo da pesquisa é impulsionar o setor hortifrúti de espécies amazônicas, fornecendo de informações científicas sobre o valor nutricional, composição química e segurança alimentar dessas plantas para consumo na alimentação.
Sara Loiola graduada em Química pela UEA, pesquisando para saber se a Vitória-Régia pode ser um alimento funcional, constatou que esta planta tem propriedade antioxidante.
A proposta dessa pesquisa é estudar as PANCs não só como alimentos, mas também como matéria-prima para suplementos e remédios.
Além desses fatores, através desse estudo, visa-se valorizar as plantas da região para a alimentação, pois vários alimentos consumidos na região vêm de fora.
A Amazônia tem uma diversidade de frutas, hortaliças, que são negligenciadas e até desconhecidas para consumo como alimentos.
Levando as PANCs dessa região ao conhecimento das pessoas, gradativamente se promove a aceitação e o consumo dessas espécies vegetais. Isso aconteceu, anteriormente com o açaí, a castanha-do-Pará, cupuaçu, entre outros, que de desconhecidos ficaram famosos no mundo inteiro.
O termo e conceito de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) foi criado por Valdely Kinupp, autor do livro Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) no Brasil, biólogo e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, Campus Manaus-Zona Leste (IFAM-CMZL) .
Segundo este professor, é muito comum as pessoas acharem que as PANCs são plantas que nascem somente espontaneamente, entretanto algumas espécies de PANCs são cultiváveis, por isso é preciso ter o conhecimento dos componentes e princípios dessas plantas, a fim de evitar qualquer tipo de intoxicação e reação adversa.
Além disso, cada PANC tem sua forma de preparo. Tem plantas que podem ser consumidas in natura, na forma de suco, em saladas e outras que podem ser cozidas ou refogadas.
Para Valdely Kinupp, é importante a divulgação dessas plantas para se cultivar ou colher vegetais típicos da região, que possam ser utilizados como alimentos. Diz ele:
“Se você trabalhar com as PANCs de forma agroecológica, vai continuar preservando a natureza e mantendo a floresta em pé”.
A origem do nome da planta vitória-régia se deve ao fato de o explorador alemão Robert Hermann Schomburgk ter vindo ao Brasil, à serviço da Coroa Britânica e levado as sementes dessa planta para os jardins de um palácio inglês.
Os ingleses em homenagem à Rainha Vitória, deram o nome à essa planta de vitória-régia.
Outros nomes da vitória-régia: aguapé-açu, jaçanã, nampé, forno-de-jaçanã, rainha-dos-lagos, milho-d’água, cará-d’água, apé, forno, forno-de-jacaré, forno-d’água, iapunaque-uaupê, iaupê-jaçanã, irupé, uapé e aguapé.
A folha da vitória-régia parece com o forno de se fazer farinha de mandioca, por isso é também conhecida pelos nomes: “forno”, “forno-de-jaçanã”, “forno-d’água” e “forno-de-jacaré”.
Devido ao fato, do rizoma desta planta ser comestível, teve origem o nome “cará-d’água”.
Por suas sementes servirem para a produção de fécula, também é conhecida com o nome de”milho-d’água”.
A vitória-régia apresenta uma grande folha em forma de círculo, com bordas levantadas e fica localizada sobre a superfície da água.
A folha desta planta pode chegar a até 2,5 metros de diâmetro e suportar até 40 quilos, se forem bem equilibrados em sua superfície.
A floração da Vitória-Régia acontece desde o início de março até julho.
A flor desta planta só abre de noite e possui várias cores que podem ser branca, lilás, roxa, rosa e amarela.
O perfume de sua flor produz uma fragrância noturna adocicada que lembra a do abricó.
Os europeus chamam a vitória-régia de “rosa lacustre”, porque sua flor mantém-se aberta até o início da manhã seguinte.
Quando as flores da vitória-régia se abrem, seu odor atrai os besouros polinizadores (Cyclocephala castanea).
A flor pode alcançar trinta centímetros de diâmetro, sendo a maior flor das Américas.
O cabo da folha da vitória-régia é bem longo, podendo chegar de um metro e oitenta a até dois metros.
Valdely Kinupp foi entrevistado pela reportagem da Oxigênio para mostrar as novas alternativas de uso e consumo da planta vitória-régia. Já imaginou comer geleia ou pipoca derivados dessa planta amazônica?
Segundo suas informações, pode-se utilizar as flores para fazer geleia, salada, enfeitar pratos. É considerada uma PANC de rio e, por ser uma planta de pétala carnosa, suculenta, pode substituir a endívia.
As sementes, que estão dentro do seu grande fruto, além de se parecerem com o milho, estouram e viram pipoca. Além disso, com essas sementes dá para fazer farinha, mingau e outros produtos mas, para expandir essas alternativas, há necessidade de mais estudos sobre essa planta.
Outra parte da planta que pode servir como alimento é a batata extraída de seu rizoma (caule) subterrâneo, quando ela está bem adulta.
O desejo deste biólogo é tornar esta planta conhecida para as populações indígenas e ribeirinhas, para ampliar as alternativas de alimentos.
Ele acredita que pouquíssimas pessoas têm conhecimento das utilizações alimentícias da vitória-régia.
E isso se dá por conta da urbanização que vem ocorrendo em regiões da Amazônia e a que ele se refere como Transtorno de Déficit de Natureza-TDN, que se caracteriza pelo fato de as pessoas que nasceram e que vivem na região, estar perdendo o contato e o conhecimento da Natureza do local e até das tradições e informações transmitidas pelos antepassados, familiares e pessoas mais velhas da comunidade.
Esse fato faz com que se deixe de aproveitar alimentos vegetais abundantes na região para consumir alimentos industrializados e processados.
Kinupp escreveu o livro Plantas Alimentícias Não Convencionais no Brasil, em parceria com o co-autor desse livro e engenheiro agrônomo Harri Lorenzi.
O livro contém 1.053 receitas ilustradas, como as receitas com a vitória-régia, por exemplo.
As receitas contidas neste livro foram criadas pelos autores através de pesquisas resultantes de trabalho de etnobotânica econômica de 50 anos até 200 atrás. As Informações contidas no livro foram encontradas em livros de literatura com trabalhos clássicos muito antigos, alguns destes de 20 a 50 anos atrás, e que se baseiam em registros de naturalistas dos séculos XVII e XVIII. Informações estas que estavam sendo esquecidas e perdidas, e que foram resgatadas pelos autores desse livro.
Em tempos mais remotos se consumia como alimento, plantas que hoje se ignora que servem para essa finalidade. O que está mudando essa realidade são as informações sobre o assunto transmitidas pelas mídias, por isso, é possível nos próximos anos que se consuma mais estes alimentos classificados como PANCs, e que fazer receitas culinárias com a vitória-régia, por exemplo, venha a ser algo mais comum.
Assim como a vitória-régia existem várias PANCs espalhadas pelo Brasil, como por exemplo: capuchinha, mapati (Uva da Amazônia), a taioba, o mangarito, a serralha, o dente-de-leão, o almeirão do cafezal, peixinho da horta, picão, falsa serralha, serralha de espinho, enfim, são centenas de espécies, tanto que no livro tem 351, com 1053 receitas ilustradas e 2510 fotos.
O objetivo da divulgação do uso das PANCs, como alimento é para que se possa diversificar as opções de consumo de verduras e legumes e deixar de exportar legumes caros como, por exemplo, o aspargo do Chile e da França ou legumes cultivados, mas não típicos da Amazônia, como o brócolis e a couve-flor, que por isso têm preços altos no mercado amazônico.
A Natureza nos provê de tudo que precisamos, mas a ganância humana leva ao abuso, escassez e a devastação dessa fonte de abundância que é a Natureza.
Assim, a importância da utilização do recursos naturais, de forma equilibrada, sustentável e ecológica.
Mahatma Gandhi já fez referência a isso, dizendo:
“Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência.
Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome.”
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Categorias: Alimentação, Alimentar-se
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